segunda-feira, 29 de março de 2010

On hold

Então, né... Por motivo físico-psicológico, a Sócia da Light precisará ficar uns dias afastada dos textos, ok? Assim que a coisa toda se ajeitar, os posts caseiros voltam à programação normal!

Abracinhos! E, aproveitando, boa Páscoa para todos.

terça-feira, 23 de março de 2010

Num me rela, hein, paiê?

Essa é bem vapt-vupt, porque eu nem acho que seja um assunto que valha a pena - mas que, pelo visto, rende muita pauta na TV e nos veículos especializados em pais e filhos. São eles, afinal, que sempre vêm com aqueles dilemas imbecis tipo "bater ou não bater?" e propostas "polêmicas" na linha "uma palmada educa?". Bom, eu sei a minha opinião sobre isso e digo sem piscar: se bater desse resultado, bastava bater uma vez só.

Eu apanhei um bom bocado na infância e não fiquei traumatizada com as chineladas. Na verdade, se forçar a memória, não me lembro de ter levado uns tapas que não tenham sido merecidos; meu nível de molecagem e a mente voltada pra o mal eram um caso sério. Por outro lado, eu tenho certeza que não aprendi nada com os tais tapas. Chorava, emburrava... e depois fazia tudo de novo.

Com a Sabrina, confesso com a maior vergonha do mundo, eu perdi a cabeça duas vezes e lhes dei um par de palmadas fracas no bumbum. Nunca mais. Ela só conheceu o ardido e o embaraço - e eu só conheci o arrependimento. Ninguém saiu melhor. Bater é só isso mesmo: um pai ou uma mãe demonstrando que perdeu o prumo pra uma criança que nem sabe soletrar "que papelão, hein, adulto que deveria estar no comando?".

Garanto que resolver o evento com uns minutos de castigo seguidos de uma conversa bem séria, olho no olho, e um combinado pra não acontecer de novo é bem mais eficiente. E tenho dito, que essa conversa violenta em dias de Nardonis em julgamento me embrulha o estômago e a alma.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Diga não à obrigação!

Eu queria começar um movimento nacional, quiçá mundial, contra a obrigação para com festas, eventos e afins. É sério: parece que hoje se tornou impossível escapar de certas ocasiões públicas que não são do nosso agrado, não foram ideia nossa, mas alguém achou que devíamos comparecer.

É o casamento da prima distante; é o chá de bebê da irmã do cunhado; é o aniversário do vizinho de mesa no karaokê; é a festa de 15 anos da caçula do chefe; é a festa da firma do marido; é a festa de lançamento do livro de auto-ajuda do amigo de infância do namorado... Ahhh! É festa demais, não é?

Vai ver nem é - mas, juntando todas, a agenda fica dominada por coisas que OS OUTROS querem fazer, não nós. Chega a sexta-feira, eu já começo a computar: rolam no mínimo uns quatro convites do tipo, sendo que a maioria nem é um convite mesmo, e sim uma convocação. "Mas COMO você não vai no bar mitzva do garoto da vizinha??". Sempre me dá uma vontade de dizer diversas coisas, sendo a primeira delas "não indo, ué".

As outras respostas que me ocorrem é "ninguém sentirá minha falta, acredite", "fulano nem me conhece, sei lá por que me convidou" ou "prefiro passar o sábado arrumando o armário de tupperware do que ir nesse negócio". Não é por mal, sabem? Grande parte das vezes, é só por uma imensa necessidade de fazer o que EU tenho vontade.

Penso em pegar um cinema, dormir no sofá, ler meu ótimo livro, passear à pé até a cafeteria e ficar lá por umas horas, comendo bolo e papeando com o Dono da Casa. Penso levar a Sabrina andar de bicicleta, visitar um museu, fazer um piquenique no Jardim Botânico. Sonho com um bate-e-volta na praia, uma fugida até o bairro japonês, uma voltinha no centrão. Penso um monte de coisas, mas aí vêm as obrigações e me soterram antes que eu possa pensar melhor.

Pois ultimamente eu adotei o saudável hábito de dizer "não vou, não". Até dá certo, mas é quase impossível fazer isso e não magoar alguém, passar por malcriada ou virar alvo de comentários nada gentis. Uma pena, viu. Eu sou contra a obrigação - e adoro quando eu mesma convido e a pessoa simplesmente diz "Flá, acho que não, hoje vou tirar o dia pra mim"". Sem mentiras, sem ressentimentos, simples como tirar um band-aid de repente!

