Em geral o serviço prestado por essas moças (em geral são mulheres mesmo, que homem parece não topar com balde e rodo nem como profissão) envolve um esforço físico brutal, cuidados com cama, mesa e banheiro, cuidados com a criançada, funções de secretária e outras coisitas mais. Botasse um diretor de multinacional pra fazer a coisa toda com o mesmo salário de CEO, ele sairia correndo e gritando. Mas as moças fazem tudo. E tinham nem direito a FGTS.
Vai a gente, gente de escritório, ficar sem FGTS... E olha que a vida profissional de uma pessoa no escritório muitas vezes pode avançar até os 70 anos. O desgaste físico sofrido pelas empregadas deveria dar a elas aposentadoria mais antecipada que pra jogador de futebol. Eu bateria um bolão até os 40, mas não teria força pra encerar chão até essa idade.
Aí que todo mundo há de concordar com tudo isso, claro. Até que a coisa aperta pro lado da "patroa". Xiii... quando aperta pro lado da "patroa" ela fica desconcertada. Fica com dúvidas, ela fica nervosa, ela fica manhosa, ela ameaça mandar a moça embora porque vai custar demais... Mas não manda, viu. Porque tem gente com dependência de empregada.
Eu tenho amigas queridas e algumas conhecidas que sofrem disso aí. É questão de costume, acho. Acharam uma boa alma pra arrumar camas e passar roupa, lavar panelas e bater tapetes, cuidar dos pimpolhos e até cozinhar um feijão dos deuses. Facílimo acostumar com isso! A vida fica mais ajeitada e organizada quando a empregada dá conta de tudo e mais um pouco. Mas não pode abusar, hein? Senão, quando acaba, vem a abstinência de empregada.
Uma das minhas amigas mais queridas me dizia outro dia que a rotina dela anda tão louca, mas tão louca, mas tão louca que ela nem pode pensar na possibilidade de alguém da família ficar doente. Se isso acontecer, danou-se. Principalmente se a empregada ficar doente. Aimeudeus, se a empregada ficar doente, f* tudo!
Muita calma, gente. A empregada às vezes fica doente. E às vezes não fica, mas fica o filho dela ou o marido, e ela precisa cuidar. Ou ela perde o trem. Ou não tem trem. Ou ela precisa de um descanso e tira férias. É a vida, ué! A vida dela! O mundo não vai acabar, eu prometo.
Tem gente que, quando a empregada não está, sabe nem onde encontrar a faca de pão (ou o caminho da lavanderia). Outros entram em delirium tremens por não saber o que fazer com o próprio filho. E há quem telefone em desespero pra agências especializadas caçando uma folguista. O mundo não vai acabar, eu prometo.
Eu sei que a vida de todo mundo ficou esquematizadíssima e, quando sai algo do prumo, dá aquele pânico. Eu sei que é fácil pra mim falar, porque eu trabalho em casa e... oh wait: na verdade, pra quem trabalha em casa e precisa cuidar das crianças e olhar o arroz e entrevistar uma pessoa e atender a porta e a empregada que vem uma vez por semana falta... ah, que se dane, vira tudo uma zorra mas a gente sobrevive, viu? Come um quadrado de chocolate meio amargo, entorna um copo de tubaína e segue o jogo.
Acho que usar os serviços da moça é válido e útil, assim como respeitar os direitos dela é imperativo. Mas a relação não precisa virar essa dependência de amor adolescente. Um conhecido ficou horrorizado comigo outro dia porque eu disse que ter ajuda uma, duas vezes por semana vá lá, mas que eu achava exagero necessitar de empregada todo dia, das 8h às 18h, rebocar a moça consigo pra almoçar fora aos sábados e quiçá levar junto como apoio nas férias. Ele disse que era impossível ele e a esposa cuidarem da casa e das duas crianças sozinhos. Eu digo que nada é impossível e que, sei lá, cada um com seu cada um, mas então eu acho que essa empregada dele deveria ganhar R$ 8 mil por mês.
Bom ter ajuda e tals, mas fazer sua vida depender da existência de outra pessoa e ainda ratear pra pagar o que ela merece? Menos, vai. Um dia ela pode até arrumar outro emprego melhor e se mandar pra sempre, sabe? Calma, eu sei, é uma realidade dura. Calma, calma, eu não quis dizer isso... Inspira, expira, inspira...
