segunda-feira, 10 de maio de 2010

E eu e você, o que nós faríamos?

Todos os dias eu me pego questionando, ponderando e me debatendo com a cidadania. O que é isso, como praticar, como fazer os outros praticarem, por que é importante - e talvez, principalmente, se é normal sofrer quando vejo ela não ser nem praticada, nem respeitada. Não sei se é porque eu sou mãe, agora quase que duas vezes, ou se isso já vivia em mim. Mas eu sei que, ultimamente, a sociedade e sua vida coletiva vêm me importando muito. Muito mesmo. Demais. Ei, você deixou a torneira aberta hoje ao escovar os dedos, seu mané?!

Respiro fundo ao ver que o menino do mercado coloca as compras daquela senhora nas sacolas plásticas - mas só dois, três itens em cada uma. É um martírio. Assim como é doloroso ver, na avenida aqui perto, papéis, garrafas e toda sorte de porcarias jogadas nos cantos das calçadas. Assim como me sobe o sangue notar que aquela mulher ali deu um tranco no bracinho do filho só porque ele estava sendo saliente. Assim como me corrói por dentro ver um rapaz xingar o outro no trânsito e perceber que, aimeussais, ele está falando no celular enquanto dirige e vocifera!

Às vezes eu saio de mim e arrisco a pele. Abro o vidro do carro e grito "mas que falta de educação, criatura!!" para a mulher que jogou a ponta do cigarro pela janela. E, ao ver a moça se debater para avançar na calçada onde o carro estacionou de atravessado, fechando a passagem para ela e seu carrinho de bebê, coloco a cabeça pra dentro da loja em frente e cacarejo sem parar pra que a vendedora instrua seus clientes a não serem uns folgados de merda. Se eu tenho medo de represálias? Morro.

Mas aí fica assim, né, essa coisa da convivência-cidadã: se a gente morre de medo do confronto, de dizer ao outro "escuta aqui, você está sendo um folgado de merda", pra onde vão os limites? Com certeza, tem gente que só se porta assim, sacanamente, porque sabe que ninguém vai se rebelar e lhe dizer umas verdades. Ou chamar a polícia. Ou se acorrentar na árvore. Ou gritar no megafone pelas ruas. E se a gente, como grupo, se impuser? Será que o segredo da cidadania não está aí, em demonstrar?

Na TV, sempre me pego vendo, obcecada, esses programas sobre modos mais ecológicos, coletivos e engenhosos de levar a vida - incomodando menos ao ambiente e aos outros. Me tocam muito, esses programas. E recentemente achei um que se chama "O Que Você Faria?", que vai ao ar no GNT (sou incapaz de dizer os horários, porque o GNT também o é), e que quase me leva às lagrimas todo santo episódio.

A proposta tem como base uma "pegadinha", mas não aquelas imbecis, pra rir. Elas são de preocupar. A produção cria as situações com atores pra testar a reação do público. Na loja de conveniência, colocam um vendedor e uma cliente dissimulados - ela vestida como muçulmana, ele se portando como um racista cretino, se recusando publicamente a atendê-la insinuando que ela "compactua com esses terroristas". E o que os demais clientes, esses de verdade, fazem nessa hora?

A gente pode achar que subiria no balcão e daria com força na cara do fulano, mas não sei... O que você faria? Teve gente que se esquivou. Teve gente que defendeu feericamente a moça. Teve gente que... bom, teve gente que defendeu o vendedor e mostrou um lado da raça humana que me ressente muito.

Em outras situações, adolescentes (atrizes) estão num parque incomodando uma outra, sozinha e nerdinha. Provocam, insultam, acuam. Benditos sejam os que ouviram, pararam, se impuseram, protegeram, discursaram. Quantos de nós faríamos isso, será?

E na rua, quando a atriz faz a baliza e dá uma arregaçada no carro de trás, descolando o para-choques, e mesmo assim sai apressada, ignorando de propósito o que fez? Quantos de nós a enfrentaríamos e chamaríamos um guarda, ou defenderíamos o dono ausente do outro veículo?

Eu não sei. Mas eu gostei de ver aquele grupo de mulheres que parou, fez um sermão pra "barbeira", telefonou pra polícia e esperou ali, mesmo com filhos a tiracolo, pra ver se o problema se resolveria. Disseram para o apresentador do programa, depois, que "era o certo a fazer. E foi bom as crianças verem tudo, pois assim aprenderam algo".

Eu? Eu acho que tentaria dizer pra "barbeira" que vi o acidente e que ela deveria fazer o certo. Se ela fosse embora mesmo assim ou reagisse, acho que eu seguiria em frente - mas voltaria logo depois ali e deixaria um bilhete no carro parado, com a placa da filha da mãe descrita.

Gostaria de pensar que eu armaria um fuá em qualquer uma dessas situações. Que botaria o dedo na cara dos anti-coletividade, dos suspeitos, dos racistas e dos bullies. Gostaria de ter 100% de certeza sobre o que faria, mas só tenho uns 85%. Felizmente, acho que estou cada dia mais pensativa sobre isso, me preparando para os confrontos que tiver que assumir por uma sociedade mais cidadã.

Mas e você? Já pensou sobre o que faria?


Trecho de um dos programas "O Que Você Faria?". Bom, nesse caso eu acho que me rebelaria instantaneamente, sim. Além de chamar a SWAT pra conter a corretora from hell

8 comentários:

Taciana disse...

Eu já vi esse programa e não sei o que faria, sinceramente. O episódio que vi foi uma adolescente 'esculachando' com a babá dela na maior altura em uma lanchonete. Poucas pessoas foram defender a babá e brigar com a menina. Talvez eu só ficasse com raiva e, ao passar por perto, falasse algo recriminando a pivetinha. Mas não pararia pra defender como uma outra moça fez e que, depois ao falar com o apresentador chorou dizendo que não aguentou a maneira que a babá estava sendo tratada.

Flá, Feliz Dia das Mães atrasado.

Kekeite disse...
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Sócia da Light disse...

Taci, eu acho é que, no afã de respeitar muito o espaço dos outros e na intenção de não armar barraco, às vezes a gente se encolhe, sabe? Mas esse programa aí me lembrou que estar atento à comunidade e principalmente ao certo X errado é importante. E é válido se manifestar, sempre. :-)

Kekeite, acho que família nunca é 100%, viu? Eu sei que minha não é! Pensamos diferente em muuuitas coisas, e eu sei que eles reprovam comportamentos meus - e eu reprovo incontáveis comportamentos deles. Mas a gente não deixa de falar alto o que pensa. E acho que isso foi o que melhor aprendi ali naquele núcleo de novela. :-D Com a Sabrina, eu tento fazer o mesmo que você: melhorar onde acho que me estragaram. Haha!

Unknown disse...

Tem uma banda que canta assim;
"To hell with th devil".
Acho q se encaixa nesse caso e todos quantos há falta de educação, bom-senso, respeito, etc.

Nanael Soubaim disse...

Flávia, ser bom e justo é muito bem aceito nos noticiários, ao vivo as pessoas preferem apoiar e até votar nas perversas, é um modo de se anistiar pelos malfeitos.

Kekeite disse...

Oi Flá! Você poderia excluir o meu comentário acima? Seria possível?

Sócia da Light disse...

Feito, honey. ;-]

Keleite disse...

Obrigada! Motivos pessoais, desculpa o desande. Beijinho!