quinta-feira, 21 de novembro de 2013

8 coisas

Aí que a minha amiga Denize saiu-se com uma brincadeira dessas de facebook que parece corrente, só que do bem e muito mais legal. É um lance de receber um número e, com ele, ter que escrever a determinada quantidade de coisas que pouca eu nenhuma gente sabe sobre nós. Denize me deu o número 8. E eu fiquei aqui matutando...

... bom, tem muito mais que 8 coisas desconhecidas do *grande público* sobre a minha humilde pessoa. Ainda bem, que não serei eu a querer ficar famosa nessa vida e ter fotógrafo se escondendo nos buchinhos do jardim a caçar cliques. Que humilhante. Pros fotógrafos, claro.

Mas eu acho que posso dizer 8 coisas que pouca gente sabe sobre mim em âmbitos variados. Quem quiser, segura o chapéu aí e vem saber:

1. No profissional: fazendo uma conta básica aqui de uma ou duas matérias escritas a cada mês há 20 anos, mais as crônicas e etcs., creio que já botei pra rodar bem uns 2.000 textos por aí. E o meu favorito continua sendo o primeiro, feito pro jornal da faculdade, sobre uma pracinha safada de São Bernardo do Campo que estava em obras. Só porque foi esse que me mostrou que eu gostava mesmo daquilo.

2. No âmbito gastronômico: eu sinto ódio de gente que pede um prato no restaurante e fica mandando tirar a cebola, trocar o molho, substituir os legumes e enchendo o saco com coisinha. Mais que isso, eu só odeio gente que vai no restaurante e leva um saco de comida de lanchonete pra criança comer. Poderia atear fogo em todos. Se eu fosse o chef, ateava.

3. No âmbito da saúde: eu descobri há um ano que tenho uma bola de quase 8 cm no fígado. Foi um período apavorante até descobrir que ela não será operada, não será mexida, não será remediada. Ela vai ficar ali até... sei lá, espero que pra sempre. Ou que suma com magia.

4. No âmbito familiar: todas as pessoas no meu núcleo próximo têm apelidos absurdos de nomes que inventamos de pequenos ou ao longo da vida. Meus pais, por exemplo, sempre foram o Pintado e a Neguinha pros íntimos; deles nasceram Maria Borga, Relno e Chica; e os netos vão de Georgete e Bicho-Pau a Pedro e Daisy terminando em Janice e LaToya. É assim que a gente deve se identificar ao baixar como espírito e incorporar nos psicografistas.

5. No âmbito esportivo: eu sempre fui um fracasso nos esportes - em muito, porque eu tenho vergonha de tudo. Vergonha do traje apropriado, vergonha da fragilidade inicial, vergonha de ir muito mal, vergonha de quem assiste, vergonha de suar, vergonha de tudo. Vergonha nos esportes: sou portadora.

6. No âmbito turístico: eu só viajo pra curtir praia, natureza, sol e mata se eu não puder evitar (ou pra agradar às crianças). Acho um porre. Entendo o valor do descanso e do cenário, recomendo pra outros... mas meu negócio é acordar e conhecer cidades.

7. No âmbito televisivo: eu assisto 'Esposas da Máfia'. E não é pra tirar sarro, é consciente mesmo.

8. No âmbito do facebook: mais de quatro dúzias dos meus *amigos* de rede social estão no modo 'não mostrar no feed de notícias'. Não é por nada, são boas pessoas, mas enchem o saco com suas colocações. Eu encho também, quem quiser pode me colocar no 'não mostrar no feed de notícias'. Depois desse texto, se for o caso, manda ver.


segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Auto-imagem

Sabe esse negócio de transtorno de imagem, no qual a gente se vê de um jeito diferente da realidade? Pois é, eu tenho isso aí. Só que a meu favor.

Percebi que eu sou portadora de transtorno de imagem - e que, surpresa, ele quer é me favorecer. Nada de achar gorda, feia, molenga, berebenta, esquisita e mocoronga. Meu transtorno de imagem só me quer bem. Eu coloco um conjunto saia e blusa, acrescento tênis, colares e pulseira, puxo o cabelo de lado e, no espelho, acho que ficou superlegal. Aí alguém bate uma foto na festa ou no jantar e... bem, eu estava parecendo um espantalho, na realidade. Mas eu gostei quando vi o conjunto!

