quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Corra, bebê, corra!

Eu sempre fico em dúvida sobre até onde vai a beleza de fazer graça com os filhos e onde começa a zoação exagerada.

Começa singelamente, mas logo a coisa fica meio estranha. Com as roupas, por exemplo. A gente inicia comprando e/ou ganhando aquelas camisetas engraçadinhas dizendo "Gatinha da Mamãe" ou "Daddy´s Best Friend" (porque as marcas adoram botar dizeres em inglês pra parecer mais garbosas) e logo está vestindo o filho como um homem-sanduíche do centrão. E, pior, as frases ficam meio sacanas... Outro dia vi um menininho usando uma blusa escrita "milk drunk". O moleque anda pela rua se autoentitulando de bêbado e a mãe seguramente acha superengraçado.

Aliás, pais e mães mais novos ou mais punks é que adoram isso, vestir o filho como um cartão de visita. Uma vez eu comprei e vesti na Sabrina uma camisetinha dos Beatles. Ficou fofa e eu tirei até foto - mas depois me deu um mal-estarzinho.

A menina sabia nem usar o vaso sanitário, não tinha que mostrar por aí que a mãe dela morre pelos Fab 4. Isso só serve pra criar um revoltado que, na adolescência, vai nos assolar com CDs do Restart de pura marra.

Falando em fotos, a gente também pira um bocado nessas horas e embaraça bem os filhos (não no momento, mas no futuro, o que é um talento e tanto). Conheço um sujeito que fazia mil fotos dos filhos nos cantos mais absurdos da casa, como dentro da sapateira ou no porta-LPs.

E tem uma moça que roda em spams mostrando a filhinha produzida, com panos e acessórios, em cenários como circo ou o campo. Ambas as crianças apareciam sempre dormindo. Ou seja, tinham nem direito de defesa com uma bela gorfada no adulto-zoador.

Fica bonitinho vestir um gorro com cara de urso no menor, mas aquelas chupetas que imitam dentaduras de monstro, por exemplo, são horríveis e dão nervoso. Não é engraçado! Quer dizer, até é um pouquinho - mas poxa, bullying no próprio filho?!

Acho meio esquisitinho fazer tudo isso com a criança só pra parecer um pai ou uma mãe mais descolados. Criança já é gracinha por natureza, não precisa a gente querer deixá-los mais moderninhos, menos bebês-bobões. Os bobos, no final, somos nós. E todo mundo sabe disso, precisa nem de camiseta pra dizer.

Mãe, sério, se isso bagunçar minha cabeça no futuro, eu culparei você

sábado, 10 de setembro de 2011

Bullshit psico-parental

Tem umas coisas sobre a criação de filhos que entra na seara do "puro achismo". São frases e ideias que os pais e os psico-especialistões inventam e que, de tanto repetir no rádio, na TV e nas revistas com bebês obesos na capa, viram verdade - e aquela verdade mais cretina, que só serve pra pais e mães se sentirem menos culpados. Mas ó, tudo bullshit. Muitos de nós, inocentes, caímos nessa pela opressão da vida, mas é tudo besteira. E eu posso dizer, porque já aceitei ouvir uma vez ou duas essas bobagens até cair na real.

Como por exemplo:

"Ah, melhor acostumar desde cedo a dormir com barulho, viu."
Isso costuma ser coisa de quem adora uma baladinha em casa, cantar e dançar Madonna usando a escova de cabelo como microfone, uma TV no último volume e churrasco no quintal todo santo domingão - e acha um saco mudar tudo isso quando nasce o bebê. Mas olha, "acostumar" é uma coisa bem relativa, né? Bebê pode acostumar a dormir na ala do reco-reco da bateria da Mangueira. Se aos 8 anos, no entanto, ele se tornar aquela criança que escala a cortina e grita até ficar azul, vamos comemorar o fato de ele dormir com barulho? Hum.

"Ah, eu não esquento leite pra dar, não, melhor acostumar com frio, que senão tem que ficar procurando microondas em todo lugar quando saímos."
Eu adoro pais e mães que pensam no conforto do filho, sabe? Já ouvi a frase acima mais de uma vez - e me peguei pensando "ora, então por que você já não acostuma ele a beber cerveja e comer tremoço, pra poder alimentá-lo no boteco sem precisar levar nada de casa?".

"Ah, eu levo pra sair comigo à noite, sim, senão ficam aquelas crianças anti-sociais."
Verdade, ficam mesmo. E é um baita saco essa criança anti-social que não sabe se portar em restaurante fino à meia-noite, dormindo em cima do prato, credo. Bom mesmo é petiz que orna bem com sapato de fivela e blazer, levanta o dedinho pra beber café e ri de piadas racistas.

