quinta-feira, 29 de abril de 2010

A hora do anúncio

Aí você vai lá, segue os procedimentos escatológicos do teste de caixinha e, finalmente, descobre a melhor notícia de todas! Bebê à vista! Instantaneamente, passa um flash de coisas na cabeça - que deve ser como aquele de quando a gente está pra morrer, só que na versão boa. Tem imagens dos dias lindos que virão, das roupinhas que vamos comprar, das mamadeiras em fila... quase que dá pra sentir o cheiro de talquinho e lavanda no ar. E logo depois disso, começa-se a pensar na transmissão da notícia, claro.

O papai, é fácil e rápido de informar. Dono da Casa, por exemplo, foi tomado de assalto duas vezes já com frases desconexas ditas em volume explosivo e voz desafinada. Tipo "aimeusdeusMarachoquedoisrisquinhos cruzadosquerdizerqueeutôgrávida!!!". Logo seguidas de um "buááá" sem fim. Pai avisado, é hora da turma de sangue muito próximo.

Eu sei que tem gente que leva uns dias ou semanas ainda pra contar aos próprios pais. E acho bem compreensível, porque tem mãe que pira e começa a tricotar em desespero, dar conselhos estapafúrdios e pentelhar em nível máximo a vida privada do casal. Pra essas, seria bom tentar um "mãe, sabe onde eu estou? Na materni-da-de!". Assim, como quem não quer nada. Mas elas infartariam, então melhor liberar a notícia logo, fazer o quê?

Daí contamos aos amigos chegados, só pra ver a cara de bobo deles e se emocionar com isso. E tem aquela regra sobre as demais pessoas: contar só depois de três meses completos de gravidez, quando a chance de perda do bebê cai bastante. Bom, na teoria eu acho que faz sentido, mas... e na prática? Cada vez que a gente vai ao banheiro vomitar até os pecados, diz o quê ao chefe? "Foi o marisco do almoço"? Ou "É culpa do seu estilo de gerenciamento, que me dá náuseas"?

Fica meio impossível esconder. Seria preciso inventar mentirinhas sobre as consultas, sobre os exames frequentes, sobre a não-possibilidade de encher a cara no happy hour, sobre o nojo que dá o cheiro de perfume da sua vizinha de mesa. Muito complexo. E, além do mais, eu acho meio duvidoso. Pois se a tragédia de perder o bebê vier, vai querer me enganar que será "levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima"? Sem dizer nada aos amigos, colegas e etc.? Impossível. As lágrimas iam denunciar tudinho e as explicações viriam de qualquer modo - só que acompanhadas de incômodos olhares de pena.

Por isso já me chamaram muito de língua solta, corneteira etc.. Eu sei, contei sobre as minhas filhas em detalhes, intimidades e na rede mundial de computadores. Eu sei, é ousado. Mas acontece que a alegria é tão grande nessa hora que, caramba, guardar segredo só entre mim e aquele escatológico teste de caixinha seria um desperdício. Então eu grito "bebê à vista!" para quem quiser ouvir!

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Full house

Sei muito bem que, há poucos dias, estava eu mesma aqui dissertando sobre como é bom está só. Mas todo mundo sabe que a solidão é boa quando é escolha, não condição, certo? Porque eu acho que não tem nada mais importante nessa vida, nada mesmo, do que ter gente por perto.

Ah, tudo bem, os momentos de paz e quietude são dádivas. É bom poder conversar nada de nada e trocar o canal da TV com o dedão do pé enquanto devoramos cookies molhados no toddy escuro por horas a fio. Mas isso só tem graça porque é a exceção, não a regra. Se fosse a regra... bom, logo poderia haver um episódio cardíaco e seríamos encontrados dias depois, meio comidos pelas baratas. E isso não é interessante, né, essa solidão eremita.

Ter gente perto não só é necessário como é legal. E faz bem pra alma, vai. E se nós não temos certeza disso no dia-a-dia, quando é um saco encontrar a tampa da privada malditamente erguida, é fácil de ver quando a vida aperta.

Quando a vida aperta, fica é óbvio. Estar na miséria e receber do amigo um convite pra fazer piquenique barato é um afago. Estar doente e ter quem traga a comida, a água e as cápsulas é um bálsamo. Estar desiludido, cansado, pressionado e com espinhas e receber um cafuné, um olhar compreensivo e um sorriso é a salvação.

