Alex tem dois dos restaurantes mais famosos de São Paulo, DOM e Dalva e Dito, que já saíram em tudo quanto foi publicação gastronômica daqui e de fora. Uma vez - não como civil pagante, claro - eu já fui jantar magicamente no DOM. Como disse ao próprio chef na saída, ao lhe apertar a mão, a alegria da refeição não foi nem pelos pratos, que estavam simplesmente deliciosos, mas porque toda a degustação de oito porções foi como uma viagem, uma experiência. Foi bom demais mesmo - e ali eu entendi o porquê da fama do Alex. Ele tem a manha.
Só que aí, né... Bom, eu suspeito que esse negócio de manter o negócio custe muitos dinheiros. E tem a casa pra pagar, as escola dos meninos, uma viagem de férias pra Caxambu... E o Alex deve ter ficado tentado com o volume de verdinhas, umas sobre as outras, que a Knorr ofereceu pra ele ser porta-voz desse novo produto. Aceitou, assim, dizer em público que caldo pronto é uma boa pedida pra... pra... pra quê, mesmo?
A panela de carne que ele remexe no comercial parece apetitosa bem antes de ser colocada sobre ela aquela maçaroca esquisita. Se queria dar um toque de mais sabor, o nobre consumidor também poderia usar caldo feito em casa em vez de apelar pra gelatinazinha cor-de-burro-quando-foge. Mas que nada. Alex achou por bem recomendar o caldo pronto, coisa que eu não compreendo.
Caldo pronto tem sabor de graxa, pra começo de conversa. Aqueles tradicionais, quando "dissolvidos" (porque graxa não dissolve em água mesmo), formam uma borra nas laterais da panela, parecendo piscina de clube depois que a horda lambuzada de protetor solar mergulhou o dia todo. É meio nojento, vamos ser sinceros - e um recurso que só usa quem está no desespero de causa, com as visitas pra chegar e sem sal na despensa.
O novo caldo parece se dizer mais "natural". Porque é molenga, talvez, e não um tablete duro com cara de biscoito canino? Mas não é. Nada que fica na prateleira do mercado sem refrigeração e guardado num pote plástico com rótulo pode ser, assim, supernatural. Talvez tenha menos conservantes, mas ainda assim é um produto de fábrica, estabilizado e conservado e adicionado de trocinhos químicos.
Não que eu seja lá uma natureba de carteirinha que refuta caixinhas, pacotes e latas, não é isso. Mas, poxa... é um caldo, gente. Pra fazer um de verdade, leva nem cinco minutos - basta colocar um litro de água pra ferver com os legumes, a carne selecionada, ervas se for o caso, sal, azeite... É cuisine for dummies.
Quando faço sopa pra Sabrina, já separo até um pouco do caldo e congelo, que é pra ter uma porção prontinha na hora de fazer um risoto ou coisa assim. Não precisa ser muito esperto - e nem pagar o preço do caldo industrializado.
Daí o Alex vem com aquela história de ser mais prático, ser mais rápido, "agradar ao paladar mais apurado"... Ah, faz favor, hein, chef? Vergonha na cara, né? Duvido que lá no DOM qualquer um esteja autorizado a meter caldo Knorr nas panelas de cobre. E nem me venha com a desculpa do "mas restaurante é diferente, e a 'dona de casa' não tem tempo...". Tempo se arranja. Quem quer comer melhor, arranja.
A genial agência de publicidade da Knorr ainda tem uma pachorra extra: no canal GNT, passa o anúncio de um novo programa do chef inglês Jamie Oliver, no qual ele vai aos Estados Unidos se horrorizar com a merenda escolar e alimentação geral da nação. Pois acaba o teaser, lá vem o "Apoio: novo caldo Knorr...". E a cara do Alex Atala ali, servindo comida com caldinho pronto pras crianças. Bom dia, incoerência!