"Ah, ele adora o i(complete aqui com Pod, Pad ou qualquer coisa da Apple). Nem liga pra gente, só quer jogar."
Provavelmente a criança percebeu que o i(complete aqui com Pod, Pad ou qualquer coisa da Apple) tá mais interessado em entretê-la do que os adultos ao redor.

"Ah, ter qualidade de tempo com o filho é mais importante do que quantidade."
O caralho. E isso eu posso dizer não só por TER filhos, mas por ter SIDO filha. Podia passar um domingo todo de zoológico, almoço fora, festinha e cinema com o meu pai - assim que ele saía pra mais uma semana de viagem de trabalho, meu coração ficava amarrado com as tripas. Qualidade é importante, mas quantidade também. Pai que fica bastante em casa, mas só faz ligar a televisão e assistir 12 jogos do Brasileirão, sem olhar na cara do menor, é uma droga de pai; mas pai que tira uma divertida e maravilhosa partida de "Jogo da Vida" por ano também não é grandes coisas, viu. Quantidade conta. E não venha dizer o contrário pra se sentir melhor, que isso é pura bullshit.


Durma com um barulho desses...

terça-feira, 6 de setembro de 2011

O ciclo da vida - e como sair dele

Eu acho que funciona mais ou menos assim:

- Desde que as mulheres, há coisa de 50 anos, pediram por favorzinho pra ter direitos iguais, elas ganharam mais trabalho, a mesma responsabilidade em casa, a mesma cota de cuidados com os filhos e menos atenção na hora de abrir uma mísera porta pra elas passarem primeiro.

- Daí que, vendo isso, os homens relaxaram e pararam de achar que eles precisavam ser aqueeeles provedores, caçadores de javali no mato, etc..

- Então as mulheres passaram a prover também, porque assim pediam os tempos, dando uma bela banana pro marido que pagava as contas.

- Os homens, sem a necessidade de parecer tão machos, ficaram um pouco mais mimimi - leia-se: eles querem um jantar gostosinho servido na hora não porque pagam as contas mas, poxa, porque você mulher me ama muito e tem que demonstrar isso!

- Só que as mulheres, mimimi por natureza desde o Big Bang, também querem ser cuidadas e protegidas (afinal, temos menor massa muscular e "aquele cavalo pode muito bem trocar a resistência do chuveiro sem eu precisar pedir, pode não?").

- Com o jogo de empurra, os casais ficam muito cansados e surtam muito.- Casais que surtam muito param um pouco de aproveitar a vida e ficar cada qual no seu papel homem/mulher e se tornam muito confusos - confundindo também a cacholinha das crianças.

- Sim, porque a mãe de antigamente não existe, só tem agora a mãe que trabalha 12 horas fora de casa e mais 4 dentro dela - se tornando um monstro esquizofrênico que, pra compensar o mau humor, faz de tudo e mais um pouco pelos pequenos; o pai-que-era-a-lei também não existe, porque esses, tendo se tornado um homem-soft, ficam culpados por trabalhar outras 12 horas (e também mimam a molecada). Temos, então, os menores-déspotas.

- Forma-se essa meninada chata e marrenta que não vê mais a beleza de subir numa árvore, porque a árvore fica na rua e a rua é assolada pelos bandidos, pela poluição, pelos vírus, pelos animais infectos e pelos agentes que cuidam da Zona Azul.

- As crianças, chatas e marrentas de acordo com o acordo social, são enviadas pras escolas que as deixam ao deus-dará ou à casa dos avós.

- Os avós, que também já tiveram sua cota de trabalho de 12 horas diárias por anos sem fim, ficam com o saco cheio e deixam a moçadinha fazer o que quiser. E sai de cena a vovó que cultiva gerânios e cura tudo com manteiga ou o vovô que dá moedas pra comprar pirulito no bar; entra em cena, assim, a babá que tolera o que todos os demais adultos não toleram.

- E pra pagar a babá que tolera tudo, pai e mãe trabalham mais ainda e surtam mais ainda, deixando as crianças ainda mais loucas e com baixa imunidade e mais propensas a pegar os virus das ruas.

- Daí todo mundo fica puto da vida e os dias parecem simplesmente não passar.

- E daí começamos a ter alucinações de que essa sociedade já faliu e legal mesmo é todos começarmos a nos reorganizar em núcleos como em "A Vila" de M. Night Shyamalan (vide ala dos DVDs encalhados das locadoras).

Eu não vivo assim, mas de tanto olhar ciclos como esse ou semelhantes acontecendo, já estou procurando terreno pra montar a minha Vila. Quem quiser, só se increver. Ah: e lá os homens ainda deverão prover a carne e abrir as portas pra nós mulheres, beleza?


E nem adianta ficarem me olhando com essa cara, homens da Vila