E depois eu percebi que a gente até que tinha feito bem, porque muitos vieram, leram e se amarraram. Gostavam do nosso tom, das nossas mentes, do nosso jeitinho suburbano de ser e viver. A coisa cresceu, rendeu, ganhou fama, poder e riqueza - muito mais da primeira do que da terceira, diga-se. Mas quem ligava pra isso? A gente tinha fãs! Fãs, bicho! Eu, com fã?? Aquela menina que na sexta série era acossada pelos populares por usar óculos de aro azul e rabo-de-cavalo COM tiara?
Pois foi. E eu curti pacas. Mas confesso que lá pelo quarto, quinto ano da coisa, ter um monte de gente sabendo minha comida predileta e a cara da minha filha no ultrassom cansou um pouco. Eu era assim, fazer o quê, abria a porta, a janela e o coração. E muitos entraram - inclusive uns malucos de carteirinha que queriam saber onde eu morava... Filme do Wes Craven, aquilo.
Quando acabou, eu peguei meio que um traumazinho de internet. Não, não da internet toda, só daqueles sites que me pediam nome, RG e estado civil. E mais ainda daqueles que pediam "adicione fotos!", "entre nessa comunidade!", "tenha 1 milhão e 800 mil amigos que você nunca viu ao vivo!". Eu entrei na rede social, mas com medo.
Fiz um Orkut lá, não queria ficar tão por fora. Fiz também um álbum virtual de fotos, pros amigos de longe verem como crescia minha filhota. E depois parei um pouco de fazer coisas sem sair da cadeira. Todo mundo me deixou quieta. E, quieta, eu fiz um blog e contei pra uns poucos. Mas aí tem isso de Twitter, Face... face o quê, mesmo?
Eu não sabia se Facebook era de ler, de comer ou de passar no rosto. Nem queria saber, também. Ouvia dizer coisas como "minha fazenda no Facebook tem 11 ovelhas!" e entendia nadinha. Só achava bem estranho porque, ué, aquela pessoa morava num quarto-e-sala e tinha ovelhas? Onde, no armário debaixo da pia?
Ah, eram ovelhas de mentira. E plantações de mentira. E cidadezinhas de mentira também com amigos de mentira visitando-as. MUITO esquisito. Eu sou dessas que ainda gosta de ir na casa do fulano, levar um bolo e tomar um café na xícara, não entendo muito de bate-papo online onde a gente se presenteia com caprinos e pinheiros.
Bom, mas a coisa estava lá e eu adorava é tirar um sarrinho. Questionava os amigos, por exemplo, como era terminar uma amizade via Facebook. Eu, quando quebro o coco com alguém, bato logo o telefone na fuça! (Por isso, inclusive, mantenho um telefone com fio aqui, já que é estúpido bater o telefone na cara de alguém apertando apenas um botão... não tem o mesmo punch). No Facebook a gente faz como, clica pra eliminar? E a pessoa desaparece da sua vida pra sempre? Quem nos dera, hein?
Mas os amigos nunca ligavam pros meus sarrinhos - e, pior, me esculhambavam por não estar nessa onda da conectividade. Diziam que era absurdo, que eu estava perdendo MUITAS oportunidades. Ã-hã. O povo acha mesmo que se encontra trabalho pelo Facebook? Na boa, as pessoas só vão ali fuçar na vida alheia pra saber se aquela bitch do colegial ainda é bonita ou pra saber se um ex-namorado já casou. Só! Não se iludam.
Mas não adiantava, eles me cobravam muito, por exemplo, estar no Twitter - porém, se eu quisesse ser seguida por estranhos andaria sozinha no centro de São Paulo à noite, obrigada. Diziam ser o máximo. Eu declinei. Cobravam também, loucamente, um Facebook. "O que, você não tem Faceboooooook???" Parecia que eu não tinha fígado ou hipotálamo.
Mas que preguiça de me cadastrar de novo nesse mundo, meudeus, que preguiça! De novo contar pra todo mundo que o Clash é minha banda favorita, que eu leio A Sangue Frio anualmente e que pago um pau pro Jamie Oliver? Isso não acontece com todo mundo?!
Long story short, vamos dizer que, nessa semana, um curto-circuito deve ter acontecido no meu cérebro jovem porém muito rodado. Eu entrei para a seita de Zuckerberg. Uma garota jóia me convenceu com um golpe baixíssimo: "assim muito mais gente vai ler seus blogs". Maldição. Eu odeio quando essa galerinha antenada me pega no ponto fraco.
Eu quero ser lida, essa é a verdade. A fama veio, a fama foi e eu nunca liguei pra fama. Mas eu sempre adorei ser lida. Desde quando era uma jornalistinha inocente que escutou "blog" e achou que era um chiclete novo. Agora eu continuo jornalista, sigo escrevendo e amando meus leitores. E se muitos mais podem chegar via Facebook, que seja. "Me adicionem", gente! O que quer que isso signifique.
