sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O pavimento dos nossos corações

Eu acho que uma das coisas mais fortes que bate no coração de cada um de nós é o lugar de onde a gente vem. Sabe, é aquele ditado: "você pode tirar a mocinha do subúrbio, mas nunca tira o subúrbio da mocinha". Ou coisa que o valha. Mas é assim mesmo: por mais que a gente se mude pra longe, pra muito longe, o conjunto de cinco ou seis ruas, uma praça, duas avenidas e um mercadinho que faziam parte do começo da nossa vida, esse nunca deixa de pulsar no peito.

Todo mundo que eu conheço que foi de mala e cuia pra outros países, por exemplo, ainda se emociona lembrando dos vizinhos, do sorveteiro, da pré-escola. Mesmo morando em recôndidos os mais fabulosos, luxentos e cosmopolitas, em casas lindas e seguras, sempre bate nesses imigrantes uma bela de uma saudade do ônibus-lata-velha que carregava a turminha pra todo lado.

Falo isso de experiência própria - mesmo não tendo mudado assim, pro outro lado do globo. Mudei só pra 30 km de lonjura. Sem trânsito, 40 minutos de carro. E desde 1998, quando saí de lá, prometi que não ia voltar. O "B" do "ABC" não oferecia o que eu gostava, estava longe do meu trabalho, estava longe dos meus amigos e muito longe dos meus sonhos. Mas nunca ficou longe do coração. Nem quando eu brinco dizendo que, sempre que visito a família, vou embora e paro ali na divisa pra bater os sapatos e não levar nem o pó.

Até parece... eu sempre vou ter o pó da minha cidade impregnado na alma. Eu vou sempre falar meio "torrto", desse jeito caipira. Eu vou sempre achar frango com polenta uma refeição apetitosa. Eu vou sempre prestar atenção nas manchetes sobre as fábricas de carros e caminhões da minha área - talvez porque metade da minha família ainda trabalhe lá, talvez porque... ué, porque é a minha área. Sempre vai ser.

É por isso que quando eu sintonizo o telejornal e vejo cidades inteiras virem morro abaixo, levando tantos corações junto, me dá o maior desgosto que há. Dá raiva de quem não fez seu trabalho, principalmente, que é controlar a massa e garantir que eles cresçam como comunidade, e não de qualquer jeito em cima de tijolos na encosta do penhasco.

E como essa maldição afeta não só as vítimas diretas, hoje esse texto é dedicado à minha amiga Bia, que não devia estar vendo sua Friburgo cair assim. Mas Friburgo vai levantar de novo, viu, Bia? Porque os corações todos de lá e mais os nossos aqui são mais fortes e vão perseverar. Sempre vão.

5 comentários:

Nanael Soubaim disse...

Por mais longe que lance seus galhos, nenhuma árvore vive sem suas raízes.

Não é a primeira vez que o país tem que se levantar e se reconstruir.

Kiki disse...

Aaah que lindo texto! Veio em boa hora para mim! Tanto que citei um trecho no meu blog, espero que não tenha problema!! ^^ Fiz as devidas referências, não se preocupe!! :)

cidade natal é sempre um porto seguro!

abraços,

Kiki ;)

Sócia da Light disse...

Problema nenhum, Kiki! Depois passa o endereço, pra todos vermos?

Cidade natal às vezes é porto seguro de verdade, e às vezes é só pra alma. Eu nunca vou voltar a morar na minha cidade, certeza. Mas ela sempre vai fazer parte de mim, porque ela que me criou. :-]

Kiki disse...

Claro, o post foi esse aqui: http://naterradagaroa.blogspot.com/2011/01/lins-na-cabeca.html

É bem isso, voltar a morar na terrinha eu não volto... ela é uma cidade de passar férias com a família. E só.

Abração! ;)

Fabio disse...

Ei, eu não falo "torrto"! Aliás, tive que ir ao Ciretran ontem, no Baeta e passei perto do Singular. Andei na Jurubatuba e Marechal, vi a Matriz e uma escola onde fiz um curso de desenho quando era criança... Bem bão (tirando o Ciretran, claro...porre!). Beijos!