Minha opinião é que é desnecessário pra um chef de tamanho sucesso se prestar à função de propagandista de coisas que ele mesmo, aposto, não usa. Mas, né, quem sou eu pra dizer... Só alguém que acha meio desagradável dar aos filhos uma comida feita com caldo de caixinha. E você, o que acha?
13 comentários:
Eu Fabiana Nascimento, 32, uso caldo de legumes Qualimax (aquele soltinho, em pó, porque acho que tem menos glutamato e nenhuma gordura). Mas, bem, hã, sei que não é lá muito saudável. Minhas enxaquecas diminuíram exponencialmente quando aboli o zazon da minha cozinha, sabia que tem uma doença que se chama intoxicação por glutamato monossódico? Sério mesmo. E eu já tinha comentado com o Marido que esse tempero deve ter muito mais aditivos do que os temperinhos em pó, porque pensa bem, os temperinhos em pó são completamente desidratados, ou seja, sem espaço pra proliferação de micro-organismos (não sei usar hífem) e esse aí é uma meleca que mais parece uma placa de petri.
Outra coisa que me deixou espantada foi aquele novo produto que põe no arroz pra ele ficar mais branco. Será que é hipoclorito, a famosa cândida? Morro de medo de comer um arroz com aquilo e me tornar, tipo, um Hulk, um Flash, um Homem Aranha, devido os efeitos nocivos dos agentes tóxicos.
Ah, ainda tem todos os cosméticos... Recomendo fortemente esse filminho: http://storyofstuff.org/cosmetics/
Enfim, eu tenho medo [/reginaduarte]
Hahaha! Obrigada pelo depoimento, companheira Fabiana Nascimento. Palmas pra ela, que já está há X dias sem sazon. :-D
Fabi, a dor de cabeça pode mesmo sarar pela abolição desses produtos. A intoxicação por glutamato monossódico também é conhecida como "síndrome do restaurante chinês", e causa uns piripaques, viu. Eu amo comida condimentada - chinesa mais ainda - mas passo longe desses aditivos de merda. Pelo menos o quanto posso (porque às vezes só checando cada letra miúda pra ter certeza).
De novo, eu não sou lá a mais natureba. Mas olha, acho que não custa substituir umas coisinhas por outras mais "vivas", sabe? Em prol de uma vida mais segura, sem necessitar tanto do plano de saúde.
:-)
Nossa eu nunca tinha me preocupado com o que eles usam pra deixar mais branco o arroz! Não costumo usar esses produtos, mas experiemntei esse tal de MEU ARROZ, pois ganhei uma amostra. Fui la toda descrente pq ele promete deixar mais branco, mais solto e vc nao precisa usar nem sal, nem alho nem cebola. Tipo, coisa do alem, achei q ia ficar uma porcaria ou com gosto de nada ou com um tepero super artificial. masssss até q nao ficou tao ruim, o gosto é aceitavel, eu nao comeria tooooodo dia, mas é bom.. sobre ficar "mais branco" na verdade ele fica numa cor normal, acho q é mais provocação ao sazon q deixa o arroz amarelo. mas o q mais surpreendeu messsmoooo foi como ficou soltinho! impressinante! o meu sempre gruda e ficou solto demais! Agora to preocupada com a substancia q fez meu arros soltar!! hehehehhe
Pensei a mesma coisa quando vi esta propaganda pela primeira vez! Ele usa o caldinho Knorr tanto quanto a Xuxa usa hidratante Monange rsrs
Hahaha! Perfeito, é isso.
Muito pertinente suas observações, colega dona de casa rsrsrs
Como vc faz com a sopa, eu faço com aquele caldo delicioso que sobra da carne de panela, pelamordaboacozinha. Congelo em forma de gelo, e aí tenho um tabletinho, sacou?
Adorei o depoimento da Fabiana e o Anônimo aí disse tudo! A Xuxa lambrecada de Monange é lamentável...
