Vocês sabem como são as comadres. Uma vai, a outra vai atrás. Ou isso eram as vacas? Ah, sei lá. O fato é que quando Flá me mostrou este
Sócia da Light eu fiquei emocionada. Juro. Do olhinho encher d’água. Quando ela disse que eu era bem-vinda a participar quando quisesse, então... Demorou nada nada e cá estou eu, me enxerindo.
O fato é que há algo que me atormenta na TV ultimamente. Eu quero saber qual a imagem, afinal, que a propaganda faz da dona de casa. Tá certo que as imagens mudam a velocidades vertiginosas nestes tempos de superinformação; ok que ninguém mais compra a ideia de uma mulherzinha de bobs no cabelo, avental e vassoura na mão. Só nós, claro.
Mas por que toda dona de casa tem que ser morena, para começar? Pode ver. As boas mães que protegem seus rebentos contra os insetos e as bactérias, as mulheres responsáveis por tirar as manchas bizarras das camisas da família (quem, meu Deus, quem enfia um morango, uma amora ou coisa que o valha debaixo da gola de uma pólo e espreme?!), até as donas de casa que trabalham fora e, no fim do dia, garantem a refeição da trupe com um bagulho embalado a vácuo numa caixinha: nenhuma é loira.
Vai ver é verdade que os homens preferem as loiras, mas se casam mesmo com as morenas. De preferência, as de cabelos lisos e médios.
(Flá, se tudo der errado, toca fazer propaganda! Você é bem mais espontânea que a mãe do menino que descobre a mancha no uniforme com o ônibus da escola na porta).
Curiosamente, âncoras de telejornais loiras também são exceção. Na Globo, nunca existiram (não me venham com a moça do tempo). Hum. Eu sou loira, mulher, dona de casa e jornalista. Não que meu sonho seja informar à nação que o preço da gasolina vai subir, mas será o momento de procurar um plano B?
(Flá, se tudo der errado, posso ser sua empresária?)
De qualquer forma, acho que é mais fácil descobrir o misterioso porquê da hegemonia castanho-escura entre as mães-donas-de-casa do universo do reclame do que entender que picas se passou pela cabeça da equipe que fez a propaganda de um produto de limpeza de privadas com a Ingrid Guimarães. Não sei se vocês já viram, mas é algo assim:
Ingrid Guimarães, de microfone em punho e cameraman a tiracolo, toca a campainha de uma casa. Moça abre a porta.
- Oi, Julia!
- Oi, Ingrid!
- Posso dar uma olhadinha no que você usa para limpar seu vaso sanitário?
E elas entram na casa da mulher.
Gente, sério. Se eu atendo a campainha e dou de cara com a Ingrid Guimarães e um cameraman, e ela me pergunta se pode ver o que eu uso para limpar a privada da minha casa, seria a situação mais surreal da minha vida. E olha que eu já fui a festivais de reggae, o que considero deveras surreal. Como essa tal Julia encara tudo com tanta naturalidade?
Se isso acontece comigo, eu procuro a câmera da pegadinha ou o microfone do Videoshow. Eu fico 30 segundos tentando entender o que ocasionou uma visita tão surreal. A última coisa que eu faço é sorrir naturalmente, falar “oi, Ingrid!” e deixar ela entrar e ver minha privada.
Mas o que eu sei sobre limpeza da casa? Nada, claro. Afinal, sou apenas mais uma loira.
* * *
Clarissa Passos, minha amiga, irmã e sócia - não da Light, mas do saudoso
Garotas que Dizem Ni -, fez hoje essa participação especial indignada contra as propagandas de produtos de limpeza. Aguardem outras participações dela - sempre muito limpinha e asseada, apesar de loira.