quinta-feira, 26 de maio de 2011

Que feicibuqui, o que...

Eu era uma pobre porém honesta jornalista em ascensão (isso no tempo que jornalista ascendia...). Daí vieram as minhas melhores amigas e disseram aquele "vamos fazer um blog?". Eu nem sabia soletrar blog. Mas eu disse que sim. E a gente fez.

E depois eu percebi que a gente até que tinha feito bem, porque muitos vieram, leram e se amarraram. Gostavam do nosso tom, das nossas mentes, do nosso jeitinho suburbano de ser e viver. A coisa cresceu, rendeu, ganhou fama, poder e riqueza - muito mais da primeira do que da terceira, diga-se. Mas quem ligava pra isso? A gente tinha fãs! Fãs, bicho! Eu, com fã?? Aquela menina que na sexta série era acossada pelos populares por usar óculos de aro azul e rabo-de-cavalo COM tiara?

Pois foi. E eu curti pacas. Mas confesso que lá pelo quarto, quinto ano da coisa, ter um monte de gente sabendo minha comida predileta e a cara da minha filha no ultrassom cansou um pouco. Eu era assim, fazer o quê, abria a porta, a janela e o coração. E muitos entraram - inclusive uns malucos de carteirinha que queriam saber onde eu morava... Filme do Wes Craven, aquilo.

Quando acabou, eu peguei meio que um traumazinho de internet. Não, não da internet toda, só daqueles sites que me pediam nome, RG e estado civil. E mais ainda daqueles que pediam "adicione fotos!", "entre nessa comunidade!", "tenha 1 milhão e 800 mil amigos que você nunca viu ao vivo!". Eu entrei na rede social, mas com medo.

Fiz um Orkut lá, não queria ficar tão por fora. Fiz também um álbum virtual de fotos, pros amigos de longe verem como crescia minha filhota. E depois parei um pouco de fazer coisas sem sair da cadeira. Todo mundo me deixou quieta. E, quieta, eu fiz um blog e contei pra uns poucos. Mas aí tem isso de Twitter, Face... face o quê, mesmo?

Eu não sabia se Facebook era de ler, de comer ou de passar no rosto. Nem queria saber, também. Ouvia dizer coisas como "minha fazenda no Facebook tem 11 ovelhas!" e entendia nadinha. Só achava bem estranho porque, ué, aquela pessoa morava num quarto-e-sala e tinha ovelhas? Onde, no armário debaixo da pia?

Ah, eram ovelhas de mentira. E plantações de mentira. E cidadezinhas de mentira também com amigos de mentira visitando-as. MUITO esquisito. Eu sou dessas que ainda gosta de ir na casa do fulano, levar um bolo e tomar um café na xícara, não entendo muito de bate-papo online onde a gente se presenteia com caprinos e pinheiros.

Bom, mas a coisa estava lá e eu adorava é tirar um sarrinho. Questionava os amigos, por exemplo, como era terminar uma amizade via Facebook. Eu, quando quebro o coco com alguém, bato logo o telefone na fuça! (Por isso, inclusive, mantenho um telefone com fio aqui, já que é estúpido bater o telefone na cara de alguém apertando apenas um botão... não tem o mesmo punch). No Facebook a gente faz como, clica pra eliminar? E a pessoa desaparece da sua vida pra sempre? Quem nos dera, hein?

Mas os amigos nunca ligavam pros meus sarrinhos - e, pior, me esculhambavam por não estar nessa onda da conectividade. Diziam que era absurdo, que eu estava perdendo MUITAS oportunidades. Ã-hã. O povo acha mesmo que se encontra trabalho pelo Facebook? Na boa, as pessoas só vão ali fuçar na vida alheia pra saber se aquela bitch do colegial ainda é bonita ou pra saber se um ex-namorado já casou. Só! Não se iludam.

Mas não adiantava, eles me cobravam muito, por exemplo, estar no Twitter - porém, se eu quisesse ser seguida por estranhos andaria sozinha no centro de São Paulo à noite, obrigada. Diziam ser o máximo. Eu declinei. Cobravam também, loucamente, um Facebook. "O que, você não tem Faceboooooook???" Parecia que eu não tinha fígado ou hipotálamo.

