terça-feira, 20 de dezembro de 2011

2012/SS

Eu adoro listas de resoluções de fim/começo de ano. Primeiro porque elas são igualmente otimistas e mentirosas - e eu acho hilário prometer perder aqueles sete quilos extras quando, já na virada, estamos lá chafurdando num perfil gostoso. Depois, porque listas são um tratado com a gente mesmo; e tem coisa mais humana e mais bonita que resolver coisas com a gente mesmo?

Não interessa que a resolução seja fogo de palha e passe 365 engavetada. Interessa é resolver, porque pelo menos aquilo vai ficar latejando na cabeça e, ué, vai que acontece?! Não por obra divina, mas por nossa obra mesmo. De tanto mentalizar, a gente acaba se convencendo a fazer. Meio "O Segredo" isso? Não sei, não li "O Segredo"... Olha minha primeira resolução para 2012 aí! 1) Ler livros que se tornaram best-seller mesmo tendo um tema absurdo e que eu avacalho sem ter lido, assim posso falar (mal) com sapiência.

Uma boa resolução de ano novo, porém, na minha opinião, tem nada a ver com essas bobeiras estéticas. Perder aqueles sete quilos mencionados no início? Só se for pela saúde, hein, não pra caber numa calça jeans 38. Até porque, as calças jeans 40, 42, 44 e 46 estão aí pra isso. Emagrecer, melhorar o guarda-roupa, tirar aquela pinta suspeita, passar mais vezes na academia que na padaria - tudo isso só vale se for pelo puro prazer de envergar uma carcaça mais produtiva. Funilaria e pintura sim; SÓ funilaria e pintura não, ok? E aí vem mais uma pra mim: 2) Algum esporte, mulher, qualquer esporte! Vamos, se mexe, acha um jeito e acha um tempo! O estúdio de pilates fica a exatos 35 metros daqui, fazfavor?!

Resolução de ano novo que começa errada por definição também não presta. Não me venha com essa coisa de trocar de carro; venha-me com trocar o carro pela bicicleta, pelo metrô, por patins roxos com cadarços amarelos! Se é pra resolver mudar, muda com gosto. Nada de redecorar a casa e pintar a parede "pérola" com tinta "palha", tá? Esqueçamos que o Brasil é esse reino do "verde, amarelo, azul e bege" na hora de decorar: vamos direto aos vermelhões, ao ocre estiloso, ao azul-caribe e ao roxo-berinjela. 2012 tem que ser mais ousado. Pronta pra determinar aqui a número 3. 3) Dar fim à lista de pendências desse apartamento e fazer sumir aquele banheiro mofado, escuro e relaxado que parece a toca de um roedor. Olááá banheiro que dá gosto!

E sim, eu acho boas essas coisas todas estruturais e práticas, mas cadê sonho, né? Carro, casa, carcaça... Tudo lindo, mas onde ficam nossos anseios, nossos desejos mais sentimentais? Anote, sim: 4) Caribe; 5) EuroDisney; 6) Barcelona; 7) Washington com Boston com Chicago com uma paradinha em Nova York e quiçá uma espiadela ali em Nantucket. Lista de resolução que não inclua uma ou mais viagens deve ser sumariamente inflamada com querosene.

A lista boa, só pra ficar claro, também deve incluir namorados, casamentos, descasamentos, bebês, adoção de bichos (e de bebês, por que não?), reconciliações, pedidos de desculpas por carta, fone ou video, jantares à meia-luz, atividades em grupo, atividades em solitário e toda sorte de barbaridades que a gente achar que vai melhorar nosso astral.

Falei em astral? Bom. Minha oitava resolução tem a ver com ele. 8) SS. Sem Surtar. Neste ano que entra eu tenho a árdua tarefa interna de fazer minha vida sem surtar. Parar com os chiliques por falta de dinheiro e ir ganhá-lo. Deixar de dar pipocos quando alguém fica doente achando que estamos todos condenados à morte (quer dizer, a gente está condenado à morte por definição, mas não precisa ser hoje e devido a um vírus letal desconhecido comedor de carne). Acabar com esses ataques de choro por motivo torpe e com as sapateadas por mazelas nem mesmo comprovadas. SS.

Se em 2012 eu surtar 10% menos, tá valendo. 20%, vai. Lista tem que ser aposta alta. Nada de prometer subir de estagiário pra junior. Mira logo na diretoria! E se acontecer uma gerência, ó que delícia?! Acho que chutar alto e se satisfazer com um pouco a menos é sensato. Arriscar pouquinho e se espantar com o extradiordinário acontece muito menos - porque nós somos humanos e preguiçosos. Deseje muito, queira bastante, curta o qualquer coisa que for conseguido!

2012 vem aí e eu resolvo abraçá-lo de corpo, alma e malas prontas. Você também?

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Um muro de enorme distância

Outro dia uma conhecida convidou para visitar a casa dela. Lindo prédio, maravilhoso apartamento, daqueles com mil cômodos, salões coletivos de tudo quanto é coisa, quadras, piscinas, pistas de caminhada... devia ter até um portal mágico pro paraíso, mas esse eu não vi. Lá pelo meio do já manjado "tour-pela-casa-nova-não-repara-a-bagunça", a moça me diz assim: "é uma delícia aqui. São dois por andar, mas as entradas são independentes e eu nem vejo quem mora ali ao lado".

Ela não disse por mal, claro. É uma ótima pessoa, muito gentil e generosa. Ela só quis dizer que a privacidade do lugar era mesmo um espetáculo. Eu até aceito que muito adorem isso, essa separação de entradas, paredes desconectadas, muros altos e a chance de jamais saber que cara tem o vizinho. Aceito, mas não entendo bem.

Pra maioria de nós, o vizinho é o humano não-família mais próximo que existe. O núcleo familiar de fato fica ali, dentro da residência, mas o restante dos parentes mora em outras ruas, bairros, cidades e até estados e países. Eu, por exemplo, estou a 33km em linha reta ou 1h20 de tráfego intenso da casa da minha mãe. Se me faltar um ovo pro bolo já batido ou se me dá um troço nas costas, adianta nada ligar lá pra santa mãe, viu... Até ela checar, o bolo já desandou e o travamento ortopédico pode me deixar pra sempre com a postura do Quasímodo.

A pessoa mais próxima, aqui ao lado, é o Marcelo. Marcelo é meu vizinho de porta, é artista famoso, toca muitos instrumentos e reclama bastante das portas que o povo do prédio deixam abertas. Marcelo também viaja muito se apresentando, então não contamos um com o outro pra coisas práticas. Mas sempre batemos um papo sobre música, sobre o Rio de Janeiro, sobre o calor/frio horrendo que vem fazendo.

