Eu só fui comer camarão de frente pro mar em Salvador faz uns quatro anos. Mas foi um deleite que quase me fez chorar - e olha que deixaram pra mim a cadeira de costas pro mar, obrigando a uma manobra a cada onda. Foi como ganhar um selo na minha caderneta "Coisas para Fazer e Descobrir pelo Mundão". Sim, eu tenho essa caderneta imaginária. E ela é lotadinha de espaços em branco e de outros já preenchidos.
Acontece que, ao viajar, não dá pra ficar só ali pelo circuito padrão dos monumentos famosos, museus imperdíveis e catedrais de desmontar arcadas dentárias. Ao viajar, eu preciso de caminhos e sonhos mais específicos. Sempre foi assim. Eu fui com o prazer maior do mundo ver a Fontana di Trevi, me acotovelar com a turba e lançar a moedinha pelos ares; mas eu também precisei escarafunchar o mapa com lupa pra encontrar a Fontana delle Tartarughe, que fica num beco escuro no meio dos edifícios de 400 anos, porque tinha visto a foto dela em um livro da biblioteca quando tinha 12 anos.
Meti na cabeça que precisava ver a fonte, reboquei Dono da Casa por horas, mas achei a danada. Mais de uma década depois, ainda é a minha favorita em Roma.
Também aceito de bom grado os toques de amigos sobre "o crepe da barraquinha da esquina daquela praça bonita" ou coisa que o valha. Faço listas, ao sair de mala e cuia, caçando os desejos antigos, as imagens que guardei na cabeça e os highlights que vi em guias, sites e etcs.. É legal demais ver ao vivo, dias ou anos depois, aquilo que estava só na nossa mente.
A internet, aliás, só veio piorar a situação da minha caderneta à espera de selos impalpáveis. Era ver um filme que aparecia aquela livraria, lá ia eu checar o site da mesma, ver o endereço, desejar pôr as garras naqueles livros e respirar aquele ar. E aí teve o agravamento fatal: Google Mapas.
Agora não dá pra ler um livro de não-ficção ou assistir um filme que saio em disparada botando endereços no rastreador de ruas pra ver a fachada do bar, do hotel, da casa onde foi filmada a cena favorita do romancezinho. Eu passeio por Londres, Tóquio, San Francisco e afins toda semana - e até já dei uma vasculhada nas estradas do Havaí pra ver que tipo de carro vou alugar pra apreciar melhor a paisagem. Um dia. Quando a caderneta implorar por um selinho "rota dos vulcões, Oahu".
Em breve eu vou partir novamente pra mais uma busca dessas sem lenço e sem documento (mentira, com lenço e com documento, porque eu sou terminantemente contra nariz escorrendo e dias inúteis na salinha da imigração). Já tem uma lista impossível com itens como o restaurante daquela chef que escreveu o último livro que eu li, o mercado mais novo aberto na grande avenida, um parque suspenso que deve ser coisa de cinema, uma exposição, um bondinho, um sorvete... Vão ser poucos dias pra muitos selos invisíveis. Mas o que se realizar, tá bom. De outra vez eu saio à caça com uma nova lista sonhadora.
Valeu a pena a caçada
5 comentários:
Se der tudo certo, em setembro eu vou conhecer essa fonte, adorei. E tomara que a sua cunhada Dri possa ir tb.!
Fingers crossed, Patrícia! E eu desenho no mapa como achar as Tartarugas. Apesar de hoje haver Google Mapas. ;-)
Flávia, quando você viajou com a Sabrina pela primeira vez ela tinha que idade? Foi fácil alimentá-la fora?
Se puder dar um help para uma mãe que está querendo passear com um menininho de 1 ano, obrigadão! Beijos!
Oi, Bruna!
A Sabrina foi pela primeira vez com 1 ano e 3 meses. Ela já estava largando as papas e aceitou muito bem sopas, macarrão, legumes, frutas e aqueles queijos indecentes de bom da Itália. Rss! Se precisar de dicas, sei lá se eu consigo ajudar, mas me escreve lá no Facebook e a gente tece grandes teorias sobre essa prática!! Um beijo, querida!
Ah... como é bom ter esse caderninho imaginário né?
Tenho um sonho de consumo em conhecer Nova Iorque, e já mapeei de tudo pra eu conhecer e fazer por lá rsrsrs
Bjks
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