O diabo é que nem todos pensam assim, e muitos ainda gostam das obrigações. Gostam delas, vivem delas, fazem questão delas. É aquela turma que, se não convidada pro chá de cozinha da manicure, acha um absurdo e uma desfeita. Eu não acho. Não me convidam, eu acredito que deva ser por motivo pertinente e fico numa boa. Até porque nada com um dia sem a obrigação de estar presente, né?

sexta-feira, 12 de março de 2010

Em São Paulo, 869 graus

Quando me perguntam se eu gosto de frio ou de calor, costumo responder o que parece óbvio: nenhum dos dois. Quer dizer: eu não gosto de "passar calor" ou de "passar frio". Gosto de 23 graus em ponto, vamos colocar assim. Porque qualquer coisa fora disso é um martírio físico e uma zoada na rotina na cidade grande, convenhamos.

Na praia, o termômetro pode bater nos 30 pontinhos que eu tolero (sob as ondas). No frio, com um cobertor nas pernas e um fondue na frente, eu nem ligo pros 12 graus. Mas fora desses contextos específicos, com as tarefas do dia, temperaturas extremas me incomodam demais. Esses dias de calor desumano, por exemplo...

Passo o dia esbaforida, suando, maldizendo o sol e reclamando feito uma velha amarga. Abro todas as janelas, pro ar circular... mas cadê o vento? Nem uma mísera folha da árvore se mexe.

Lá pelas 17h, quando enfim parece que vai ficar mais fresco, a coisa só piora. Porque o esquadrão dos pernilongos entra em campo se houver qualquer fresta aberta, o que me obriga a selar a casa. E eu odeio profundamente casa selada.

Para poder deixar a fresta e não morrer sufocada, é preciso instalar os repelentes nas tomadas - o que traz um leve cheiro de repelente de tomada consigo, o que eu também detesto e, neuroticamente, me faz pensar se não estou envenenando a família aos poucos.

Enfim, a essa altura a casa já está um bafo mesmo e nem o ventilador resolve. Um banho, o terceiro do dia, talvez resolvesse - mas a porcaria do chuveiro a gás só tem duas gradações: gelado-polar ou quente-vulcânico.

Em geral, entrego os pontos e fico com a primeira opção. Porque prefiro tiritar com o jato de água fria do que sair do box já suando novamente. Pensando bem, quando me perguntarem de novo se prefiro frio ou calor, acho que posso responder "frio". Pelo menos até o próximo inverno, quando começarei a maldizer os dias gelados. E sonhar com os inatingíveis 23 graus.

terça-feira, 9 de março de 2010

Fala que eu te escuto. Ou não.

Na qualidade de mamãe que trabalha em casa - e, portanto, não larga da barra da saia da filha - acabei me tornando uma observadora dos costumes infantis. Até porque, isso me encanta: adoro notar como ela aprende, como ela descobre, como ela reflete, conclui, resolve ou se atrapalha toda. De quebra, acabo também vendo bastante como se dá o comportamento dos adultos para com os baixotes. E que curioso é isso às vezes.

Uma coisa que eu não imaginava antes de ser mamãe é como se dá pouco ouvido para a criançada. Sério, eu achava que os pequenos, que hoje se tornaram esses "reizinhos e princesas" na maioria dos lares, eram mais ouvidos. Não são. Pais, tios, avós e quetais escutam bem seus berros e chiliques, exigências e achaques... mas não ouvem de fato.

O que é uma tremenda pena. Porque criança, quando diz o que pensa e o que vai no seu coração, é de uma originalidade incrível. Criam histórias e teorias, inventam modas e palavras, dizem as coisas mais doces e mais loucas. E as mais hilárias, com certeza, porque têm uma lógica toda sua. Pra quem é capaz de parar e ouvir de verdade, é um deleite como nenhum outro.

Mas é engraçado isso: ninguém quer ouvir muito. Uns porque não têm saco mesmo (bocós, não sabem o que estão perdendo); outros, mais esquisito ainda, porque querem falar mais que o petiz. É de endoidecer. Perguntam coisas pra criancinha, mas enquanto ela está lá tentando articular uma resposta, selecionando palavras e coordenando a dura arte da expressão vocal, eles já entram de sola com a resposta pronta. Ou com a tiradinha. Ou com qualquer nova pergunta ou explanação, sem nem ligar.

Daí qualquer criança normal perde logo a linha de raciocínio e aquele pensamento tão legal que sairia da boquinha se perde também. Bom seria se essa gente grande, tão cheia de si, calasse um pouco a própria boquinha e aguçasse mais os ouvidinhos. Como criança mesmo faz, mas a gente não nota. E não escuta.

sexta-feira, 5 de março de 2010

A ironia nossa de cada dia

Eu e o Dono da Casa, enquanto casal casado, até que brigamos pouco (hoje em dia...). Já passamos fases de latir um para o outro por todo e qualquer esbarrão e fases piores ainda, de arrumar encrenca só pra ter assunto. Bom, é justo dizer: isso sempre partiu mais de mim. Quem mandou ele casar com uma mala? E quem mandou eu casar com um sujeito zen desses?