Tenho senso-crítico suficiente pra ver, depois, que fiquei bagunçada - mas é um efeito retardado. Na hora de vestir, eu acho tudo bacana. E funciona pra outros setores.

Se fosse pra anotar sem pensar, eu diria que tenho uns 67 quilos. A balança da farmácia, por outro lado, aponta sempre algo entre 73 e 74 quilos. Nem adianta tirar celular, chaves, as balas e o chocolate do bolso, dá sempre isso (por isso eu já nem tiro, apenas desconto uns trocos). Eu me sinto mesmo com 67. Algum psiquiatra precisa estudar e explicar aí esse delay de seis ou sete quilos. Vai ver que é o ego pesado.

Tenho sempre a impressão que os cabelos brancos são charmosos e que a camiseta meio antiga é charme, não falta de tempo e verba pra comprar outra. Tenho sempre a impressão de que, como dito lá em cima, bota e tênis combinam com vestido e que chapéus me caem bem (apesar de toda guru de estilo ou blogueira de moda dizer que não, chapéu algum cai bem pra qualquer humano exceto o Adoniran).

Eu respondo a quizzes e acho que acertar 8 de 10 é um PUTA score, e que minha habilidade de motorista me habilitaria pra Le Mans. Eu gosto bastante da minha comida e tendo a me achar engraçada (daí, talvez, gostar também de chapéus, como dito acima, já que chapéu é pra quem sabe rir até de si). Eu me considero boa com as palavras. E cantando. E atuando. Mesmo sendo um trabalho interno e sem ninguém mais dar aval algum sobre disso.

Tenho sérias críticas à minha pessoa, mas quase nenhuma delas tem a ver com aparência e apresentação social. Tenho certeza absoluta - até com testemunhos - de que outras pessoas discordam veementemente e acham que, vixe, eu precisava bem urgente de uma personal (stylist/ shopper/ trainer/ complete aqui com outros ajudantes). Mas eu só peço opinião alheia pra ter certeza que a minha é boa o suficiente. E que as barras dobradas da calça não achatam minha silhueta, mas sim a destacam.

Se eu acho tudo perfeito? Longe disso. O nariz é grande demais, as coxas roçam uma na outra, teria que fazer um extreme makeover semanal nas minhas sobrancelhas... Mas podendo evitar a dor, pra quê correr na direção dela? Tento com integrais, saias em formato de A (com tênis, sempre), corretivo sob os olhos. E acho que fica é bom.

Não sei se eu tenho um transtorno de imagem do Mundo Bizarro ou falta de espelho em casa. Não sei se o 'problema' é falta de vaidade ou excesso de orgulho. Só sei que eu jogo no meu time - transtornada além da conta.


quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Tomara

Aí a gente fica sempre se acreditando aquela pessoa altamente cética. Cééética, cética. Eu não acredito em fantasmas, vida após a morte, reencarnação. Eu até acredito em objetos voadores não-identificados, mas só pela incompetência da identificação, não que eles portem seres de outros planetas. Eu não acredito em duendes - e magia, pra mim, é tomar café e ver o líquido bater na cuca e acelerar o coração. Eu não acredito em bruxas ou fadas, só no poder científico da natureza mesmo. E acredito menos que tudo no sistema financeiro, em bolsa de valores e no risco-Brasil. Mas aí a gente, cééética, se escuta um dia dizendo 'ai, tomara que...'. Tomara. Tomara?!

'Tomara que o exame não aponte problema de saúde'. A rigor, se a gente for pensar, o tomara não muda a coisa: se estiver doente, o exame mostra; se não estiver doente, o exame mostra. 'Tomara' não vai mudar o resultado do exame. Ou vai?

