terça-feira, 29 de maio de 2012

Fui, vi e venci

Querida Vivi,

Espero que o seu retorno até em casa tenha corrido bem, amiga. Bom, eu sei que tudo foi bem, porque já trocamos mensagens. Esse mundo de hoje é muito ágil mesmo. Pensa só: em coisa de um mês a gente combinou uma viagem, nos encontramos ainda no aeroporto, nos abraçamos feito umas Mirtes, batemos perna até a perna quase cair, compramos bobagens, comemos bobagens e falamos tantas, tantas bobagens... Agora eu fico aqui, vez por outra só lembrando como foram nossos dias nova-iorquinos - e como viajar tira e põe o melhor de/em nós.

O bom é que foi bom do primeiro ao último minuto. Coisa incrível, porque viagem sempre tem aquela hora não tão boa, aquele banzo, aquela viela escura que a gente quebra errado e em vez de achar uma catedral acha uma capela caindo aos pedaços... Mas não essa. Essa foi incrível desde sempre. Quer dizer: claro que a Olívia ficou com febre no dia da minha partida, obrigando a choro desbragado no banheiro, ameaça de não ir mais e uns 57 "por que comiiiiigoooo?".

Mas, depois disso, eu fiz a mala e ganhei uma carona pro aeroporto com os melhores e mais gentis amigos que uma pessoa pode ter. Te contei que Leo e Bia me buscaram, me levaram, carregaram minha mala, estacionaram sob aquele preço absurdo, fizeram check-in comigo, tomaram cafezinho, esperaram comprar um livro e só me soltaram na hora do embarque? Eu só queria chorar ao sair de casa, mas depois eles me acalmaram e cuidaram tanto que eu só queria rir.

E eu ri. Eu ri de leste a oeste quando a Eva chegou no avião e pediu licença e sentou ao meu lado. Eu nunca tinha visto a Eva na minha vida, mas ela virou minha amiga de infância em coisa de 18 minutos. Ela conversou tanto, foi tão legal e animada, tão coração aberto e querida, que eu nem vi aquele passarinho de aço periclitante sair do chão - o que foi um avanço pro meu pavorzinho de decolagem. Eva e eu fomos companheiras pelas 10 horas de vôo e sinto que agora somos amigas, ainda que distantes. Porque a Eva viu NYC comigo pela janelinha e emocionou também.

Eu te disse, quem não emociona com Nova York bom sujeito não é. Tão cheia da pose, essa cidade, e ainda assim tão descolada e receptiva. E tão, tão recheada de boas coisas. Lembra nós, já no primeiro dia, tomando café em Times Square e caminhando até fazer bolhas pra ver o Rockefeller Center, a loja de brinquedos essencial que é a FAO Schwartz, o Central Park? E depois sacramentando o dia no nosso hotel bem localizado e confortável? Tá bom, eu vou ignorar a parte da barata no teto e de como eu gritei feito maricas ao dar com o sapato e vê-la quase cair em cima de mim. Nova York não foi sobre baratas, e sim um barato.

Até hoje sorrio ao pensar na gente checando aquele Museu de História Natural do subsolo ao quinto andar, observando tudo e nos maravilhando com a perfeição dos displays dos animais, com as roupas dos povos todos, com as maquetes, as ossadas, o fundo do mar ali na nossa frente. Eu voltaria mais 17 vezes. Até pra provar aquele macarrão com queijo infantilóide e delicioso que comemos no bandejão do museu.



Também fecho os olhos pra lembrar da visita ao Metropolitan, imperdível, onde eu finalmente consegui ver os Edward Hopper ao vivo e não apenas no poster descarado que eu mantenho na parede sobre a minha cama. E eu sei que você sonha com o Met também. Com a parte de arte contemporânea e com a lojinha cheia de coisa linda. São bons, esses americanos, em amealhar uns troços egípcios pra nos encantar e depois botar uma lojinha no final pra nos tirar uns trocos. E são excepcionais os nossos comentários quando em um museu. Nunca esqueço de você olhando séria aquela prateleira repleta de vasos de vidro do período grego e comentando "mas como pode, os copos lá de casa não duram uma semana, como esses aí ficaram inteiros tanto tempo?!". A gente devia gravar um audio-guia alternativo pra museus.



Também não preciso dizer da minha emoção ao caminhar o High Park todinho na sua companhia, olhando aquele jardim suspenso fantástico e pleno de verde, de trilhos, de passarinhos, de florzinhas e de gente que curte, como nós, ver uma área ser erguida e recuperada apenas como uma ideia excelente. Ainda não me conformo de não ser dona de um apartamentinho colado no High Park. Mas quem sabe, um dia, o Minhocão se transforma...



Como nem só de caminhada vivem as pessoas de bem, eu penso e repenso também - e comento com todo mundo, já provocando um enjoamento no pessoal - sobre o Eataly. Que espetáculo culinário, hein, Vi? Seo Mario Batali, aquele gênio, apanhou um galpãozão jogado às traças ali na 5th com a 23st e fez o que poucos imaginaram fazer: um misto de mercadão, loja, paradinha gourmet, restaurantes (uns 9 ou 10?). Fiquei feliz de termos vencidos os 40 minutos de espera pela nossa mesa intimista e de ter saboreado um dos melhores macarrões da minha vida.



Eu também amei demais o almocinho no Pastis, o giro pelo Village e pelo Soho (agradecida pela paciência em me seguir quando eu embananei com o mapa), as idas ao Chipotle (agradecida por ir duas vezes ao meu mexicano favorito), as paradas na H&M pra caçar roupas pras meninas (agradecida por ajudar a segurar todo o fardo adquirido), as paradas na Uniqlo (agradecida por concordar comigo que essa fast-fashion japonesa é um templo de amor ao vestuário), os cafés da manhã, as caminhadas sem fim e o fim dos dias jogadas cada qual em sua cama fofa, comendo cheesecake e assistindo meu amado HGTV, o canal da bricolagem.

Foram poucos, mas foram dias adoráveis. Ano que vem, onde mesmo? Já quero reservar passagem.

Com amor,

Flá

PS.: Você foi embora cedo no domingo e eu nem pude te contar que comprei minha primeira saia com nome de estilista na etiqueta, que fiquei na fila na loja de fotografia, que entrei na Toys'R'Us e saí com uma braçada de besteiras, como um dinossauro de pelúcia e um tubo de pastilhas pra colorir a água do banho das meninas. Te ligo, linda. Saudades.