Tenho uma teoria sobre os desenhos da TV. No nosso passado, aquele vivido lá nos jocosos anos 1970, 1980 e 1990, a vida ainda estava num ritmo simplório e festivo. As ondas de violência gratuita eram quase novidade e, pra parar na frente da televisão nesse tema, só com muito Crime da Rua Cuba. Então os desenhos, reflexos de nós em animação pra telinha, podiam muito bem se utilizar de bigornas, explosivos, instrumentos perfurocortantes, substâncias químicas duvidosas e até um 'tônico para Pica-Pau' que eu tenho certeza que era misturinha de ecstasy.
Podiam, porque a vida real era clara e limpa. Como a vida de hoje é muito mais sombria e perdida, os desenhos passaram a... bom, passaram a passar um pano. É muita musiquinha, muito abraço, muito construtivismo, muita didática, muita cor, brilho e magia. Não há cavalos mexicanos tentando esmagar crânios com um violão nem ursos hippies andando em motos imaginárias. Tem só coelhinho ensinando a desenhar, uns seres discutíveis brincando no quintal e cachorrinhos franceses falando sobre como é lindo e encantador ganhar um irmãozinho novo.
A criançada cai na feitiçaria porque é tudo tão doce e fofo e legal que não tem como não cair. E nós, os pais, caimos no sono enquanto o Sportacus come mais um 'doce do esporte' (é maçã, para os desavisados).
A gente cai no sono porque, bem, escutar o Peixonauta salvar mais uma lagoa da poluição se torna um pouco repetitivo. Mas somos agradecidos. É bem provável que uma ou outra criança aprenda mesmo uma ou duas coisas com os desenhos queriduxos do que com os adultos neuróticos e fanfarrões que os circundam hoje em dia.
E o problema maior é que, depois de conhecer essa gentinha, fica difícil livrar-se dela. Eu curti o episódio da rabeca quebrada por causa do desleixo da Angelina Ballerina; eu me peguei dançandinho com o Hi-5 mais de uma vez; eu parei e sentei e pensei onde as agruras de Madeleine iriam levá-la agora; eu cantei junto uma pá de músicas que o Barney nos ensinou e aprendi sobre iguanas e lhamas com o Zoboomafoo. Ah, tem aí Aventuras com os Kratts pra tentar compensar, mas cadê Zooboo, por favor?
Sim, eu sinto falta daquele lêmure - o de verdade e o de pano, que falava ao meu coração e me hipnotizava com aqueles olhões. A molecada se pega com os desenhos e, quando eles caducam, elas passam a achá-lo ridículo e 'de bebê'. Felizmente. Significa que estão passando de fase, deixando Little People pra trás com alegria e vergonhinha - e trocando o mimo televisivo por programas de adolescentes e/ou umas coisas loucas que aparecem no Cartoon (mas eu proíbo Ben 10, logicamente, porque Supremacia Alienígena é o cacete).
Passa pra eles, mas não pra nós. E basta que alguma loja de departamentos meta no DVD o Barney entoando o clássico 'Amo você, você me ama, somos uma família feliz' que lágrimas de saudades já brotam pavorosamente nas minhas vistas. Vai ver não é saudade do dinossauro carente em si, mas de um tempo bonito.
Eu, você e... cadê Zoboomafoo, pô?!
8 comentários:
Que bonito! E é verdade, tudo isso que você falou no início sobre os desenhos, os tempos são tão outros...
A brutalidade é inversamente proporcional, né, Lil? Natural, e que bom. Ou não, sei lá... Melhor os tempos de bigornas só na tela, né?
Flá, como sempre acontece, me identifiquei com cada linha do texto. (tá, menos no que se refere ao Barney porque eu não suporto aquele dinossauro roxo. Ainda bem que o Pedro já está dormindo quando passa).
Eu tenho saudades do Zooboomafoo, eu assistia antes ainda de ter o Pedro. E quase fiz protestos na porta da Discovery Kids quando parou de passar Pocoyo.
Dos desenhos "novos" acho que o único que mantem o espírito "bigorna na cabeça" é o Bob Esponja. É demente, engraçado, não se mete a ser sério pra adolescente e aqui a família toda vê junta e se diverte.
Ótimo texto, embora eu tenha que discordar do Barney. Como a Cristiane aí em cima, não suportava aquele mala, curiosamente dublado pelo mesmo dublador do Beakman. Tb não sei o que a molecada vê naquela sensaboria de Ben 10, nunca vi herói mais sem carisma num desenho.
Um aspecto digno de nota é a pobreza de coisa de qualidade pra adolescente assistir. No meu tempo, da internet a lenha, quem não suportava Malhação, e não tinha tv paga pra ver Charmed (oh, vergonhinha!) acabava sem muitas opções. As crianças estão mais bem servidas.
Lembrei agora de um amigo que era a cara de um dos Kratt, nunca sei se é o Chris ou o Martin.
Continue com esses textos de televisão, eu adoro!
Salve os programas televisivos antigos.
Vou descobrindo as novidades da TV infantil do século XXI através dos sobrinhos postiços rs
E concordo com todos no quesito Ben 10 e cia... sem sal toda vida
Bjks
Marcelo, como assistir televisão (por minha conta ou obrigada pelas creonças) é meu nome do meio, pode esperar outros! Só não enxovalhe o Barney, sua hora vai chegar. Não? :-]
E que bom que outros concordam com essa droga de Ben 10. Briga demais por motivo de menos. Se pelo menos atuasse na base do Capitão Planeta...
Zoboomafoo era divertidissimo, sinto falta dele e até do Barney, os novos do Discovery Kids são chatos, nem meus irmãos assistem, tirando Dino Trem que é bem legal.
Eu gosto de Ben 10 Supremacia Alienígena e sinceramente Capitão Planeta era chato pacas.
Vocês dizem isso do Ben,pq não é obrigado a aguentar BAKUGAN/POKÉMON e cia,odeio pra todo sempre e mais 6 meses.aff!!
E tem mais,mãe de menino tem que aguentar o Ben 10(aqui a febre melhorou muito,em compensação tem os desenhos japa dos infernos)
Também sinto falta do zoboo.
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