Meus papos favoritos com a Sabrina quase sempre acontecem em trânsito. No carro, a pé, não importa: o ir e vir sempre traz as conversas mais instigantes e divertidas. E surpreendentes. Hoje, ao acompanhá-la até a casa de uma amiguinha, de novo.
A coisa começou com ela me dizendo, do nada, que quando ela morrer vai 'deixar pedido' que alguém a enterre bem do meu lado. Eu achei boa ideia passar o fim dos dias pegada com ela, mas expliquei que, na verdade, se fosse pra escolher, acho que eu preferia ser cremada. Ela sabe o que é cremação, pra minha surpresa. E perguntou onde eu queria que ela 'me jogasse'. 'Onde é o seu lugar favorito, mãe?'.
Eu disse que o meu lugar favorito, sempre, é onde estão ela, Lica e o Dono da Casa - não importa o cenário, me importa é a companhia. Mas que, depois de estar com eles ou estar na nossa casa, meu lugar favorito no mundo é Roma. E depois Londres. E depois San Francisco. E depois Paris, depois Verona, depois Florença e depois... ô, a lista segue longe. Sabrina curtiu o rumo da prosa.
Falou os lugares favoritos dela e acrescentou, como que avisando, que um dia a gente PRECISA ir pra Amazônia. Eu vibrei e contei pra ela que o meu sonho, na verdade, é cortar a Amazônia de barco. E que existe um navio bem do bonito que faz isso docemente, em quatro ou cinco dias, passeando naquela lindeza sobre as águas. Sasá quis saber se o rio ia dar no mar - e eu expliquei que sim, o rio sempre vai dar no mar, mas que o navio não chega ali porque o rio é longo demais. O maior de todos. 'Sabe que o Amazonas é tão comprido que não fica só no Brasil, pega outros países também, Sá?'.
Ao ouvir falar do Peru, ela achou engraçado um país com nome de ave. Falamos longamente sobre o Peru e como eu suspeito que Lima deve ser uma cidade bonita demais e como seria legal passar uns dias lá e outros em Cuzco, no caminho pra ir conhecer Machu Picchu. 'Machu Picchu! Eu ouvi falar desse lugar, mãe, que a vovó já foi lá. Como é Machu Picchu?'.
Esfregando as mãos, estalando dedos e limpando a garganta em puro delírio de poder falar sobre isso, contei pra ela sobre os dias populosos da cidade, como ela 'sumiu' e como foi redescoberta. Eu adoro a trajetória de Machu Picchu porque sempre me pareceu um misto de História de fato e conto misterioso de livro de aventuras. Animadíssima sobre o lugar, ela amou saber sobre o trem Vistadome, que leva turistas até lá hoje em dia, e torceu pra chegar logo o dia de ir ver ao vivo.
E aí franziu o cenho. E falou que fica preocupada de tanta gente ir pra lá e... e... 'e se as pessoas jogarem lixo lá??'. Bom, eu disse que esperamos que isso não aconteça. Que me parece que o tipo de turma que vai até lá é mais consciente e não vai ficar jogando lixo no chão e desgraçando um lugar tão especial. E aí:
'Mãe, eu vou crescer e virar lixeira. Dessas que vai em todos os países do mundo recolhendo lixo e acabando com ele. Tipo reciclagem, só que mais ainda. Sabe? Eu acho que eu vou fazer um clube do lixo, e a gente pode dar ideias pra acabar com ele. Porque imagina se o lixo fica tanto e tanto que começa a chegar no mar e nas cidades perdidas! E a gente não vai poder ver mais nada e descobrir as cidades perdidas que ainda não foram achadas! É, eu vou ser uma lixeira.'
A gente começa falando sobre morte, mas sempre envereda pra vida. Isso que eu adoro.
terça-feira, 28 de agosto de 2012
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4 comentários:
Me empresta a forminha da Sasá? É que tô querendo ter filho um dia e, putz, será ótimo se ele vier assim. Agora se vc resolver ter mais um, avisa logo que eu corro para providenciar o quanto antes e garantir, ao menos, que eles sejam amigos. ;)
Forminha não tem, darling, mas manda aqui que a gente ajuda a contaminar de fofurice. ;-]
Emocionei aqui,linda ,a menina,linda a mãe,lindo ,o papo....
ai que papo mais gostoso... essa Sasá daria uma perfeita Socióloga!!!!rsrsrs
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