Saber que cara o Marcelo tem, como o cabelo dele fica zoneado de manhã (ó, eu só sei porque às vezes nos vemos quando eu vou tirar o lixo, hein?!) ou o que ele acha das UPPs não compromete em nada a minha privacidade. Eu sei algo dele, ele sabe algo de mim e, precisando, temos os telefones um do outro - pra caso de "Flávia, seu apartamento virou uma bola de fogo!", quem sabe.

Além do Marcelo tem a Dona Lucy, que mora aqui abaixo e já recebeu muita encomenda pra mim (e eu pra ela). Tem a Flávia, que divide o apê com a Juliana, e são duas meninas fofas e que recebem amigos bonzinhos que não fazem farra. Tem a Isabel, seu marido e seus três cãezinhos no térreo, vizinha de porta com a Rosinha e o Jefferson, dois figuras de marca que às vezes queimam o almoço de domingo por estarem ligados no futebol.

Eu sei algo dos meus vizinhos, de seus hábitos, de seus gostos e suas vidas no geral. Não precisamos ver uns aos outros de pijama - mas já até aconteceu. Não é questão de um se meter na vida do outro ou invadir espaço, mas somos uma coletividade, não tem como negar.

Eu sei qual TV a cabo eles assinam, qual banco utilizam e onde compram roupas - tudo pela mesa de correspondência. Sei algumas músicas que escutam, sei uns paus que rolam quando brigam, sei que carro dirigem (e como estacionam mal na garagem, putz...). Saber tudo isso, saber os rostos deles e estar aqui caso dê uma grande merda faz parte de sermos uma comunidade. Eu acho bom isso.

Antigamente algumas pessoas viviam em vilas e partilhavam tanto xícaras de açúcar quanto a hora de olhar as crianças brincando na rua. Todo mundo estava ali pra todo mundo, as casas mantinham portas abertas e janelas boas pra apoiar o cotovelo e trocar uma ideia. Hoje quase não se trocam mais ideias. E se o vizinho de condomínio toca a campainha pra pedir um sonrisal, já é motivo pra pânico.

Uma besteira isso. Nós, pessoas, dependemos umas das outras. E se existem pessoas que podem acompanhar nossa rotina de perto nas horas boas e ruins - e ainda regar nossas plantas e evitar que elas virem pó seco -, são os vizinhos. Quando dá um xabu federal, por exemplo, é importante a gente saber quem mora ao lado. Por exemplo: há um ano aquele rapaz que está com prisão decretada por ser suspeito principal de mandar matar a ex-namorada, a advogada Mércia Nakashima, está foragido. Foragido onde, eu me pergunto. Em Atlântida?

Onde quer que esse sujeito esteja, ele tem vizinhos. Ele precisa receber comida, roupas, ajuda. Alguém poderia olhar pra casa ao lado e notar o homem, por favor?

Meninos e meninas são sequestrados e passam ANOS na casa ao lado - e quando a polícia finalmente se toca, os vizinhos vêm com aquele "nossa, eu nunca reparei". Não se trata, de novo, de bisbilhotice. Se trata de interesse pelo outro e por nós mesmos.

Custa nada, quando chega um vizinho novo, ir lá levar um bolinho, uma violeta. É o convite pra uma relação ótima, seja o vizinho aqueles que flutuam pela casa quietos como a brisa, seja o vizinho baterista do Korn. Formar uma boa relação, próxima e sadia, é bom até pra isso: pra ter a liberdade de ligar lá em cima um dia e dizer "Temístocles, abaixa essa merda de rádio que eu não aguento mais a Ivete Sangalo cantando dentro em minha mente? Brigada, lindo, te adoro!".

A palavra vizinho vem do latim vicinus e quer dizer "que vive perto" ou "próximo". Eu sou a favor de sempre conhecer o próximo.

Tem gente que era fã de Friends, mas não reconhece
a fuça do próprio vizinho

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Fala que eu até escuto

Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, minhas filhas teriam que almoçar carne, peixe e frango - e mais um ovo frito, talvez - pra dar a conta de toda proteína sugerida.

Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, eu mudaria pro campo e pra praia simultaneamente, pra ter um ar melhor combinado com uma alimentação mais sadia e espaço pra correr. Moraria, quiçá, ali na mata que fica na serra entre Suzano e o litoral paulista...

Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, pararia a vida toda, largaria meus três tipos de ganha-pão, e passaria o dia entre pintar porcelana e tirar sonecas. Porque, segundo dizem, meu problema é que eu sou estressada.

Aliás, se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, meu problema seria estresse, excesso de zelo, falta de zelo, culpa católica, tendência ao ateísmo, cuca muito fresca, mania de controle, falta de controle, orgulho demais, vaidade de menos. Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, eu teria até mais problemas do que eu tenho de verdade.

Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, minhas filhas se vestiriam bem demais ("pra que tanto vestido?") e bem de menos ("deixa a menina usar uma camiseta com fio puxado?!"). Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, elas também estariam gordinhas demais e magrinhas demais, muito altas e muito baixas, muito brancas, muito vermelhas e muito amarelas. Ah, e elas também comeriam chocolate demais e de menos e seriam muito mimadas e muito desprezadas.

Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, eu teria um apartamento de condomínio de 250 metros quadrados, quadras poliesportivas, academia, portaria 24 horas, salão de baile, seis elevadores e mensalidade milionária. Mesmo eu não gostando de absolutamente nada disso.

Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem eu teria que trabalhar em tempo integral e contratar babá, empregada, cozinheira e motorista - e também teria que largar tudo isso e cuidar tempo integral da minha vida por conta própria. Só porque as pessoas não se decidem sobre o que acham mais saudável.

Por sinal, se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, eu seguiria a alopatia, a homeopatia, a antroposofia, beberia litros de florais, usaria uns unguentos aqui e ali e faria sessões com um xamã. Tudo junto.

Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem eu iria uma vez por semana ao cinema, uma vez por semana ao cabelereiro, uma vez por semana jantar com as amigas, uma vez por semana fazer massagem, uma vez por semana na psicóloga e passaria o fim de semana numa pousada de charme à sós com meu marido. Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, eu seria uma mescla de Angelina Jolie com Imelda Marcos!

Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, já teria parado de ouvir tudo o que me dizem. Porque todo mundo é gentil e tem boa intenção ao dar conselhos, mas ainda acho que, na prática, a teoria costuma ser outra. E a gente segue fazendo o que pode e como sabe, né?

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

É moda

Tenho nem vergonha de admitir que estilo para vestir nunca foi o meu forte. Exceto por algum relance (bem) esporádico, meus conhecimentos e habilidades nessa área são pra lá de limitados. Eu não combino bem cores - a não ser que usar preto com preto seja uma combinação. Eu não jogo bem com camadas, com acessórios e não sei um nhé das tendências.