Torcer pro time de futebol - faz diferença? Você e sua torcida entram em campo, mudam a trajetória da bola, acrescentam braçadas na água ou impulsionam os joelhos e a panturrilha? Não, na verdade. Mas os atletas sempre contam que a torcida a favor tem uma força incrível. Dá pra ser cético e gostar de esporte, então?

Torcer pela felicidade de alguém. Que diabo? A felicidade de alguém é algo tão particular que a gente pode aqui vestir sainha e agitar pom-poms no ar e ainda ser incapaz de mudar qualquer coisa na felicidade daquela pessoa amada. Mas as boas vibrações ganham os céus, batem no satélite e são capazes de atingir lá o outro, dando uma alegrada? Minha amiga que mora no exterior diz que sim, que fica mais feliz quando sabe que eu pensei nela. Dá, aliás, pra ser cética e ter amizade? Amizade não se pega, não se come... 'tomara que sejamos amigos pra sempre'. Pra sempre nem existe!

Tomara. Tomara, tomara, ai, tomara! Dizem os cientistas de uma revista médica que eu li há alguns anos (não tenho a fonte exata, você vai ter que ser menos cético e acreditar em mim apenas) que pensar positivo e desejar coisas boas, sim, tem influência no organismo. Que o corpo sabe quando a gente se anima, manda vibes legais pro cérebro, que solta lá sua magia de substâncias no sangue e evita doenças. Dizem também, os craques da medicina, que, por outro lado, bastam cinco minutos de stress reforçado pra jogar nosso sistema imunológico abaixo de zero. Então seu chefe chama na sala com cara séria, você entra em nóia, alguém espirra do seu lado... pronto, gripe causada por não ser capaz de mentalizar 'tomara que não seja demissão'. É isso?

Não sei. Só sei que ser cética me ajuda e atrapalha, mesmo sendo algo totalmente não-palpável. Eu não creio em cristais ou reza, mas eu digo muito 'tomara'. Tomara que dê certo.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Todos juntos vamos, pra frente, eu e você!

Depois de virar um yakult no meio da cozinha (e em cima da criança) e enfiar uma farpa debaixo da unha, eu admito que o dia não tinha se tornado, assim, colorido. O cinza lá fora dizia o mesmo, assim como a garoa fina marcada para qualquer momento decisivo, como estender as roupas lavadas ou sair pra comprar qualquer coisa na feira.

Aí eu tive más notícias sobre trabalho (mentira, foi sobre o dinheiro que o trabalho renderia, porque notícia ruim sobre trabalho eu tiro é de letra... já o calote...). Aí eu tive notícias não tão boas sobre amigos. Aí a coisa foi ficando, assim, sombria.

Então eu decidi que, sendo o penúltimo dia de aula da mais velha, a gente podia enfiar o pé na jaca e fingir de rico e pedir um almoço japonês pelo telefone. Melhor, pela internet, coisa de rico classudo e moderno. Eu pedi mesmo, pedi até rolinho primavera pra acompanhar. E o aviso de 40 minutos pra entrega se traduziu em 1h30, o que me obrigou a fazer um macarrão instantâneo pras meninas - sim, aquele guardado no fundo do armário, coberto de poeira de farinha de linhaça, destinado apenas a uma possível hecatombe nuclear.

Dado o atraso, saímos às pressas, fora do prumo, que tinha ficado lá em 12h45. Sendo agora 13h15, era abraçar o capeta e correr. E corremos, mas, lógico, dentro do modelo civilizado de estar em chamas por dentro, mas respirar fundo pra ir aplacando esse fogo. Aplacamos antes de o portão da garagem fechar. Estávamos começando a achar por bem cantar "Pai Francisco entrou na roda" quando um homem aparentemente não-medicado pelo psiquiatra sentou com a mão na buzina. Porque o semáforo abriu. Há dois segundos.

Bom, a gente abanou a mão pra ele em sinal de 'bandeira branca, amor, não posso mais, pela saudade que me invade eu peço paz'. E seguimos.

Na quadra seguinte, apinhada de automóveis, uma senhora jogou seu carro de lado, no espaço onde estariam carros estacionados, e... bem, "cortou caminho" para chegar primeiro no farol. Passou, trincando rodas, e partiu. Nossa.

