A rigor, vale dizer que, se me pedissem pra desenhar o rosto da Kuda, eu com certeza acabaria errando em quase tudo. É que eu só a vi, e de relance, uma única vez. Foi no lançamento do livro que escrevi com minhas sempre sócias, Clarissa e Vivi. A Kuda, tia da Vivi, foi nos prestigiar - e apesar de querer muito agarrar nas mãos delas e agradecer por tudo e mais um pouco, a pilha de livros acumulada me impediu da tietagem explícita. Foi uma pena. Foi uma pena que, na semana que passou, eu tenha perdido em definitivo a chance de dizer pessoalmente pra Kuda como eu a admirava.
Eu não saberia dizer o nome completo da Kuda, o endereço dela, qual carro dirigia - e mesmo se ela dirigia. Mas eu sei que a Kuda era exímia trabalhadeira manual, boa de cozinha, dona de dedos verdes pras plantas crescerem lindas. Sei que ela também era chapa de santinhos que providencialmente atendiam suas preces (e ajudavam todos nós nessa doce tabela). Sei que ela tinha dois filhos que são dois príncipes e que pensava em comprar um sítio. Eu passei a semana pensando na Kuda, em como esse sítio teria sido um paraíso pelas mãos dessa mulher e em tudo isso que a gente é.
Por causa da Kuda é que eu sempre relembro à Sabrina que ela 'fala mais que o homem da cobra'. O significado da parábola foi embora com a Kuda, eu acho, mas pra mim vai seguir fazendo sentindo. Ou sentido nenhum, mas eu repito porque é engraçado demais pra não utilizar.
A Kuda, sem saber, me ensinou um bocado - porque ela ensinou pra Vivi, que me repassou. Mas o que ela me mostrou melhor e afinal foi algo que todo mundo deveria matutar um pouco: o que a gente faz, diz, pratica não fica só com a gente ou com aquela meia dúzia de sempre. Muita coisa transcende, especialmente quando a gente é capaz de ser tão incrível a ponto de deixar um positivo legado.
Não precisa ser o legado maior do mundo - a fortuna do Eike, os gols do Pelé, a boca da Jolie. Que seja uma receita de torta fantástica. Que seja um gesto característico. Que seja um modo de agir que toque mais outro alguém. A gente é capaz de marcar quem a gente nem conhece quando faz algo bem feito.
Em tempos de comunicação muito ligeira, quando os dedos às vezes trabalham mais rápido que o bom senso, tudo o que a gente reflete e espalha vai lá tocar em alguém, é certeza. Muitíssimas vezes, em quem a gente nem sequer imagina. Então, se for o caso, levar uma vida preciosa e espalhar boas coisas é a melhor escolha de todas. O que a gente pode fazer de bem feito vai tomar força.
A Kuda fez tudo muito, muito bem feito. Por isso que ela pode ter ido embora de um certo modo, mas nunca por completo. Quem ela era vai ficar, se traduzindo em ações que ela semeou aqui, ali, acolá... E quem, como eu, não a conheceu também pode aprender bastante com isso.
domingo, 1 de julho de 2012
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3 comentários:
Que homenagem linda!
Para todas as "Kudas" que passaram e passarão em nossas vidas.
Que todas as "Kudas" de nossas vidas sejam eternas.....
que saudade do 'garotas' que bateu agr... chuif.
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