Mas que preguiça de me cadastrar de novo nesse mundo, meudeus, que preguiça! De novo contar pra todo mundo que o Clash é minha banda favorita, que eu leio A Sangue Frio anualmente e que pago um pau pro Jamie Oliver? Isso não acontece com todo mundo?!

Long story short, vamos dizer que, nessa semana, um curto-circuito deve ter acontecido no meu cérebro jovem porém muito rodado. Eu entrei para a seita de Zuckerberg. Uma garota jóia me convenceu com um golpe baixíssimo: "assim muito mais gente vai ler seus blogs". Maldição. Eu odeio quando essa galerinha antenada me pega no ponto fraco.

Eu quero ser lida, essa é a verdade. A fama veio, a fama foi e eu nunca liguei pra fama. Mas eu sempre adorei ser lida. Desde quando era uma jornalistinha inocente que escutou "blog" e achou que era um chiclete novo. Agora eu continuo jornalista, sigo escrevendo e amando meus leitores. E se muitos mais podem chegar via Facebook, que seja. "Me adicionem", gente! O que quer que isso signifique.


F de "Fláááviaaa, venha para o nosso laaaado"

terça-feira, 24 de maio de 2011

Abaixo o nepotismo

Sabrina vem planejando sua futura profissão e costuma sempre terminar em dúvida sobre ser musicista (tocadora de flauta, mais precisamente) ou dona de um restaurante. Como ela gosta muito de cozinhar e já aprendeu a quebrar os ovos sem furar a gema, está mais inclinada pelo cargo de chef mesmo - até porque, do jeito que ela toca flauta, levaria um couro dos moços lá na Praça da Sé...

O restaurante ainda não tem nome nem tema definido, mas ela já avisou que me quer ajudando. Daí eu perguntei:

- E a Olívia, Sá, ela vai trabalhar contigo no restaurante também?

- Claro, mãe.

- O que a Olívia vai fazer?

- Lavar o chão.

Meio indignada e meio gargalhando, eu quis saber se, caramba, não tem nada melhor pra sua própria irmã fazer, não?

- Ela pode ser garçonete, então, sei lá...

- Mas Sabrina, tá louco, é sua irmãzinha!!

- Tá bom, mãe! Ela faz o risoto. E chega, hein?

Ok, descolamos pra Oli pelo menos a estação do risoto. Melhor que lavar o chão, vai? E agora eu torço pra Sabrina desviar pra carreira pública. Com ela no comando, parente nunca vai ter vez.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

"Ai, caramba, roubaram o meu..."

Vocês aí podem me dizer se sofrem do mesmo tipo de espasmo que eu e me fazer sentir melhor. Acontece que toda santa vez que vou ao mercado, assim que a moça termina de passar os itens e me entrega a nota com o valor, eu sofro um baque cerebral que diz "droga, ela passou um monte de coisa com preço errado!". Sim, porque a conta sempre me parece altíssima - e o que têm ali, umas três sacolinhas com meia dúzia de troços? Pois acho que a moça nunca errou na conta. É só o meu espasmo "fui roubada".

Acontece também com todas as contas que chegam pelo correio. Já pensei em chamar a Eletropaulo pra que eles comprovem que tem "gato" na minha ligação elétrica. Já pensei em chamar a Comgás pra mostrar que, droga!, alguém está desviando meu suprimento por um cano secreto. Já jurei por todos os santos que não, eu não uso aquele tanto de telefone! Alguém está vindo aqui em casa quando eu estou fora e usando meu aparelho... Sério.

O cartão de crédito, então, nem se fala. Basta abrir o envelope pra dar aquele gelo na espinha, a tremedeira nos membros e o espasmo "fui roubada". Impossível aquele valor final, impossível! Eu nem fui na C&A esse mês que absur... ah, bom, foi do mês passado, quando comprei calças pras meninas...

