Mas aí, passados esses talvez 20 anos... eu sucumbi. É, eu sei, pode começar a sarrear de volta. Eu traí as minhas crenças - aquelas que eu nem sei mais quais eram - e, há coisa de quatro meses, estou dando homeopatia pra fortalecer o sistema imunológico das minhas filhas. E, quando é o caso, tratar também nariz escorrendo e inflamaçõezinhas leves. Às vezes eu ainda rio ao pegar o vidro e contar 10 glóbulos e inserir na goela das pobres. Mas ó: chega um momento em que a gente faz praticamente qualquer negócio pra ganhar uma ajuda contra os males infantis. Feio é não dar uma chance pra novas artimanhas.
O caso é que era um tal de mês sim, mês também, ver menina com coisinhas de saúde. E isso vai transtornando a minha cabeça fraca. Eu posso mover um trem na unha, mas eu não domino vírus e bactérias (ainda). Então, dado o saco cheio com a alopatia, resolvi dar também uma chance pra nova pediatra, a moça de fala mansa, gestual de monge e cara de sacerdotisa, e suas beberagens. Quer dizer, assim fica parecendo que a Doutora Fátima é um mix de Fada do Carvalho com a Feiticeira do He-Man. Mas não, ela só joga nas duas frentes: entramos com o armamento pesado quando necessário, mas também apostamos na farmácia de manipulação e aquela coisa zen toda.
Bom, a rigor eles não dizem ter nada de zen, mágico ou supernatural na homeopatia. Eles dizem que é ciência pura. Eu ainda acho discutível uma receita que manda fabricar bolinhas doces com 'germes e poeira' e coisas do tipo. De vez em quando olho bem procurando também 'balinhas de goma', 'um toque de pirlimpimpim' e 'agora misture com amor e vire à direita até o amanhã'.
O caso todo é que, há quatro meses... a coisa vem funcionando. Pegam muito menos melecas e, quando pegam, saram em coisa de dia ou dois. É claro que tem o fato de as duas estarem crescendo e ficando mais fortes e mais sabidas e parando de lamber corrimão de shopping center à menor distração dos pais. Mas, não sei, acho que as bolinhas ajudam. E aquele outro vidrinho com o líquido que tem gosto de birita também.
O diabo da homeopatia é que eles querem que eu leve a sério, mas não me ajudam (eles, no caso, são todos os envolvidos: a pediatra, o farmacêutico manipulador, os autores de livros especializados e a minha irmã, que insiste nessa coisa faz 20 anos). Faço lá as bolotas; e depois vêm as recomendações. Mantenha longe do calor e em local seco e ventilado. Bom, até aí qualquer remédio pede isso. E também não pode deixar a coisa perto de aparelhos elétricos e ondas magnéticas. Complicou, porque aqui a casa é pequena.
Então eu não posso deixar no armário das louças, porque o microondas fica ao lado; não posso deixar na bancada porque é onde carregam-se celulares e tablets; não posso deixar na sala por causa do computador e da televisão e nem na pia, no guarda-comida ou em cima da geladeira, porque bate sol em tudo isso e viola a primeira regra. Não posso deixar no banheiro porque eu tomo banho quente e o recinto não tem janela- e, quando eu acabo o banho, o local ganha o apelido de As Brumas de Avalon. Não tenho onde deixar essas bolotas; acho que vou ensacar tudo, amarrar uma corda e pendurar pra fora da janela.
E tem também a administração. Não pode dar o liquidinho em colher de metal. Não pode dar com o estômago cheio. Olha, essas meninas comem o dia inteiro como dois pequenos búfalos. Nunca tem estômago vazio aqui, a gente é meio italiano! Como proceder?
E, além de tudo, parecem sagu