Pra tudo isso, precisamos de gente perto. Pras horas boas e festivas, também! Quando o sábado chega ao meio-dia ou à meia-noite e o povo baixa aqui com travessas nas mãos, garrafas na sacola, umas risadas altíssimas, abraços apertados e histórias e mais histórias, eu me regozijo! Não quero que ninguém vá embora, não quero que a conversa acabe, não importa se já ficou tarde e se amanhã tem trabalho. Quero o pessoal. Quero o meu pessoal, seja ele de sangue ou de coração.

Muito bem, eu dei 10 razões por que é bom ficar só, não foi? Pois aqui vai uma só razão por que é bom estar acompanhado:

1. A vida faz muito mais sentido.

Este texto é dedicado à minha mãe (a bonitona da foto abaixo), que largou tudo pra vir aqui cuidar, cozinhar, conversar e muito mais. E pro Dono da Casa, que mesmo longe não deixa de zelar. E pra querida Fabiana, que está SEMPRE convidada pra uma visita. E pra minha Sabrina, a melhor companhia que há. E pra muito mais gente que, felizmente, povoa a minha solidão.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Home alone

Outro dia eu estava assistindo a um desses seriadinhos bem bestas e achei muito engraçado o fato de a menina decidir curtir uma noite sozinha em casa, lavando roupa e pedindo comida indiana, e 20 chatos aparecerem pra lhe estragar o mundano programa (ok, eu vejo reprise de "Gilmore Girls", podem tirar o sarro agora). É que eu, como a menina, fico incrivelmente bem sozinha - até diria que adoro - mas... como é difícil estar só e bem hoje em dia, não?

Primeiro que, quando a gente diz que fica sozinho e feliz, a maioria já estranha. Devem achar que é sintoma de depressão, sei lá. Eu não acho, não. Sou crente fiel daquele poeta que mencionou "silence is golden", sabem? Não sei se é o fato dessa casa aqui ser tão animada, com a pequena Sabrina reinando por todo lado e o Dono da Casa sempre circulando feito um metrô, mas eu me deleito com a quietude e a solidão.

Além disso, eu sou capaz de dar 10 motivos pelos quais ficar sozinho é sempre bom:

1. A gente pode comer qualquer barbaridade, como cheetos mergulhado no catchup, que ninguém ficará fazendo cara de nojinho e dizendo "creeeedoooo".

2. A gente pode se espalhar como nunca no sofá, de perna aberta, pés na mesa ou sem calça sem medo de ferir umas dez leis dos bons modos.

3. Dá pra conversar sozinho, falando alto tudo aquilo que ficou guardado, ou mesmo criticar o entrevistado da TV, tecendo comentários chulos sobre sua pessoa, seu comportamento ou sua camisa feia. E ninguém te chamará de doido de pedra.

4. É possível deixar a louça suja na pia, os sapatos jogados e a toalha molhada na cadeira - o que é um alívio pra alguém como eu, que vê a desarrumação como uma presença quase-humana.

5. A gente pode dublar Mika na sala de estar sem dever explicações sobre aquela performance.

6. É permitido ler em total paz de espírito, se embrenhando nas palavras e situações, rindo ou chorando, sem parar por nada.

7. É permitido exercitar seus hobbies prediletos, mesmo eles sendo tão esquisitos para os outros. E tome praticar taxidermia!

8. Dá pra tirar soneca fora de hora, no meio da tarde, e aproveitar o sono mais gostoso do planeta sem precisar ouvir nêgo te chamar de vagabundo.

9. É finalmente possível tingir o cabelo, descolorir os pelos da perna ou depilar a sobrancelha sem ser visto (o que é bem providencial, porque não é interessante ser notado quando se está parecendo o monstro da lagoa negra on drugs).

10. A gente pode assistir as piores desgraças na televisão sem comprometer a reputação. Quem segue "Keeping Up with the Kardashians", hein? Eu também não, lógico... (Só quando estou sozinha).


Ah, que instrutiva é a minha solidão!