Foram mais dois quarteirões de taxistas em fila dupla e um garoto que simplesmente parou no meio da via de mão dupla pra deixar a caranga furiosa com o manobrista. Desejei, secretamente, que o manobrista fosse aquele que pegou a Ferrari guiada por Ferris Bueller. E que ele tenha tido um dia divertido.

Crianças entregues, tarefa cumprida, entre mortos e feridos salvamo-nos todos. Eu espero que todos. Porque, ó: eu sou a mais favorável a sair na rua em manifestação por um país melhor, mais justo, mais sério. Só que não sei se adianta sair todo de branco, todo de preto, todo pintado, todo manhoso, todo portando cartazes em um dia só na década.

Serve, sim, se a gente sair de casa, também nos outros dias, deixando pra trás o saco estourando de cheio e passar da porta pra rua querendo fazer o país melhor hoje. E amanhã. E todo dia, toda hora. Não adianta chorar e gritar pelo yakult derramado, adianta superá-lo.




quarta-feira, 12 de junho de 2013

Eu carrego corações

Não é que eu seja, assim, uma fanática por poemas. Pra dizer a verdade, eu nem sei se eu entendo todos os poemas ou mesmo gosto da maioria. Daí que eles, os que eu entendo e gosto, acabam chegando na minha mente dos modos mais inusitados. Tem um que eu vi em um filme chamado "In Her Shoes", por exemplo. É com a Cameron Diaz e a Tony Collette, perfeitas nos papéis de duas irmãs muito diferentes sacaneadas pela vida e tentando se entender.

A irmã mais nova lê esse poema, o que é um grande feito pra dislexia dela, e é o momento mais bonito do filme. Eu gosto demais do sentido dessas palavras de E. E. Cummings - e achei legal colocar hoje, Dia dos Namorados, pra todo mundo ler. Porque essa é minha comemoração romântica favorita: o amor por todo mundo, os amigos, as crianças, de quem é ou foi, e não só de quem é mesmo namorado, casado ou tico-tico-no-fubá, como diria Silvio Santos (um poeta menos compreendido).

Então que vocês tenham o coração bem celebrado hoje! E celebrem o amor por todo mundo que fizer parte dos seus corações. Eu carrego o coração de todos desejando mais amor onde quer que vocês estejam!

I carry your heart with me
(I carry it in my heart)
I’m never without it
anywhere I go you go, my dear; and whatever is done
by only me is your doing, my darling
I fear no fate (for you are my fate, my sweet)
I want no world for beautiful they are, you are my world, my true
Here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called Life); which grows
higher than soul can hope or mind can hide
and this is the wonder that’s keeping the stars apart
I carry your heart
(I carry it in my heart)

Eu carrego o seu coração comigo.
Eu o carrego no meu coração.
Eu nunca estou sem ele
Aonde quer que eu vá, você vai, minha querida.
E o que quer que eu faça sozinho, foi você, minha querida.
Eu não temo o destino.
Porque você é o meu destino, minha doçura.
Eu não quero o mundo, por mais belo que seja.
Porque você é o meu mundo, minha verdade.
Esse é o maior dos segredos que ninguém sabe.
Você é a raiz da raiz, é o botão do botão.
E o céu do céu de uma árvore chamada Vida.
Que cresce mais alto do que a alma pode esperar
Ou a mente esconder.
 Este é o milagre que distância as estrelas.
Eu carrego o seu coração.
Carrego no meu coração.

E. E. Cummings

quarta-feira, 15 de maio de 2013

All by myself

Tem aquele filme que eu adoro, que advém de um livro que eu adoro, chamado "About a Boy" - ou "Um Grande Garoto", na tradução brasileira que deve ter sido feita pelo Cascatinha. No filme, Hugh Grant entra na pele de um dos principais personagens e explica que, ao contrário da máxima "nenhum homem é uma ilha", ele é sim. Ele é Ibiza. Bom, eu não sou Ibiza. Talvez eu seja a Sicília. Ou Marajó.