Sempre acontece, mesmo eu sabendo que meu cartão jaz tranquilo e magnético na minha carteira. Sempre acho que ele foi surrupiado e que o bandido que fez isso foi lá no shopping e saiu à toda comprando itens incríveis e bacanas na Livraria Cultura... ah, não, fui eu mesma.

O estado de negação causado pela grana curta está me deixando paranóica. Ou vai ver tem coisa aí mesmo... Impossível eu ter gasto tanto em frutas e legumes! Acho que vou chamar os tiras. O japonês do sacolão só pode ter cobrado a mais. E talvez tenha roubado meu cartão de crédito também! Se bobear, foi ele que fez o "gato" elétrico aqui em casa... Na de vocês também?


Só pode estar adulterado... Sério!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Eu, ela e la vie en rose

Ela tinha 8 anos quando eu nasci. Ela tinha 21 anos quando deu no pé pra casar e, portanto, noves fora escorrega o cinco, nós dividimos quarto por 13 anos. Eu só posso dizer sobre os seis, sete anos finais; ela com certeza diria que foram todos os 13 anos um grandecíssimo inferno.

A minha irmã sempre foi dessas pessoas do sexo feminino completamente doidas por criança. Ela adora mimar, brincar, zoar, pintar unha, fazer casinha, cozinhar bolinho. Bom, ela sempre foi assim com toda criança, mas não tanto comigo. Comigo ela desenhou umas flores e talvez tenha cerzido um traje de Susi aqui, outro ali. Eu sempre fui meio que o porrezinho que chegou pra atazanar a vida boa dela. Pudera.

Enfiaram a mim, ainda bebê, no quarto da pobre. A pobre já gostava de maquiagem, Melissa de fivela e das Panteras e eu ainda babava. A menina queria sossego pra ouvir a trilha sonora de Grease, eu invadia o recinto com pés sujos de terra e insistia pra que ela jogasse ludo comigo.

Ela cresceu, arrumou namorado, ficou de papinho no portão. Eu me escondia atrás da cortina do nosso quarto e ficava rindo baixinho dela abraçada com os rapazes (pro total avexamento dela). Acho que até contei alguma coisa sobre isso pra alguém... Ah, sim, foi mais ou menos "pai, a Silvia tá beijando um menino lá na rua e já são 22h05...".

Piorou demais, demais quando ela, já quase adulta, era obrigada a "me olhar" quando meus pais saíam. Ela nem me olhava, isso eu digo. Não que precisasse, que eu nunca fui de atear fogo em cortina, mas... Olha, eu bem que assisti uns filmes absurdos e depois tive pesadelo porque ela devia estar "me olhando" e não estava.

Ela odiava isso, "me olhar". Eu acho até que ela ME odiava. Fazendo a autocrítica, não era de todo desumano me odiar. Ela queria um quarto de princesa com colcha de matelassê com babados, cortina combinada e aqueles cabides de parede em forma de menininha Bem-Me-Quer de chapelão. Eu queria edredom nos tons do arco-íris e todo o espaço pra mim. O recinto foi meio que dividido ao meio quanto aos estilos - e tem coisa mais antidecorativa que isso?

Ela só queria respeito ao armário dela, conforme os 11.874 discursos reivindicatórios que fez pra mamãe - e enquanto isso eu estava lá no quarto, fuçando as gavetas arrumadinhas dela na caça de uma meia limpa e sem furos.

Ela queria ler até tarde com a luz acesa que Thomas Edison nos deu. Eu também, mas meu gibi do Tio Patinhas acabava muito mais rápido que o último volume do Sidney Sheldon dela, e aí eu queria muito que ela apagasse logo aquele holofote dos infernos. E a gente tinha altos interlúdios por isso. Com palavrões acoplados. Bom, digamos que eu aprendi a dormir com luz acesa.

Eu imagino o que ela diria sobre aqueles dias insanos, mas quero aqui levantar a bandeira branca: hoje eu sinto saudades. Dividir o quarto com a minha irmã é uma das coisas que me fez como eu sou hoje. Nem melhor nem pior, apenas mais respeitosa com quem divide o espaço conosco. E ainda com ojeriza de matelassê e babados.