Visto só o que eu acho bonito e que fique confortável. Isso é o máximo que eu sei fazer com moda - botar um jeans, uma blusa, um sapato razoável. E nem adianta dizerem "ahh, mas pelo menos seus sapatos são legais!". Eles são mesmo, mas pelo mero acaso de o meu bairro ser um desses redutos de gente ananaíra bem-lançada que vende uns sapatos bons de usar E engraçadinhos. E, sendo sincera, eu só compro porque são bons de usar. Se fossem apenas engraçadinhos, eu passaria reto.

Tudo isso é culpa de uma criação que não privilegiava o estilo, de uma verba curta pra coisa toda e de uma certa ojeriza a lojas e provadores. Tenho um bode tremendo de explicar minhas preferências pra vendedores (principalmente para aqueles que acham que, se brocado está na moda, eu devo usar brocado. Eu abomino brocado. E esse é um bom exemplo da minha intimidade com a moda, já que o brocado não é algo válido desde 1976).

Gosto mesmo é de lojas de departamentos que colocam tudo lá e a gente que se vire. O problema é que, além de sem-estilo, eu também sou um chute no saco quando se trata de roupa. Acho quase tudo feio, bobo, de qualidade duvidosa e custo elevado. Ou seja: pode ter lá a maior loja do mundo, com 50 mil cabides... a chance, ainda assim, de eu achar algo que goste é menor que a chance de o Paul McCartney ligar aqui em casa e me chamar pra comer churros.

Vou vivendo assim, à margem da moda, mas com um certo desagrado. Eu queria saber mais, usar melhor, comprar com gosto. Mas é difícil. Veja como é difícil.

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De uns quatro meses pra cá, eu perdi uns 6 ou 7 quilos. E nem adianta cumprimentar, visto que pra mim magreza não é virtude e que esses quilos se esvaíram por estresse e baixo astral... Por sorte, passou! Mas os quilos ainda não voltaram.

O caso é que eu acredito que em breve os quilos voltarão, sim. E as calças que agora me caem pelas cadeiras, como fazer? Mantenho pra usar quando voltar a ser rechoncha? Dar embora e comprar novas, mais acertadas? Comprar uma nova, mas manter a velha, pra ter aquele versátil "guarda-roupa de magra - barra - guarda-roupa de gorda?

Eu acho que os suspensórios seriam a melhor solução... Vou apanhar das fashionistas na rua?

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Tudo bem, tem loja com vendedor chato, música ruim no áudio, preços esclerosados, etc.. Mas nada se compara, na questão demoníaca, aos cabides que elas usam. Eu tento ser cliente discreta e delicada, passando as peças lentamente pra ver direitinho... mas não tem uma vez que a porra da camisa/camiseta/vestido fica parado no cabide. Devem passar vaselina naquelas hastes. As roupas se atiram no chão sempre, me causando o maior desconforto.

A Julia Roberts ficou avexada por ter sido posta pra fora da loja chique em "Uma Linda Mulher" só porque a moça achou que ela era pobre e rameira? Imagina derrubar um monte de roupa do cabide por 36 anos, o trauma que causou em mim!

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Quando eu era criança, a moda não me dizia nada. Adolescente, ela ainda não me dizia nada, mas pelo menos eu sabia que me vestia mal, e aí sim começou a ser problema. Teve um dia, por exemplo, em que eu me vesti pra ir no bailinho de uma amiga (ocasião adolescente anos 80 equivalente a Baile de Gala do Met pras socialites americanas de hoje). Ficou "tão bom" que o meu irmão me agarrou pelo braço e me levou trocar de roupa.

Mandou tirar a saia escrota e colocar uma calça jeans básica. Mandou colocar a camiseta branca, dobrou as mangas pra ficar cool, descolou um cinto da nossa irmã mais velha e, cabelo solto penteado e mais uns acessórios, ficou um show. E meu estilo básico ousado (apesar de ser uma fraude) me tornou a sensação daquela festa.

Agora me digam se uma garota que, adolescente, precisou da ajuda *do irmão mais velho heterossexual e baixista de banda* pra se vestir teria alguma chance com a moda nessa vida.

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Esses programas da TV em que os apresentadores se lançam na tarefa de tirar o mau gosto do mundo consertando um cafona de cada vez são meu guilt pleasure. Adoro a tiração de sarro, a postura estúpida dos envolvidos, as dicas. Ah, as dicas... Compreendo todas, mas acho que uso nenhuma.

A primeira coisa que eles sugerem, por exemplo, é que a pessoa sem estilo (como eu) não seja gado e pare de comprar na mesma loja, as mesmas coisas, nos mesmos modelos só trocando as cores. Bem, até o fechamento dessa edição aqui, eu possuía quatro camisetas da mesma Luigi Bertolli em quatro cores distintas.

Caiu bem a peça, eu juro! Ok, já pode chamar o camburão... Eu aceito ser condenada por falta de moda.

Meus companheiros nessa luta!

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

E um feliz Dia dos Mortos, por que não?

Percebi que existe a corrente do "abaixo o Halloween, seus colonizados de merda!". Quanto ódio, credo. Acho que esse pessoal poderia ser menos raivoso e sombrio e se unir no espírito de brincar um dia que nasceu foi no México e seguiu aos países latinos pra celebrar os mortos - e só daí é que bateu lá nos EUA como o Dia das Bruxas.

O Dia dos Mortos, ouvi dizer, é divertidíssimo nos países latinos de colonização espanhola. Tem feiras e mais feiras vendendo toda sorte de barbaridades como crânios, fantasias, badulaques e muitos quitutes (latinidade, teu nome é "comida"). Como adoro manifestações populares, sempre tive um apreço pelo Dia dos Mortos e pelo seu parente imigrante, o Halloween.

Não me ofende em nada a palavra em inglês, até porque nosso Dia de Finados, em português, não serve como tradução nem paralelo, é outro caso. O Dia do Saci tentou emplacar, mas parece que o carisma do moleque ainda não pegou. Tomara que pegue. E, enquanto isso, eu vou ali deixar minhas filhas se fantasiarem e brincarem com maquiagem de zumbi e desenhar aranhas e fazer origamis de morcego pra pendurar na casa toda. Morcego frugívoro brasileiro, eu juro!

Perda de tempo esse anti-americanismo bobo de gente que também toma Coca-cola e quer arrotar Tubaína mas não consegue porque a carne é fraca. Vamos deixar as coisas divertidas da vida se ajeitarem como podem, ave... Aqui, fizemos uma adaptação: declinei solenemente o pedido da Sabrina pra sair fantasiada pelo prédio requisitando guloseimas; em vez disso, combinamos que seria muito mais legal fazer guloseimas e ir levar aos vizinhos por eles serem bem bacanas.

Passamos a tarde confeccionando bolinhos de lama (chocolate) cobertos com pus (beijinho) e com um twist de sangue coagulado (geléia de framboesa - e eu tive pra passar horas explicando o que é "coagulado"). Foi divertido e Sasá e os vizinhos amaram. A roupa preta vai hoje pra lavar e os morcegos de papel vão ficar pendurados até começarem a aparecer teias de aranha de verdade.

