Apesar de ser bem conhecida no Sudeste, a expressão que dá nome a esse blog pode não acender nenhuma luzinha pelo resto do país (o que é uma ironia e tanto). Mas é simples explicar.
Lá no século passado, quando eu era criança, todo pai e mãe conhecia esse modo de dizer. Eles sempre estavam nos lembrando que não eram “sócios da Light” (como se a falta de danone na geladeira não nos lembrasse a toda hora que eles eram sócios de coisa alguma, tadinhos...). A Light era, então, a companhia elétrica mais conhecida do país – funcionava, mais precisamente, desde 1899 no Brasil, fornecendo energia aqui pras bandas de São Paulo e Rio de Janeiro.
Ela se chamava, naqueles tempos, “The Rio de Janeiro Tramway, Light and Power”. E, com esse nome inglês charmosão, como se percebe ao traduzir, a empresa mandava um bocado nos nossos trens, bondes e tomadas.
A Light fornecia energia, mas como nossos velhos não eram sócios dela (conforme repetido 1 bilhão e 234 mil vezes ao longo de nossas vidas), tinham que pagar pela tal. Daí eles sempre sacarem dessa ao ver que os rebentos largavam as luzes de casa acesas sem ninguém no cômodo – ou a Telefunken falando sem ninguém ouvir, a Brastemp aberta sem ninguém retirar comida dela, etc.
Os tempos passaram, mas a molecada nunca se emendou. Aqui em casa, não raramente é preciso explicar pro pessoal aquilo tudo – que dinheiro não dá em árvore e eu também não sou sócia da Light. A bem da verdade, aqui em São Paulo a corrente elétrica nem é mais fornecida pela companhia. Mas que graça teria dizer “caramba, gente, eu não sou sócia da Eletropaulo!”. O pessoal do Rio é que tem sorte, e ainda pode usar a máxima com verdade, já que por ali a Light ainda toca o bonde. E outros aparelhos.
Mãe, no entanto, é assim mesmo: mais vale uma expressão de efeito do que a veracidade dela. E eu seguirei com o meu bordão, conforme a tradição familiar manda, pra ver se algum dia essa turma se emenda e mete na cabeça que mamãe não é sócia da Light – assim como não eram nossos avós e bisavós.
* * *
UPDATE: Eu não sou de fato sócia da Light, assim, no papel. Nem da Light, nem da Eletropaulo, da Cemig, de Itaipu ou do Ministério das Minas e Energia. O que, desde ontem, parece ser uma boa ideia! Aposto que em 1899 esse tipo de chacota não acontecia... Mas obrigada, autoridades! O banho frio de ontem - e todas as palavras bonitas que eu disse enquanto o tomava - eu dedico a vocês!
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
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7 comentários:
Quando era pequena minha tia falava isto para os meus primos e eu ficava com um ponto de interrogacao na testa. Soh quando cresci um tanto me explicaram que o lugar no qual outra tia minha trabalhava, um dia se chamou Light! Ai as coisas fizeram sentido.
Nao tenho rebentos, mas normalmente sou eu quem puxa a orelha do povo de casa que costuma ser meio desleixado e rabudo deixando a luz acesa por todo canto que passa. Ate ontem nao usava tal expressao, mas acho que vou adotar, pelo menos minha mae vai entender do que estou falando. Quem sabe ela tb nao colabora, ja que tb adora uma casa bem iluminada.
Eu não sou sócio da Celg. Ainda bem, ou a Federal já teria me enquadrado.
Sempre escutei essa expressão da minha mãe e achava que era coisa lá de Porto Alegre, até ver uma conta na mesa com o nome escrito. E olha a ironia em falar de Light no dia seguinte de um apagão.
Ô Flá, já que você é sócia, aproveita e corta umas cabeças pela gracinha de ontem?
Beijo!
Flá, deixa a produção do Gugu ver este post. Eles vão achar que você previu o apagão.
A do 'Dinheiro não dá em Árvore' também era bastante utilizada pela minha mãe quando eu pedia pequenas coisas.
E concordo com a Clara - quando perceberem que o blog iniciou alguns dias antes do apagão, sua vida vai mudar, Flá. Ou melhor, Mãe Flá.
Bem,como mãe, declaro que o bordão é devidamente pronunciado em minha casa,até pq,acho tão legal "Não sou sócia da Ligth" ,que repito muitoooooo,inclusive para amado marido.
Nhé.
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