Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, minhas filhas teriam que almoçar carne, peixe e frango - e mais um ovo frito, talvez - pra dar a conta de toda proteína sugerida.
Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, eu mudaria pro campo e pra praia simultaneamente, pra ter um ar melhor combinado com uma alimentação mais sadia e espaço pra correr. Moraria, quiçá, ali na mata que fica na serra entre Suzano e o litoral paulista...
Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, pararia a vida toda, largaria meus três tipos de ganha-pão, e passaria o dia entre pintar porcelana e tirar sonecas. Porque, segundo dizem, meu problema é que eu sou estressada.
Aliás, se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, meu problema seria estresse, excesso de zelo, falta de zelo, culpa católica, tendência ao ateísmo, cuca muito fresca, mania de controle, falta de controle, orgulho demais, vaidade de menos. Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, eu teria até mais problemas do que eu tenho de verdade.
Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, minhas filhas se vestiriam bem demais ("pra que tanto vestido?") e bem de menos ("deixa a menina usar uma camiseta com fio puxado?!"). Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, elas também estariam gordinhas demais e magrinhas demais, muito altas e muito baixas, muito brancas, muito vermelhas e muito amarelas. Ah, e elas também comeriam chocolate demais e de menos e seriam muito mimadas e muito desprezadas.
Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, eu teria um apartamento de condomínio de 250 metros quadrados, quadras poliesportivas, academia, portaria 24 horas, salão de baile, seis elevadores e mensalidade milionária. Mesmo eu não gostando de absolutamente nada disso.
Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem eu teria que trabalhar em tempo integral e contratar babá, empregada, cozinheira e motorista - e também teria que largar tudo isso e cuidar tempo integral da minha vida por conta própria. Só porque as pessoas não se decidem sobre o que acham mais saudável.
Por sinal, se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, eu seguiria a alopatia, a homeopatia, a antroposofia, beberia litros de florais, usaria uns unguentos aqui e ali e faria sessões com um xamã. Tudo junto.
Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem eu iria uma vez por semana ao cinema, uma vez por semana ao cabelereiro, uma vez por semana jantar com as amigas, uma vez por semana fazer massagem, uma vez por semana na psicóloga e passaria o fim de semana numa pousada de charme à sós com meu marido. Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, eu seria uma mescla de Angelina Jolie com Imelda Marcos!
Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, já teria parado de ouvir tudo o que me dizem. Porque todo mundo é gentil e tem boa intenção ao dar conselhos, mas ainda acho que, na prática, a teoria costuma ser outra. E a gente segue fazendo o que pode e como sabe, né?
terça-feira, 29 de novembro de 2011
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4 comentários:
E ainda assim, é melhor ouvir tudo isso que ser surda. rs.
Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, vestiria azul, ficaria ruivo e sairia por aí gritando "Re-re re-re-re! Re-re re-re-re! he-he-he-he-he-he-he-he-he-he-he..."
Perfeito, Flávia. Perfeito.
Se eu fosse ouvir tudo que já disseram sobre minha casa, teria mais 3 filhos e dois cachorros. Construiria uma piscina, outra churrasqueira, faria um jardim de inverno outuno e verão. Ou, quem sabe, me mudaria pra um apartamento.
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