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Eu me armo

Eles querem acabar comigo, mas não conseguirão. Nem pensar. Se eu cair, caio atirando - palavras, é claro. Não que, de vez em quando, aquela gente do SAC não suscite uma grande vontade de acionar um bom lança-chamas. Mas eu digo não à violência. Combato esse mal, isso sim, com paciência, anotações, organização de guerra e só aqui, no gogó.

Já passou por aquela sensação de frio no estômago que precede o fato? Aquele mal-estar que nos abate quando pensamos "porra, eu preciso ligar pra companhia telefônica e resolver esse erro na conta..."? Eu já passei. Eu passo muito, na verdade. É que, quando vejo um engano, uma tentativa de cambalacho, uma estorçãozinha que seja, eu necessito resolver. E toca ligar pros meus conhecidos do Serviço de Atendimento ao Consumidor.

Gostar, eu não gosto. Eu odeio. Eu odeio muito mais do que você, provavelmente. Mas persevero pensando "se eu não ligar e reclamar, e todo mundo fizer assim, é ponto pra eles". E isso me tira o sono. Isso e comer pizza depois das 22h, é insônia na certa.

Aí eu resolvo ligar. Quer dizer: eu às vezes tento escrever primeiro, mas nunca supre 100% de minh'alma. É que eles vêm com aquela desgraça de "resposta padrão", e dá a nítida impressão que foi disparado um e-mail automático e a reclamação original foi sumariamente arquivada (na Lixeira). Receber o velho "Caro cliente, entendemos sua posição e estaremos estando trabalhando para estar melhorando nossos serviços", pra mim, é o mesmo que receber simplesmente "Caro cliente: foda-se você". Daí eu ligo.

Mas antes de ligar, eu me armo. Eu me armo porque não pretendo sucumbir. Sei que vão me colocar na espera, ligar a musiquinha, fingir queda de linha, passar pra 12 departamentos diversos, enrolar, enrolar... Vão querer vencer pelo cansaço e pela minha fadiga moral e mental. Mas eu me armo.

Antes de ligar pra qualquer SAC, cancelo meus compromissos por pelo menos três horas. Escolho uma cadeira bem confortável, com almofadinha, e visto roupas largas (calça de moletom é uniforme de reclamador guerreiro). Vou preventivamente ao banheiro, ajeito em torno uns comes e bebes, posiciono ao lado o laptop com bateria plena (pro caso de precisar de uma pesquisa rápida) e até apanho um livro. Vai que dá pra concluir "Crime e Castigo" enquanto espero.

Organizada e estabelecida, operador de SAC nenhum me pega. Nem ligo de repetir CPF e RG por 72 vezes. Nem me abalo com o vigésimo "só mais um minutinho, senhóóóra", aguento firmona. Armada e possuída pelo espírito dos justiceiros, sigo até o fim do atendimento - e só saio dali com um desconto, um estorno ou o cadáver de um diretor de multinacional fincado na minha caneta. Porque se não for assim, né... Ponto pra eles. E isso me tiraria o sono.


Daqui, eu só saio morta! E agora me passe pro gerente

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Por que você não passa lá?

Conforme contado ainda no post anterior, eu sigo aqui, no estaleiro. O repouso já se estende por quase 30 dias - e passou por diversas fases. Primeiro, foi o hospitalar; denso, triste, imóvel e atada a uma cama branca cercada de paredes beges por todos os lados. Depois veio a minha cama, de pijamas o dia todo, ainda numa tremenda fossa. Aí estive no sofá, na poltrona, na cadeira bonita da sacada, ao lado do manjericão. Eu me mexi muito pouco, fiz quase nada e lidei muito com o psicológico. Mas uma parte do povo em volta não queria saber muito disso, eles só queriam mesmo visitar. Estranho, né?

O ensejo foi só pra puxar o assunto principal: visitas. Visitas são ótimas - da minha parte, adoro fazer e amo receber. Mas visitas demandam um item essencial: bom senso.

Visita, pra mim, tem que ter hora marcada. Tem que avisar bem antes e tem que ter certeza absoluta de que a pessoa quer vir aqui/quer que vá lá. E não pode, jamais, ser moeda de troca. Como aquilo: "ah, a tia fulana fica dizendo que não conhece nossa casa, eu preciso convidá-la". Credo, eu odiaria saber que alguém me acha visita-obrigatória.