Não tenho saudades das brigas, dos tapas, dos xingamentos nem das delações pros pais. Mas tenho saudades dela ali tão perto, ao alcance de um crock na cabeça ou de um palpite não solicitado. Ou de uma companhia pra fazer desenho, de alguém pra dizer se a saia estava bonita, de uma palavra de humor cheio de cinismo...

Penso um dia botar a Olívia dormir no quarto com a Sabrina, só pra ver o fuá que vai dar. Isso as fará mais fortes como fez a mim e à Silvia. E depois elas sempre poderão lembrar com saudades. Ou pensar como eu e a Si pensamos hoje: "onde aquela mulher estava com a droga da cabeça?".


Te ligo logo mais pra importunar, tá? Pode apostar suas meias rosinhas muito limpas

terça-feira, 10 de maio de 2011

Uma idade inconveniente

Ela tem só seis anos. Não tem 16 pra saber como ter um papo da hora, não tem 26 pra saber se expressar com clareza, não tem 36 para filosofar com consciência, não tem 46 pra tergiversar sobre o tempo, não tem 56 pra comentar sobre política, economia e a novela. Ela tem só seis anos - e fala as barbaridades dela, uai. Taí uma coisa que eu compreendo sobre as crianças.

A Sabrina é uma menina boazinha. Não é por ser minha filha, não, mas ela é mesmo um doce de criança. Emburra quando recebe o "não", mas atura sem birra; não se joga em chão de shopping center nem atira comida do prato em restaurante; é comportada, agradável, engraçada... Ok, vai ver é porque é minha filha mesmo e só eu vejo tudo isso junto.

Os demais acabam vendo outras coisas. Acabam vendo quando ela interrompe 19 vezes a conversa dos adultos. Vêem também a manipulação do "se a mamãe não deixa, deixa eu perguntar pro papai". Vêem ainda que ela quer chamar a atenção sempre que pode, com truques de mágica, piadas insanas e toda sorte de estratégias.

É uma idade muito, muito inconveniente, esses seis anos. Eu sei, porque eu era assim! Ia com a minha mãe na manicure e, enquanto ele dizimava cutículas, eu abria e checava e fechava cada mísero vidrinho de esmalte presente no recinto. A manicure com certeza queria me abater a golpes de alicate.

Ia na casa da minha tia e mexia em absolutamente todos os bibelôs caríssimos dela. Ia ao mercado e sumia por entre as gôndolas. Ia fazer compras e passava metade do tempo pedindo pra beber água e a outra metade pedindo pra ir ao banheiro.

Eu dizia tudo que vinha à mente também. Contava pros parentes coisas como "todo sábado minha mãe dorme até às 11h" (quando na verdade isso só deve ter acontecido umas três vezes em todos os anos de vida da minha mãe). Cornetava coisas ao leo - e tinha aquela mania linda de criança de atender o telefone e lascar "minha mãe não pode atender porque tá fazendo xixi".

A Sabrina é como toda criança dessa idade, testando os limites, procurando espaço, desejando fazer parte, implorando por consideração... Normal, hein? Conheço gente adulta que faz o mesmo e nem tem a desculpa da pouca idade! E nem é fofo!

Quando ela dá um forinha, eu faço uma cara de "oi, assunto errado" - coisa que ela nunca entende e acaba gerando o embaraçoso "que foi, mãe, por que essa cara?". O que funciona melhor é deixar quieto e depois, a sós, voltar delicadamente no assunto e dar um dica de postura. Tem que ser com a manha e fofinhamente, senão ela fica avexada com efeito retardado. E isso é péssimo, porque ninguém quer saber que vacilou em público - mesmo aos seis anos, pode ter certeza.

Mas eu ainda acho esse jeito de criança a coisa mais desculpável do planeta. Chateia um pouco saber que outros não entendem e podem achar seu filho meio irritante. Mas cada um de nós só deve precisar de uns minutos pra lembrar de si mesmo aos seis e recordar o rol de impertinências que cometeu.

Conta aí uns seus. Eu desculpo se você também desculpar!