Qualquer desculpa pra curtir um dia diferente e desmistificar a morte e seus meandros fazem bem ao nosso dia a dia tão sério. Então feliz Dia das Bruxas, dos Mortos e de quem curte um dente de vampiro!

Happy... Dia do Saci, sei lá!

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Abre a porta e a janela

Minha relação com casas - não só a minha própria, mas todas as casas - é muito intensa. Eu sempre vou me lembrar de míseros detalhes de todas as casas em que eu morei. E boto reparo na casa alheia sim. Mas não, eu não noto as roupas jogadas no canto, as migalhas na mesa do café ou a louça suja na pia. Eu olho mais o todo. E não entendo a relação que algumas pessoas têm com as casas.

Acho que casas são substantivos concretos com uma alma dentro. Tem parede, porta e janela feitas de cimento, tijolos e madeira. Mas elas têm cada uma sua personalidade. Casa é que nem gente, só que melhor.

As casas ganham a nossa cara quando vamos morar nelas, mas também impõem a sua ordem. A gente pinta a casa de cor de rosa Barbie pra ficar uma casa assim bem menininha - e aí os anos passam, a tinta desbota e a casa da Barbie peituda, esguia e loirona vira uma casa de vovó doce que aprecia um tonzinho salmão.

Tanto é verdade que as casas têm alma que basta a gente entrar em uma pra sentir uma vibe. Às vezes boa, às vezes nem tanto... todas têm um ar diferente, um cheio nesse ar, um tipo de conforto ou desconforto a oferecer. Gente que procura casa pra comprar ou alugar vai concordar com isso: entra-se em uma e dá vontade de sair correndo; entra-se em outra e, pronto, dá aquela sensação de lar. Vai entender essas casas. (Mas eu acho que as de vibe ruim só não encontraram seu caminho ainda, elas vão melhorar...).

O que não dá mesmo mesmo pra entender é gente que não percebe nem respeita a alma de uma casa. Tem lá quem compre 500 delas e bote tudo pra alugar sem nem dar uma pinturinha ou arrumar o portão quebrado. E aí vai outro e, muito pior, mora na casa sem nem dar uma pinturinha ou arrumar o portão quebrado! Falta de respeito, credo. Alugada, própria, emprestada, possuída... a casa é nossa, temos que fazer o melhor por ela.

Quando compramos o apê que hoje é nossa casa, o apelidamos carinhosamente de "pedaço de Saigon" (ok, a alusão só vale pros nascidos antes de 1980 que entendem a metáfora vietnamita tão bem lembrada por Emilio Santiago). Era tudo uma lástima, com chão arranhado, conduítes estragados e ladrilhos se soltando como periguetes no Carnaval. Ainda assim, sentamos ali entre os tacos soltos, vimos a luz do sol vespertino entrar e nos apaixonamos. Eu me senti em casa desde o minuto #1.

Tinha alma, esse lugar. E me doeu bem pensar que os que moraram aqui antes não viram isso. Eu sei que eles não viram porque, no batente da porta do quarto havia um tremendo talho - produzido pelo homem pra passar um fio de TV a cabo. De verdade: quem abre uma cicatriz numa madeira de 60 anos de vida, num apartamento de 60 anos de vida, pra passar um fio? Que gente é essa que não sabe ter capricho e nem carinho pela alma da minha casa?

Eu ando pelo bairro e vejo casas e mais casas à venda e pra alugar. Todas com mato alto na entrada, todas com telhas soltas, todas tristes e sozinhas, passando frio e fome de vida interior. Eu olho pra elas e tenho certeza que queriam ter crianças em seus jardins, cachorros roendo seus móveis, adultos brindando as festas de fim de ano. Todas foram fixadas na faixa do milhão pra mais - e por mais que eu respeite o direito à propriedade, tenho um certo asco da especulação e como ela fere a alma de casas tão lindas deixando-as assim, largadas por não terem um dono que se importe.

As casas querem ser moradas. Querem ser recheadas de gente, de vozes, de decoração brega e bibelôs trazidos de viagem. Querem ter fotos espalhadas nelas e alguém que lhes dê um banho de verniz, um balde de água e um almoço de domingo. Querem ouvir nossas canções no rádio e no gogó, querem abrigar nossos dias bons e ruins e preservar nossos pertences bem no coração delas.

Porque toda casa precisa de carinho e afeto pra formar uma alma dela e nos ajudar a formar também a nossa.

Minha casa tem alma, e que bonita ela é

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Alô, fã do esporte!

Eu gosto muito, muito de esportes. De todos eles.

Eu curto muito ir a estádios de futebol, por exemplo. Porque, enquanto rola a bola, eu adoro esperar o tio do amendoim passar e comprar um punhadinho - e comer apertando a casca e soprando os excessos. Fico também no aguardo do tio do picolé. Todo mundo torce o nariz porque sempre tem só de uva, mas eu adoro.

Adoro vela também. A cultura da vela, mais precisamente - porque, convenhamos, assistir competição de vela só dá certo quando a gente está bem instalado no barco da juria. Das margens, vê-se nada. Mas é bom notar que é uma comunidade de gente interessante e amiga, sempre contando sobre os portos onde estiverem, as histórias mais empolgantes.

Acho uma delícia ver na TV os jogos olímpicos, panamericanos, de inverno e afins. É nessa hora que a gente se delicia fazendo chacota com as roupinhas da ginástica rítmica e da patinação no gelo; é quando a gente nota a funilaria imaculada do pessoal da natação; é quando a gente até acha basquete e vôlei esportes legais; é quando a gente torce por países com um humilde representante; é quando a gente descobre barbaridades como o curling - e se pega torcendo pros suíços, vê se pode.

Eu também paro pra ver esportes que nem são da minha área, como beisebol e futebol americano. Eu adoro ambos, de coração. Aqueles uniformes são demais, com as calças colantes e os capacetes cheios de marra no caso da NFL e aquele pijama maneiro no caso da MLB. E há que se respeitar esportes onde gente desengonçada, na casa dos 40 e acima do peso tem sua chance!

Tênis também prende minha atenção - já que é mesmo impossível ignorar os "uuu" e "ããã" que esses atletas de hoje cismam em gritar a cada bola devolvida. Seria como ignorar também os figurinos das irmãs Willians ou o tique-nervoso de Rafael Nadal (toda jogada precisa ser precedida por aquela ajeitada na cueca? Sério?).

Eu gosto de ver competições de carro também, porque é divertido acompanhar aquelas marcações todas na tela - e torcer loucamente pro pit-stop ficar abaixo dos 5 segundos. Bom, eu sei que é besta, mas a gente precisa vibrar com alguma coisa nesses dias automobilísticos..