Uma vez marcada, a visita deve ser razoável. Chegar na hora certa é o básico. E sair na hora certa também. Porque tem nêgo que vai, beberica, fala, janta, toma cafezinho, fala mais ainda, recusa o licor mas segue falando... O cães já estão uivando na rua e o fulano nada de dar área.

A bem da verdade, quando a gente está feliz e contente, e se a companhia for mesmo muito boa, a visita pode avançar além do Corujão que ainda diverte. Mas quando a gente não está tão bem assim... poxa vida, bom senso, né?

Eu não entendo de verdade aquela turma que quer visitar recém-nascido e a "feliz mamãe", por exemplo. Veja bem: a mulher acabou de sentir passar uma melancia por onde mal passaria uma ameixa. Ela está provavelmente desestruturada, com hormônios loucos, tentando lidar com aquele pacotinho chorão inocente, dentro de uma casa em pandarecos e com o visual idem. Ela precisa de gente na sala de estar, necessitando chá com bolo? Não!

Do mesmo jeito que não é assim tão humano ir lá visitar o recém-operado, a recém-viúva, o recém-desempregado. Quando a pessoa pede e faz questão explícita, claro que tudo bem. Mas se não houve convite, melhor deixar quieto. Ah, me chame de louca, mas eu acho... Tem momentos em que a pessoa não quer preparar canapés e receber gente pra repetir a mesma história pela nonagésima vez.

Tem horas em que a pessoa só precisa de sossego, paz, a TV ligada, um cobertor e suquinho com canudo. Tem horas em que o melhor carinho é não ir. Acho realmente mais bonito quem telefona, fala rápido, não pergunta muito, deseja melhoras e, vez por outra, sinaliza de longe que, se precisar, ela estará lá - seja com flores ou um e-mail. Sincero, gentil e dando espaço pro momento do outro. Bem melhor do que aquele que quer porque quer demonstrar seu apreço - às vezes, só mesmo por mostrar, sem o sentimento genuíno. Pra constar, sabe?

Visita assim, pode passar reto, obrigada. A gente remarca quando... bem, quando for mesmo o caso de fazer visita.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Da convalescença para o bem maior!

Foram (estão sendo) muitos dias em total inoperância. Da cama pro sofá; do sofá pra cama; uma passada no chuveiro, duas circuladas breves até a sacada... e hora de sentar de novo. Tudo isso por uma boa causa, claro. A melhor de todas, de fato - que agora já me sinto bem pra dividir com mais gente!

Acontece que essa família de três em breve ficará de quatro! Sim, estamos à espera de mais uma integrante para os nossos almoços de domingo, nossas lutinhas na cama e nossas viagens insólitas. A mocinha só chega em outubro. Mas como é uma menina muito da bagunceira, aparentemente, promoveu uma revolução na barriga estilo rockstar - jogou TV pela janela, quebrou o mobiliário, descolou parte do saquinho gestacional e pronto... mamãe de cama por 50 dias.

Aí fico assim, nessa toada mais estranha do mundo. Eu, que detesto depender de outros, estou dependendo de todos. Dono da Casa anda parecendo um expressinho, correndo pra todo lado com compras, tarefas e quetais; minha mãe cozinha tudo o que vê pela frente - e me faz comer. Pai, irmãos, amigos... todos já deram sua carona no ir-e-vir da Sabrina pra escola e outros eventos.

Depois da fase de pavor extremo, da tristeza pelo acontecido e da raiva com toque de "mas por que comigo?", entrei na fase ponderada. Pensei e conclui que, mais uma vez, como muitas na minha vida, algo de grave aconteceu pra me ensinar coisas essenciais. Nesse caso, devo aprender a ser menos controladora (gravidez é descontrole, ponto final), a pedir ajuda, a aceitar outras formas de fazer as coisas, a encarar o repouso forçado e deixar de ser um diabo da tasmânia, sempre voando por aí.

Daqui uns 15 dias, espero, tudo volta ao normal. Ao normal, em termos, na verdade: o medo de encarar a escadaria do prédio sem elevador vai me fazer ficar bem caseira, por exemplo. Acho que também vou arrumar a casa bem devagar, trabalhar só nas matérias que posso fazer mais tranquila e programar férias de julho calminhas, tipo bundanaareia. Tudo para esperar a minha nova garota - que, desde já, é tão amada que me faz ficar deitada sem mais reclamações.