É fato que estar sozinha não é um grande problema pra mim. Eu não fico chateada, solitária, chorando no cantinho. Eu fico bem sozinha. Invento modas, invento tarefas, falo com a minha pessoa... assim, bem louca mesmo. E vem de longa data.

Por exemplo: eu preferia mil vezes fazer trabalho escolar sozinha. Mil e quinhentas vezes. Não era uma opção complicada, porque tinha aquilo tudo - sempre me destacavam como parceiro um cabeção preguiçoso e que não me deixava mandar no grupo; sempre dava pau; sempre era uma dificuldade marcar horário com aquela gente pra reunir a dupla ou a quadrilha (ocupados, nossa... deviam ser as pessoas de 11 anos mais ocupadas do mundo, com suas... disputas de Super-trunfo?).

Enfim, eu preferia pesquisar e escrever sobre Tiradentes pela minha própria conta e risco. Assim como aprender a dirigir. Que saco aquela pessoa sentada no banco ao lado dando palpites e botando reparo... "Acelera mais", "acelera menos", "solta o freio", "não solta o breque na ladeira", "anda do seu lado da rua", "cuidado com a velhinha"... Um porre. Bom mesmo foi quando tomei certa prática e achei um carro emprestado de alguém bem desapegado (obrigada, mãe) e pude sair guiando sozinha, testando comandos e pedais no meu tempo, assim como a noção de distância e a manha da embreagem (desculpa de novo pelo amassado no portão, mãe).

Tão bem eu fico como dona do meu nariz que, pasmem, ninguém conheceu meu vestido de noiva até o momento de entrar no salão. Até ali, alguns viram o desenho, mas nada mais. Eu fui sozinha em todas as quatro provas que a costureira insistiu em fazer. A melhor parte foi que eu decidi tudo sobre ele - a não ser sobre aquele tico de tecido extra na saia, que eu mandei tirar, mas a moça da agulha se rebelou. Tive a impressão que ela ia chorar e dizer "se você tivesse uma acompanhante aqui aposto que ela concordaria comigo!". Mas eu não tinha. Até pra ela não concordar com a costureira mesmo.

Exames médicos: não faço questão de ninguém segurando a minha barra. Olha que eu fico com o coração na mão e talvez fosse bom alguém segurá-lo um pouco enquanto eu vou ali toma o décimo copinho de água, mas prefiro que não. Ficaria aquele clima de jogar conversa fora e fazer a social, quando na verdade só o que eu quero é morrer dez vezes. Não morro, aceito as picadas, as investigações arqueológicas e as doses de embaraço na salinha escura do exame de imagem e fim. Tomo um café com bolacha depois, acompanhada dos fones de ouvido com música, e fim mais ainda.

Nem no nascimento das minhas duas filhas necessitou muito acompanhamento. Especialmente no caso da primogênita. Marcar ultrassom no meio da tarde era muito mais ligeiro e tranquilo. E quem pode ficar saindo do trabalho plena 14h30 pra ver bebê cinza na telinha? Deixa comigo. Fui, vi e venci - e não levei dispositivo para gravação do conteúdo, desculpem. Foi para meus olhos apenas.

Mas é notório que, conforme o tempo passa, estar sozinha é quase tão possível quanto nadar pelada no Pólo Norte. Não acontece mais. Não há muita hora pra isso nos dias de semana, sempre lotados, nem nos fins de semana, lotados e com crianças. Não se pode tomar banho sem o banheiro ser devassado por menores, não se pode ler muito tempo sem tocar um celular ou fixo, não se pode nem ficar escondida no banco traseiro do carro lá na garagem por meras três horas antes que chamem a polícia... Dureza.

Hoje me contento em ser uma ilha internamente. Hoje devo ser, sei lá, uma das Keys lá da Flórida, que seria ilha não houvesse tanta ponte se pegando a elas. Eu sou uma ilha, mas a vida se encarrega de desembarcar turistas em mim a cada quarto de hora. Tudo bem nessa porção de terra cercada de gente por todos os lados.