Eu vi o reclame, a cara que ele fez não me convenceu assim como Angélica e Xuxa também não. É como se alguém da família Ford recomendasse um Cadillac para carro do ano. A Fabiana está coberta e recheada de razão, como quase sempre, eu que trabalho em vigilância sanitária aprendi a desconfiar de tudo o que a vovó não conseque dizer o que é sem consultar o dicionário. Faz tempo que não como minojo, um macarrão fusilli de primeira, com um quilograma, custa o mesmo que dois pacotinhos de oitenta gramas com câncer em pó para temperar.
Acho realmente um absurdo o Atala fazer isso e mais absurdo ainda o povo que vê, acreditar que é verdade que aquela meleca melhora alguma coisa na comida.
Aliás cozinha é um lugar engraçado para quem não está lá e não entrende o dia a dia e não entende também a história da gastrionomia.
Fazer um caldo de carne ou de legumes é siimples e fácil, nem tem como dizer que se perde tempo com isso. vc recicla parte dos legumes e carnes que nnao vai no prato e faz algo 100% saudável.
Outra coisa é sobre o Jaime-inglês. Não vi todos os programas onde ele quer desbancar a comida de hoje das criancas, mas vou opinar pelo que eu vi, quando ele faz nuggets de frango para a garotada americana e no final das contas ele fica desnorteado pois as crianças depois de tudo ainda comeriam a gororoba.
Da mesma maneira que temos gente comendi inseto, pudim a base de sangue, miolos de carneiro e pulmão, buxo de bode etc. Existem comidas que achamos "nojentas" mas possuem um lado cultural.
O nugget de frango é infelizmente algo cultural na cozinha americana moderna. Tá certo que o produto industrializado é nojento, mas faz parte... e o Jaime-inglês fez um nugget bem saudável até processando as sobras dos alimentos.
De um lado tenho esta cen abominavel de um chef de muitas estrelas cintilantes fazendo este jabá nojento (perdeu algumas estrelas pra mim) e do outro uma confusão em entender o que é e como se deve ser vista a comida na cozinha hj em dia.
Como se lá do DOM, ou nos outros ele usasse caldo pronto... duvide-ó-dó. Bjs, Dri
Costumo comer o maná da mamãe, bem saudável. Mas sou viciada num minojo, adoro. (A pessoa toma câncer em pó e inda acha bão. :o)
Acho q o problema é o excesso. De dinheiro tb, a pessoa perde a noção das coisas, só pode. Verdade q é gostoso, pelo menos pra paladares radioativos como o meu, mas nada como tudo muito bem fresquinho saído do fogão. Ai, q fome!
P.S.: Nem desconfiava de tamanho renome do garoto propaganda.
É renomado, Dani. Renomado e com razão, porque ele realmente tem um talento grande - tanto pra cozinhar quanto pra lançar seus restaurantes. Mas, né... daí tem essa também: a maior parte do povo nem deve saber que apito toca o Alex Atala. E que sabe, estranha. Então nem dá pra entender o propósito de quem teve essa brilhante ideia - e o dele, ao aceitar.
Quando eu vi essa propaganda pela primeira vez, pensei exatamente tudo que está no texto:"Como alguém pode acreditar que o Alex Atala usa essa pequena bomba de sódio em seu restaurante?". Aí por outro lado, vejo meu avô, do alto de seus 80 anos, se vangloriar do arroz soltinho feito com Meu Arroz Knorr. Quando minha mãe diz que aquilo era química pura e que só faria sua pressão subir, ele resposnde: "Mas é tudo natural, tem a foto do alho e da cebola na embalagem"...
Hahahaha! Eu não tinha visto seu comentário antes, Cris!! Foto do alho na embalagem, vê se pode...
Isso me lembrou o programa novo do Jamie Oliver que está passando todo sábado, 19h às 20h, no GNT. Ele lá, tentando dissuadir as merendeiras das escolas norte-americanas de fazer um lixo de comida pra molecada, e a mulher argumentando: "mas o primeiro ingrediente descrito na caixa dos nuggets é frango, ué!". As desculpas que nós damos pra ter preguiça, ai, ai... ;-]
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