Curto conferir o atletismo como um todo - e acho uma pena não passarem mais provas de arremesso de martelo etc., porque sempre há a chance de alguém acertar aquelas lanças num juiz e fazer história como homicida olímpico. Curto umas porradas bem dadas no judô, no taekwondo e similares. Curto até um bobsled, um esqui cross country e um show do ciclismo (porque, de novo, GRANDE chance de alguém sair voando pelos ares e a gente poder dizer que viu ao vivo).

Eu gosto muito, muito de esportes. Talvez não do modo convencional, mas gosto muito.

Tem como não gostar?

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Eu te reclamo

Eu reclamo do meu marido. Bastante.

Eu reclamo do meu marido de dia e de noite. Reclamo quando acordo de manhã tão cedo porque ele fez barulho e reclamo quando acordo de noite tão tarde porque ele fez barulho.

Eu reclamo do meu marido às segundas porque é segunda, às terças porque chegou muito tarde, às quartas porque viajou, às quintas porque é costume e às sextas porque demorou pra pedir a pizza.

Eu reclamo do meu marido nos fins de semana também, pricipalmente porque a casa tá bagunçada e porque as crianças estão descontroladas.

Eu reclamo do meu marido em português, inglês e francês - mas nessa última ele retruca e eu não entendo porque ele fala rápido.

Eu reclamo do meu marido em território nacional e no exterior. E já brigamos, pelas minhas contas, em quatro cidades da Europa, duas dos EUA e em algum lugar entre Lavras e Tiradentes.

Eu reclamo do meu marido na sala porque ele nunca senta pra conversar, na cozinha porque ele lava a louça devagar, no banheiro porque ele molha a pia e na sacada pra ver se os vizinhos escutam.

Eu reclamo do meu marido pras minhas amigas, pra minha mãe, pra minha prima e pra minha cunhada. E eu reclamaria pra minha sogra também, se eu não tivesse noção do perigo.

Eu reclamo do meu marido quando ele não está aqui pra me ajudar e falo tanta barbaridade que depois me sinto até culpada. Mas daí passa e eu reclamo dele de novo.

Eu reclamo do meu marido enquanto marido, enquanto pai, enquanto filho, enquanto espírito santo, amém. E ele não é nada santo (apesar do que diz a minha mãe).

Eu reclamo do meu marido aos berros, às lágrimas e às gargalhadas. Porque ele mexe com as minhas reclamações mais profundas.

Eu reclamo do meu marido em verso e em prosa - mas eu sou muito melhor na prosa, porque não acho boas rimas pra "ele nunca fecha a porta do guarda-roupas".

Eu reclamo do meu marido só por reclamar, mesmo quando ele não fez nada, por uma questão de treino.

Eu reclamo do meu marido há 10 anos e pretendo reclamar até eu fazer 90 anos ou ter um AVC de tanto reclamar, o que acontecer primeiro.

Eu reclamo do meu marido com jeitinho e às vezes ele nem percebe que eu tô reclamando.

Eu reclamo do meu marido em voz alta e dentro da minha mente - mas na minha mente eu sempre tenho razão.

Porque a verdade é que eu amo demais esse marido. E como ele faz aniversário hoje, meu presente será não reclamar dele por 24 horas inteiras. Começando daqui a pouco, assim que ele escutar umas boas.

Amo você, marido. Mas muito. E não tenho reclamação sobre você.

Parabéns, seu lindo

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Abuso profissional

O que eu sei é que acho um belo porre quando alguém me puxa pelo braço e começa com aquilo de "olha só, eu tenho uma matéria óóótima pra você fazer!". E registre-se que, em geral, a pessoa está indo me levar falar com o sobrinho dela que enfiou um feijão no nariz ou coisa que o valha.

Eu sei também que os médicos ficam bem putos quando, naquela festa de casamento ou na happy hour, a moçada acha um jeito de pedir pra ver "essa descamação estranha que eu tenho nas costas" ou "a minha garganta, ela tá muito vermelha?".

E eu nem sei quantos farmacêuticos já planejaram assassinar pessoas que, no momento de descontração, perguntam se eles não podem descolar umas caixinhas de Viagra ou do antibiótico do momento. "Pô, só umas de vitamina C então, vá?".

Também não culpo os arquitetos por emburrarem loucamente quando lhes pedem pra "rabiscar aqui no guardanapo um desenho pra sala de estar nova". Assim, desenho de graça, tipo autógrafo de cartunista.

E o que dizer dos fotógrafos, assolados por gente sem classe que convida pro aniversário do filho e, discretamente (not), pede com jeitinho "ô, leva aquela sua máquina boa, hein?".

Seria justo ainda que os dentistas não fossem obrigados a olhar obturações lascadas durante almoços informais com a família. Sei lá, eu acho meio nojento - e eles, por outros motivos, também devem achar.

Eu só fico imaginando ainda quanto constrangimento passam os artistas em geral - cantores, instrumentistas, desenhistas, designers, grafiteiros, tatuadores e outros - que precisam explicar pros colegas que eles não "quebram galhos", eles trabalham em troca de dinheiros justos como todo adulto economicamente ativo.

Acho que o povo, hoje em dia, só não quer tirar casquinha profissional de peritos criminais. O resto, tá abusado.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Corra, bebê, corra!

Eu sempre fico em dúvida sobre até onde vai a beleza de fazer graça com os filhos e onde começa a zoação exagerada.

Começa singelamente, mas logo a coisa fica meio estranha. Com as roupas, por exemplo. A gente inicia comprando e/ou ganhando aquelas camisetas engraçadinhas dizendo "Gatinha da Mamãe" ou "Daddy´s Best Friend" (porque as marcas adoram botar dizeres em inglês pra parecer mais garbosas) e logo está vestindo o filho como um homem-sanduíche do centrão. E, pior, as frases ficam meio sacanas... Outro dia vi um menininho usando uma blusa escrita "milk drunk". O moleque anda pela rua se autoentitulando de bêbado e a mãe seguramente acha superengraçado.

Aliás, pais e mães mais novos ou mais punks é que adoram isso, vestir o filho como um cartão de visita. Uma vez eu comprei e vesti na Sabrina uma camisetinha dos Beatles. Ficou fofa e eu tirei até foto - mas depois me deu um mal-estarzinho.

A menina sabia nem usar o vaso sanitário, não tinha que mostrar por aí que a mãe dela morre pelos Fab 4. Isso só serve pra criar um revoltado que, na adolescência, vai nos assolar com CDs do Restart de pura marra.

Falando em fotos, a gente também pira um bocado nessas horas e embaraça bem os filhos (não no momento, mas no futuro, o que é um talento e tanto). Conheço um sujeito que fazia mil fotos dos filhos nos cantos mais absurdos da casa, como dentro da sapateira ou no porta-LPs.

