Engraçado como existem umas coisas que ficam marcadas na nossa memória infantil mesmo sem fazer parte do mundo de uma criança. Três itens de adultos, todos pertencentes à minha mãe, por exemplo, sempre vão me lembrar daqueles tempos e dela - mesmo eu tendo mais 34 anos de lembranças dessa doçura de mulher.
Minha mãe não era perua de sociedade, era uma professora trabalhadeira que carregava dois turnos de aulas pra amealhar um salário. Mas a minha mãe sempre teve classe. É diferente, sabe, ser fino e ter classe. Fino a gente fica gastando dinheiros em lojas e montando um visual. Classe nasce conosco. Nasceu com a minha mãe. Daí ela ser dona dos três objetos que tanto ficaram marcados pra mim, desde a infância, como coisa bem chique e de desejo.
Quando ela ia sair com o meu pai pra um evento de trabalho, jantar com amigos ou um casamento, ela lançava mão do seu perfume predileto. O frasco de Opium da minha mãe deve ter durado, sei lá, uns mil anos... E daí o cheiro de especiarias daquele vidro sempre, sempre ter ficado impregnado na minha mente como "cheiro de balada".
Nessas ocasiões, ela às vezes também usava uma tecnologia avançadíssima: o babyliss. Naquele tempo não se chamava assim, era só um secador modelador de cachos mesmo. Mas eu sonhava tanto usá-lo, viu. Confissão: um dia roubei do armário dela e, às escondidas, liguei e tentei enrolar um chumaço de cabelo. Fritei a orelha no primeiro movimento e levei um baita esporro. Mesmo assim, o secador fininho sempre ficou na minha mente como algo especialíssimo, típico da minha mãe.
A última lembrança é o topázio. Minha mãe ganhou há milhares de anos, do meu pai, essa linda pedrona preciosa do tamanho de uma azeitona gorda. Não tinha corrente acoplada nem nada. Era só um pingente, a pedra segura pelo metal e uma argolinha. Eu sonhava com o tesouro amarelo como se fosse uma bucaneira. Quando ela abria o armário e tirava as preciosidades, eu voava direto na caixa onde estava o topázio pra "ver com a mão".
Nunca usei Opium e nem fiz cachos nos cabelos com babyliss. Mas na minha formatura de colégio, a minha mãe me emprestou o topázio - e eu o costurei em uma fita preta e usei no pescoço, parecendo uma dessas estrelas de novela mexicana (chamada... "Topázio", talvez?). Ficou lindo. E a memória de criança dos objetos de gente grande nunca mais me fugiu.
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
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4 comentários:
Ou seja, tua mãe era Chanel. Bem se nota que tua classe não teria saído do nada.
Ó, que o Dono da Casa vai te visitar com um machado uma hora dessas, hein, N.! :-D Mas eu gostei, brigada! ;-]
Eu queria ter tido um roupão bem fofão, marrom, aveludado, que nem meu pai tinha e nunca usava... Eu vesti uma úniva vez, ficou enorme em mim, eu tinha uns seis anos. Depois ele deu na campanha do agasalho...
Minha mãe tinha um anel de zirconia, mas que parecia um diamante que eu achava lindo. A pedra teimava em cair e sempre que isto acontecia, rolava uma caça ao tesouro em casa! Uma de minhas tias tem um perfume amadeirado que eu adoro até hoje. É raro, mas quando passo por alguém na rua que usa o mesmo perfume, tenho vontade de largar tudo e ir correndo pra Santos abraçar ela. :D
Adoro essas lembranças!
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