O Dono da Casa aceita a grande maioria das minhas chatices e manias - o que eu reconheço e me move a querer ser menos troublemaker. Tirá-lo do sério é quase impossível, um horror... Mas todo mundo tem seus botões certeiros que, ao serem acionados, causam irritação instantânea, né? Bom: no caso do Dono da Casa, esse botão é o da ironia.

Para complicar o caso, eu sou bem dada à ironia na hora de fazer graça. Pra complicar mais ainda, o Dono da Casa tem algo insuportável sobre sua doce personalidade: ele pergunta tudo. E como se combate gente perguntadeira? Com ironia, ué!

O cara parece mesmo pedir por isso. Está guardando a louça, ele pergunta: "onde ponho os copos?". Vai tomar banho, quer saber: "onde pego um sabonete novo?". Está na hora de vestir a criança pra dormir: "onde fica o pijama da Sabrina?". Vejam: ele MORA aqui! Se eu sei tudo isso, como ele pode não saber? E aí, fica quase incontrolável de responder "ah, os copos eu estou guardando na máquina de lavar roupa" ou "veja se o pijama não está ali no pote com as cinzas do meu avô...".

Mas o que pra mim parece uma resposta ácida-engraçadinha, suscita no Dono da Casa uma súbita vontade de me picar em cubos e congelar. Semana passada, quando ele quis saber "o sorvete eu ponho no freezer?" e eu disse "não, coloca no porta-malas do carro", rolou um stress e eu fui chamada de mal-educada. O que não é de todo mentira.

Eu me defendo, porém, dizendo que é melhor ser meio grosseirinha assim do que reclamar "ai, mas você pergunta tudo!" e começar uma DR sem fim sobre o mau hábito de questionar sem pensar antes, só por mania. No fundo, eu acho mesmo é que o Dono da Casa gosta da brincadeira. Não fosse assim, ele não viria segunda-feira sim, segunda-feira também, com a famigerada questão "Flá, você vai ficar por aqui essa semana?".

Eu sei que ele só quer saber sobre meu volume de trabalho; mas ele sabe também que eu responderei, como sempre, "não, essa semana eu vou pra Fiji mergulhar" ou "não, mas se precisar você pode ligar no meu apartamento em Roma, que eu estarei lá" (variando criativamente os lugares, a coisa fica ainda melhor).

Só espero que essa questão não acabe causando nosso divórcio. Eu não poderia ser feliz com nenhum outro pentelho perguntador e sem exercitar minha chatíssima verve para a ironia. E até quando ele viesse com "vamos contratar advogados para o processo?", eu seria obrigada a dizer "não, vamos contratar adestradores de urso...".

segunda-feira, 1 de março de 2010

A caixa mágica

Tem coisas sobre as quais não adianta brigar muito com os filhos. Não que não valha a pena impor limites - sempre vale -, mas por pura falta de moral mesmo. Eu ser contra assistir muita televisão, por exemplo, é no mínimo bem ridículo.

Renomada telemaníaca que eu sou, não me sinto à vontade pra ficar fazendo grandes discursos à respeito ou mesmo pra arrumar atrito por isso. A Sabrina tem permissão pra assistir TV quase o quando quer - desde que sejam programas adequados à faixa dos cinco anos, claro.

Ela acaba vendo uns quatro desenhos de meia hora pela manhã e mais dois na volta da escola, de noitinha. Jantar terminado e banho tomado, tem ainda uma rodada-bônus com um episódio do "Sítio do Pica-Pau Amarelo", pra tomar o leite e relaxar antes de se lançar na caminha.

Daí entra em cena a sorte da mamãe aqui: Sabrina gosta da televisão, mas larga a dita cuja em 3 segundos se eu oferecer de jogar com ela ou brincar de boneca ou de qualquer outra coisa - até cozinhar comigo ou ajudar a passar aspirador. Acho que isso acontece pelo clássico motivo: criança gosta de TV, mas gosta mais de ação ao vivo. Pelo menos as crianças que nunca são terminantemente proibidas de ver televisão - o que, na minha opinião, cria aquela louca obsessão pelo proibido.

Não tenho respaldo científico sobre isso, mas acho que deve ser assim que acontece. Não criando o culto à TV ou fazendo dela um objeto mágico e liberado apenas em dias ímpares, ela passa a ser mesmo só aquele eletrodoméstico divertido de ver de vez em quando. E o bom é que a criança aprende a fazer uso natural, e não a repetir o comportamente telemaníaco da mãe.