E tem uma moça que roda em spams mostrando a filhinha produzida, com panos e acessórios, em cenários como circo ou o campo. Ambas as crianças apareciam sempre dormindo. Ou seja, tinham nem direito de defesa com uma bela gorfada no adulto-zoador.

Fica bonitinho vestir um gorro com cara de urso no menor, mas aquelas chupetas que imitam dentaduras de monstro, por exemplo, são horríveis e dão nervoso. Não é engraçado! Quer dizer, até é um pouquinho - mas poxa, bullying no próprio filho?!

Acho meio esquisitinho fazer tudo isso com a criança só pra parecer um pai ou uma mãe mais descolados. Criança já é gracinha por natureza, não precisa a gente querer deixá-los mais moderninhos, menos bebês-bobões. Os bobos, no final, somos nós. E todo mundo sabe disso, precisa nem de camiseta pra dizer.

Mãe, sério, se isso bagunçar minha cabeça no futuro, eu culparei você

sábado, 10 de setembro de 2011

Bullshit psico-parental

Tem umas coisas sobre a criação de filhos que entra na seara do "puro achismo". São frases e ideias que os pais e os psico-especialistões inventam e que, de tanto repetir no rádio, na TV e nas revistas com bebês obesos na capa, viram verdade - e aquela verdade mais cretina, que só serve pra pais e mães se sentirem menos culpados. Mas ó, tudo bullshit. Muitos de nós, inocentes, caímos nessa pela opressão da vida, mas é tudo besteira. E eu posso dizer, porque já aceitei ouvir uma vez ou duas essas bobagens até cair na real.

Como por exemplo:

"Ah, melhor acostumar desde cedo a dormir com barulho, viu."
Isso costuma ser coisa de quem adora uma baladinha em casa, cantar e dançar Madonna usando a escova de cabelo como microfone, uma TV no último volume e churrasco no quintal todo santo domingão - e acha um saco mudar tudo isso quando nasce o bebê. Mas olha, "acostumar" é uma coisa bem relativa, né? Bebê pode acostumar a dormir na ala do reco-reco da bateria da Mangueira. Se aos 8 anos, no entanto, ele se tornar aquela criança que escala a cortina e grita até ficar azul, vamos comemorar o fato de ele dormir com barulho? Hum.

"Ah, eu não esquento leite pra dar, não, melhor acostumar com frio, que senão tem que ficar procurando microondas em todo lugar quando saímos."
Eu adoro pais e mães que pensam no conforto do filho, sabe? Já ouvi a frase acima mais de uma vez - e me peguei pensando "ora, então por que você já não acostuma ele a beber cerveja e comer tremoço, pra poder alimentá-lo no boteco sem precisar levar nada de casa?".

"Ah, eu levo pra sair comigo à noite, sim, senão ficam aquelas crianças anti-sociais."
Verdade, ficam mesmo. E é um baita saco essa criança anti-social que não sabe se portar em restaurante fino à meia-noite, dormindo em cima do prato, credo. Bom mesmo é petiz que orna bem com sapato de fivela e blazer, levanta o dedinho pra beber café e ri de piadas racistas.

"Ah, ele adora o i(complete aqui com Pod, Pad ou qualquer coisa da Apple). Nem liga pra gente, só quer jogar."
Provavelmente a criança percebeu que o i(complete aqui com Pod, Pad ou qualquer coisa da Apple) tá mais interessado em entretê-la do que os adultos ao redor.

"Ah, ter qualidade de tempo com o filho é mais importante do que quantidade."
O caralho. E isso eu posso dizer não só por TER filhos, mas por ter SIDO filha. Podia passar um domingo todo de zoológico, almoço fora, festinha e cinema com o meu pai - assim que ele saía pra mais uma semana de viagem de trabalho, meu coração ficava amarrado com as tripas. Qualidade é importante, mas quantidade também. Pai que fica bastante em casa, mas só faz ligar a televisão e assistir 12 jogos do Brasileirão, sem olhar na cara do menor, é uma droga de pai; mas pai que tira uma divertida e maravilhosa partida de "Jogo da Vida" por ano também não é grandes coisas, viu. Quantidade conta. E não venha dizer o contrário pra se sentir melhor, que isso é pura bullshit.


Durma com um barulho desses...

terça-feira, 6 de setembro de 2011

O ciclo da vida - e como sair dele

Eu acho que funciona mais ou menos assim:

- Desde que as mulheres, há coisa de 50 anos, pediram por favorzinho pra ter direitos iguais, elas ganharam mais trabalho, a mesma responsabilidade em casa, a mesma cota de cuidados com os filhos e menos atenção na hora de abrir uma mísera porta pra elas passarem primeiro.

- Daí que, vendo isso, os homens relaxaram e pararam de achar que eles precisavam ser aqueeeles provedores, caçadores de javali no mato, etc..

- Então as mulheres passaram a prover também, porque assim pediam os tempos, dando uma bela banana pro marido que pagava as contas.

- Os homens, sem a necessidade de parecer tão machos, ficaram um pouco mais mimimi - leia-se: eles querem um jantar gostosinho servido na hora não porque pagam as contas mas, poxa, porque você mulher me ama muito e tem que demonstrar isso!

- Só que as mulheres, mimimi por natureza desde o Big Bang, também querem ser cuidadas e protegidas (afinal, temos menor massa muscular e "aquele cavalo pode muito bem trocar a resistência do chuveiro sem eu precisar pedir, pode não?").

- Com o jogo de empurra, os casais ficam muito cansados e surtam muito.- Casais que surtam muito param um pouco de aproveitar a vida e ficar cada qual no seu papel homem/mulher e se tornam muito confusos - confundindo também a cacholinha das crianças.

- Sim, porque a mãe de antigamente não existe, só tem agora a mãe que trabalha 12 horas fora de casa e mais 4 dentro dela - se tornando um monstro esquizofrênico que, pra compensar o mau humor, faz de tudo e mais um pouco pelos pequenos; o pai-que-era-a-lei também não existe, porque esses, tendo se tornado um homem-soft, ficam culpados por trabalhar outras 12 horas (e também mimam a molecada). Temos, então, os menores-déspotas.

- Forma-se essa meninada chata e marrenta que não vê mais a beleza de subir numa árvore, porque a árvore fica na rua e a rua é assolada pelos bandidos, pela poluição, pelos vírus, pelos animais infectos e pelos agentes que cuidam da Zona Azul.

- As crianças, chatas e marrentas de acordo com o acordo social, são enviadas pras escolas que as deixam ao deus-dará ou à casa dos avós.

- Os avós, que também já tiveram sua cota de trabalho de 12 horas diárias por anos sem fim, ficam com o saco cheio e deixam a moçadinha fazer o que quiser. E sai de cena a vovó que cultiva gerânios e cura tudo com manteiga ou o vovô que dá moedas pra comprar pirulito no bar; entra em cena, assim, a babá que tolera o que todos os demais adultos não toleram.

