Algumas das amiguinhas da Sasá assistem novela, como Carrossel (no SBT) e Violetta (no Disney Channel). Eu vetei ambas em casa porque a primeira é bem porcaria e termina tarde e a segunda é bem porcaria e... é muito porcaria. Eu considero porcaria aquilo que eu não assinaria como escritora: o texto é chinfrim, os clichês correm soltos, o enredo é manjado e um bocado babaca. Nem são engraçadas. Porque a gente até aceita assistir uma porcaria, mas que seja pelo menos uma porcaria engraçada, poxa!
Novelas para a idade dela não são. Mas os seriados são. Aqueles que chamam de "enlatados americanos" - que nós, adultos, conhecemos tão bem do Sony ou da Warner e os pequenos conhecem dos canais infanto-juvenis. Quer dizer, nem todos conhecem: recentemente a Sabrina veio me contar que uma das amigas fica chateada que os pais não a deixam assistir seriados na TV a cabo. Não sei o motivo exato, mas suspeito do velho combo "é uma droga globalizada". São mesmo. Mas são engraçados e os diálogos e enredos costumam ser bem acertadinhos. Eu rio. Sabrina também.
Aí a gente chega na Hannah Montana. Enquanto série, a personagem nunca chegou aqui em casa. Acho que quando o seriado estrelado pela cantriz adolescente Miley Cyrus passava na TV, Sasá era pequena e ainda curtia mais um Backyardigans do que "filmes de gente viva", como ela chama (o que não é desenho). Passou batida toda febre de Hannah Montana. Anos mais tarde, já pelos 6 anos e meio, ela se engraçou com outras séries do tipo, como "Zack & Cody", "Jessie" e "iCarly". Vinha assistindo uns aqui e ali até que, um dia, o canal passou a propaganda de um "filme de gente viva" que estrearia logo. Ela pediu pra ver, eu deixei.
Sentei pra ver junto vários pedaços e entendi que era um longa da Hannah Montana, com a personagem pirando na fama e sendo levada de volta às raízes no meio rural nos Estados Unidos. Era engraçadinho. Na cena descrita lá no primeiro parágrafo, eu vi Sabrina de olhos estalados na tela. Es-ta-la-dos. O queixo estava até meio penso na cara. Ficou embasbacada com a menina e o violão.
Sasá já tinha, naquele mesmo mês, ficado animada com "Escola de Rock", visto no DVD. Mas a batida rock'n'roll estava muito avançada, acho; o country melódico fez melhor o trabalho de enaltecer os instrumentos e a canção em si. O rock plantou, a Hannah Montana colheu.
No Natal, a criança esqueceu qualquer boneca, jogo e outros e escreveu um calhamaço de cartas pro Noel trazer, porfavorzinho!, um violão de presente. Noel camelou pelas ruas, mas achou e trouxe o violão. No início das aulas, lá foi Sabrina driblar esportes e artes e se inscrever, decididamente, na aula de musicalização. Ela entendeu que pai e mãe não ajudariam nada nessa hora - porque eu, por exemplo, sou ruim até de tocar triângulo. Se o mundo musical dela dependesse dos parentes, ia a lugar nenhum. As aulas ensinaram muito. E aconteceu uma paixonite pelo violino, um flerte com o piano... e um amor descarado pelo violão.
Esse ano Sabrina correu ainda mais adiante e se colocou na aula de violão mesmo, nada mais de chocalhos, reco-recos e apitos no caminho. Só ela, o violão e a determinação. (E um apoio de pé, um apoio de partitura, pasta pras canções, "deixa minha unha do dedão sem cortar pra poder tocar melhor, vai, mãe?). Não, unha comprida só lá quando eu não for mais a responsável pela integridade dela.
No mais, fiz de tudo o que podia pra esse sonho de se expressar com o violão virasse uma realidade. Mas eu sei que eu fiz muito pouco. Ela fez tudo. A Hannah Montana fez mais ainda. Bobamente, com aquele roteiro engraçadinho e muito carisma, Hannah Montana despertou uma criança para a música. E, só por isso, ela já vai estar sempre no meu coração.
Hannah Montana começou, agora todo tempo é uma Ode à Alegria