Podem vir, a solidão morreu de velha

domingo, 14 de abril de 2013

A casa da árvore ponto com

No dia 11 de abril de 2003 eu sei exatamente o que eu estava fazendo. Eu estava ansiosa e eufórica, louca e alegre, apreensiva e motivada. Não, eu não tinha tomado uma carga extra de Fanta Uva, um vício daqueles tempos (que eu não pratico mais porque, bem, tenho medo de já estar roxa por dentro). Eu tinha embarcado, semanas antes, em um projeto todo novo, um site. Eu tinha, na verdade, embarcado, anos antes, em uma amizade.

Falemos primeiro da amizade. Ela foi forjada no fogo de um vulcão perdido no... mentira. Ela foi forjada no banco dianteiro de uma Ferrari 250 GT California... mentira. Ela foi forjada no banco traseiro de uma perua verde rumo a Walley World... mentira. Mentira, não. Tudo foi verdade: minha amizade com a Vivi e a Clarissa foi forjada em filmes que todas adorávamos, em músicas que todas cantávamos, em situações que todas passamos, em recordações de parentes, escolas, ruas, viagens, vacilos, acertos e no pudim que a gente dividia em todo jantar marcado no shopping. Do jantar - e das conversas - passamos ao site.

O site veio pra servir como um mural onde a gente pregava passado, presente e futuro. Era informal e irreverente nas palavras e temas, era a coisa mais profissional que eu já tinha feito na organização, no compromisso e no carinho. Por isso a gente escreveu e eles vieram. Vieram 30. Depois 80. Depois 200. Depois milhares. Cliques e mensagens de gente que morava daqui até o Japão, que tinha de 13 a 50 anos, que gostava de Fábio Jr. e de Iron Maiden.

Nós nos tornamos, pra muita gente, embaixadoras das coisas boas. De escrever bem, de ter boas memórias, de defender os absurdos, de resgatar a intimidade. E olha que a gente levou um ano pra dar nome completo e mostrar o rosto. Fôssemos só gente bem-lançada ou carinhas bonitas na internet... ninguém saberia.

Mas a gente sabia que fazia a coisa certa. Vivi era um poço profundo de bom gosto, elegância, delicadeza e ao mesmo tempo uma suburbana passa-mal que adquiriu um Snif-Snif porque ele era o mais feio da prateleira. Clá era um oásis de palhaçada virtual, uma desembestada que se pegava com ratos pela casa e ao mesmo tempo a melhor referência possível em literatura, música e arte de qualidade. Eu fiz o que pude pra acompanhar o ritmo. E tudo deu certo.

Deu certo a ideia de colocar pra fora nossas mais sinceras opiniões e recordações e a vontade máxima de fazer aquilo que nenhum emprego formal como redatoras rendia - escrever com liberdade. Deu certo ganhar um trocado primeiro com a revista Época, que nos contratou pra uma página fixa, depois com o portal IG, que apostou no nosso apelo. Deu certo, muito mais que tudo isso, trazer pra perto gente que procurava um canto seguro na internet pra fazer amizades com seus iguais. A gente era tudo diferente, mas tão iguais.

Foi a comunidade mais alternativa da qual eu pude participar. Eu, Clá e Vivi passamos por aqueles 2.470 textos juntas - com desentendimentos resolvidos em tempo recorde e sem rancores, sem cobranças e chatices, repartindo obrigações e contas com gentileza. E sobrevivemos também a dia de falta severa de dinheiro, a momentos duros e tristes, a novos rumos, à mudança de país, à chegada das crianças e partida de outros amores. Juntas e separadas, tivemos bem mais que nossos 15 minutos de fama.

Quando decidimos acabar, foi por isso também: porque o valor da amizade sempre precisaria ser maior que tudo - e era hora de acabar com tudo o mais. Por cima, felizes. Foi triste, mas foi bom. Eu ainda tenho dificuldade de dizer alto o nome Garotas que Dizem Ni. Mas a casa na árvore que montamos 10 anos atrás, na qual passou tanta gente e que serviu tão bem pra esse clube, fica pra sempre. Nelas e em mim.