- E pra pagar a babá que tolera tudo, pai e mãe trabalham mais ainda e surtam mais ainda, deixando as crianças ainda mais loucas e com baixa imunidade e mais propensas a pegar os virus das ruas.

- Daí todo mundo fica puto da vida e os dias parecem simplesmente não passar.

- E daí começamos a ter alucinações de que essa sociedade já faliu e legal mesmo é todos começarmos a nos reorganizar em núcleos como em "A Vila" de M. Night Shyamalan (vide ala dos DVDs encalhados das locadoras).

Eu não vivo assim, mas de tanto olhar ciclos como esse ou semelhantes acontecendo, já estou procurando terreno pra montar a minha Vila. Quem quiser, só se increver. Ah: e lá os homens ainda deverão prover a carne e abrir as portas pra nós mulheres, beleza?


E nem adianta ficarem me olhando com essa cara, homens da Vila

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Para um casamento de sucesso

Ter uma união estável e duradoura, feliz no dia-a-dia e que nunca deixa a chama do amor se apagar, não é lá tão difícil quanto dizem. Eu tenho a receita:

- É preciso carinho para lidar com a esposa que reclama das coisas jogadas no chão, na mesa de comer, sobre a cama e em cada metro quadrado da casa.

- É preciso respeito para não xingar nomes feios muito alto ao encontrar a pia do banheiro alagada, a toalha ensopada e retorcida no cabide e a tampa da privada demoniacamente levantada.

- É preciso compreensão para os momentos em que se gasta mais do que o racional em objetos essenciais como bancos de couro pro carro, relógio de marca, blusas idênticas em sete cores diferentes, uma caixa de ferramentas do tamanho de uma jamanta, suco de ameixa albina importada ou um estoque de cerveja tipo-viking.

- É preciso doçura para explicar que, porra, microondas não é geladeira e todo pão, bolo ou outro que for metido ali por dois dias vai estragar e deixar um cheiro de jaula no aparelho.

- É preciso paz espiritual para não avançar e morder o braço da pessoa que, apesar de estar no banco do passageiro, quer dirigir o carro no seu lugar.

- É preciso jeitinho para dizer que vestir as crianças com sapatos sujos, camisetas de escola ou vestidos já apertados não é uma opção pra ir a eventos sociais.

- É preciso dignidade pra admitir que, sim, a gente gritou e perdeu o controle - mas é que quebrar o terceiro copo de cristal em dois dias ao lavar a louça é muita estupidez.

- É preciso paciência para aceitar que, mesmo tendo levado duas horas para preparar um jantar saudável e equilibrado, a pessoa acrescenta ao prato 12 litros de pimenta vagabunda e uma nevasca de sal.

- É preciso solidariedade para, depois de 12 horas de trabalho, lidar com uma cidadã que tem o bom-senso, a aparência e os hábitos sociais do Godzilla.

- É preciso humor para viajar com alguém que quer parar em cada mísera capela da cidade de 2.000 anos e leva 15 minutos de fotos em cada elemento decorativo dela; ou aquela que necessita encontrar a fonte diminuta que aparecia no guia como o 35o. item "imperdível" do lugar; ou a pessoa que tem conhecidos até em Katmandu - e faz questão de ir jantar na casa deles um dia.

- É preciso, enfim, muito amor.

E eu sei de tudo isso porque lá se vão, justo hoje, 10 anos de todos esses sentimentos diários pelo Dono da Casa. Meu doce: eu não mudaria um único segundo dessa nossa década. Que venham outros 10 - e mais!


segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Aquele amigo inusitado

Consigo me lembrar bem dos muitos, muitos amigos que já surgiram na minha vida. Lembro de algumas amiguinhas desde o pré - inclusive da menina que chamavam de Caren-Careta, o que me fez avançar em um menino porque, canalha, aquilo magoava a minha amiga. Lembro de amigos da rua, dos primeiros anos de escola, das imediações da casa da minha vó, de amigos feitos em viagens, de amigos de longuíssima data e daqueles que deixaram de ser. Não me ressinto de absolutamente nenhuma amizade que fiz na vida. Todas trouxeram seus aprendizados - mesmo aquelas que viraram "rostos no corredor" (pra entender, melhor assistir "Conta Comigo", aquele tratado sobre amizade). Mas algumas amizades me surpreendem até hoje. São aquelas que não deveriam ter virado nada. Mas viraram, putzgrila, ainda bem.

Sempre fui de fazer amigos com relativa facilidade, mesmo que poucas vezes. Quero dizer: eu não era, assim, aquela que entrava no primeiro dia de aula gritando "e aí, cambada de puta e viado! Eu sou a Flávia, prazer, hein?". As amizades se anunciavam mais devagar pra mim - em geral em meio a algum "esse livro que você tá lendo parece legal, sobre o que é?". E, com a conversa engatada, nascia mais um amigo. Teve quem devolveu a iniciativa com um olhar de "não enche, sociopata", mas é a vida.

As amizades que eu me referi como as que "não eram pra ter virado", no entanto, começaram bem esquisitamente. Na faculdade, por exemplo, eu odiei a Giovanna desde o primeiro dia em que ela botou seu pé com salto-alto na classe. Ela sentava na primeira fileira, se vestia como gente grande, tinha emprego bom e queria responder tudo primeiro - tirando a MINHA chance de responder primeiro, como ousava??

A Giovanna tinha o meu repúdio, mas suspeito que ela também tinha repúdio a mim. Um bem grande. E foi assim por quatro anos: viradas de cara, narizes torcidos e lados opostos em tudo, das opiniões sobre o jornalismo até o distanciamento na mesa do bar. Malditos amigos em comum, que faziam a gente dividir uma mesma garrafa de cerveja vagabunda...

Até que um dia, num trabalho em grupo (suspeito que nos colocaram no mesmo grupo esperando um catfight), comentei que estava querendo sair desesperadamente do meu emprego. Giovanna comentou que tinha uma vaga na editora onde ela trabalhava. Se ofereceu pra levar meu currículo. Aceitei. Trabalhamos próximas por anos, até que um dia ela me viu organizando uma viagem pra Argentina, que eu pretendia fazer sozinha pra não enlouquecer, e se ofereceu pra ir junto. Aceitei. Fomos. Quase precisamos de cirurgia pra tirar os sorrisos da cara, de tanto que foi incrível.

Giovanna foi uma das minha melhores amigas por muitos anos. Por coisas da vida, nos distanciamos, mas ela jamais voltou a ser, pra mim, a insuportável do sapato de salto. Ela segue até hoje, na minha mente, como uma amizade que bizarramente vingou. Ela foi, no ramo das amizades, aqueles bezerros de duas cabeças.

Não bastasse, teve (tem!) a Bia. A Bia não era minha amiga, eu nem a conhecia. Ela foi colega de trabalho do Dono da Casa mais ou menos uns 2 milhões de anos atrás. Marido elogiava tanto a Bia, o trabalho da Bia, a esperteza da Bia, a sagacidade da Bia e os óculos de grau maneiros da Bia que eu fiquei ciumenta. E desgostei da Bia assim, só um pouquinho, como uma birrinha preventiva.

Mas aí a Bia casou e foi morar em Londres - e, quando o casal voltou, convidou o Dono da Casa "e a esposa" pra uma pizza. Antes da sobremesa eu já tinha me apaixonado pela Bia de uma maneira que acho que o marido, desta feita, é que ficou ciumento. Ainda fica, porque até hoje ele diz "mas a Bia é MINHA amiga, não SUA!". Eu deixo ele se indignar - e sigo ligando pra Bia quando eu quero, coisa nossa, ninguém tem nada com isso. Ela é como a irmã que eu sempre tive.

Querem mais? Teve (tem também!) a Fabiana. A Fabiana deve ser o caso mais estranho de todos. A Fabi era a namorada do melhor amigo de infância do Dono da Casa. Mas a Fabi também era a melhor amiga da namorada que o Dono da Casa tinha quando a gente se conheceu. Quando tudo se estabeleceu no nosso namoro, claro que a gente saiu pra conhecer esse amigo dele e a Fabi. Gostaria de dizer que me apaixonei pela Fabi antes da sobremesa, mas a verdade é que eu acho que ela me abominou antes do couvert.

E eu não fui muito fácil também. Não sabíamos, as duas, lidar com aquele "parentesco". Era estranho pra ela, eu tenho certeza. Era estranho pra mim também - ela era amiga da ex, pelamordedeus! Eu faço amigos até que facilmente, mas aquilo era mais do que qualquer uma de nós podia trabalhar.

Lá se vão uns 13 anos. E eu fico feliz em dizer que, de uns 10 pra cá, eu e a Fabi baixamos a guarda, falamos de um tudo e ficamos muito mais do que no melhor que podíamos ficar. No reveillon que passamos juntos, Fabi e eu protagonizamos conversas diárias compridíssimas - e eu lembro de cada uma com o maior amor, porque Fabi fala feito metralhadora como eu, pensa da família o mesmo que eu, tem gostos muito parecidos e é tachada de nervosinha (injustamente, né, querida?) do mesmo modo cruel. Fabi, eu tenho certeza, foi separada de mim na maternidade.

Numa conversa de porta, nesse fim de semana, Fabi dividiu comigo opiniões incríveis e acalmou meu coração só por me fazer ver que eu não estou só. A garota podia me virar a cara mais que todas, ignorando "aquela vadia nova que o Marcus arrumou" ou coisa assim. Mas eu e a Fabi temos tanto em comum que a gente nem precisa mais dos rapazes a tiracolo pra termos nosso lance.

Eu acho que essas amizades inusitadas todas só servem pra mostrar que, muitas vezes, vai de a gente se dar chance e dar chance aos outros. Aquela pessoa que você considera um porre, aquela bisca que se veste diferente de você, a nojentinha, a atacada, a bocó, a ex-o-que-quer-que-seja... todas elas podem não ser bem assim e virarem uma amizade como nunca antes. Eu fico contente de ter amizades assim na memória e no dia-a-dia.


Era pra ela ser só uma qualquer, mas ela virou tudo - até a "Tia Bia"


quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Como eu queria consumir

Eu não sou uma pessoa muito dada ao consumo. Nunca fui. Deve ser trauma pela minha mãe ter me arrastado por tardes infindáveis pelo calçadão de Santo André enquanto procurava sapatos baratos pra uma renca de filhos malcriados. Enfim, eu nunca curti super, na veia, aquela coisa de entrar em loja, pendurar 20 cabides nos braços e passar horas experimentando, ponderando, pagando etc.. Quando eu saio pra comprar alguma coisa, costuma ser menos cena de "Delírios de Consumo de Becky Bloom" e mais "Supermarket".

Ainda assim, eu pratico o consumo (consciente) porque, saco, mandar as crianças pra escola enroladas em papel-toalha parece que não é socialmente aceito. Então eu vou lá e adquiro umas roupas, uns calçados, uns creminhos (que a idade avança e a gente quer ser desapegado, mas não um desapegado parecido com a casca do maracujá). Vou na boa, a maioria das vezes - até me deparar com o combo "preço/qualidade/design" dos produtos que infestam as prateleiras de lojas, mercados e afins.

Eu sou meio chatinha, eu sei disso (por ser chatinha é que eu aprendi a falar "pimentão" em seis línguas, pra não ter o desprazer daquilo relar na minha boca). Mas eu realmente não acho que blusas devam custar o mesmo que meu primeiro carro. Portanto, saio de bico da maioria das lojas. Daí eu viajo e, chatinha (eu disse, "pimentão" em SEIS idiomas), acho certas marcas de fora mais baratas e agradáveis. Daí, suuuperchatinha, sonho em tê-las aqui na cidade, pertinho do coração e da carteira. Eu sonho bem com...

A Old Navy, onde as meias infantis não causam gangrena nas pernocas e um sapato custa como sapato, não como o aluguel de um apartamento.

A H&M, que segue a mesma linha e é outra loja onde a gente pode vestir os filhos sem ter que se explicar pro gerente do banco.

A The Container Store, só porque eu sou maníaca e adoro uma caixa organizadora, uma prateleira prática e um arquivo imaculado - tudo no mesmo galpão com infindááveis modelos de cada coisa.

A Toys R Us, porque além da caixa de Lego e de Playmobil custar algo razoável, tem um monte de brinquedos abertos para "a gente" "testar".

A Macy´s, porque eu compro até que pouco, mas quando compro a lista conta com coisas semelhantes como um jogo de lençol, uma faca de pão e uma chinela infantil. Não é pra amar e morrer de saudade de quando a gente tinha lojas de departamentos?

A The Body Shop, porque eu compro poucos creminhos, xampus e quetais, mas os melhores que já comprei foi desse mix de loja descolada com loja natureba.

Um Chipotle. Tá, eu sei que não é artigo de vestuário que vende lá, e sim uns burritos da hora - e sei que eu moro em São Paulo e é absolutamente ridículo desejar MAIS UMA cadeia de fast-food. Mas eu gosto taaanto de um mexicano. E esse é o mais delícia que já comi.

Um In-n-Out. Tá bom, eu sei que citar uma cadeia de comida já é estúpido, que dirá duas. Mas é o meu hamburguer predileto - e como não ficar fã de uma rede que já tem quase 65 anos vendendo só um cardápio com meia dúzia de itens roots?

A Jo-Ann. Eu nem sou aquela titia que manja pacas de trabalhos manuais, mas só de entrar numa Jo-Ann a gente tem gana de começar a bordar, cerzir, fazer até aquele scrapbook brega.

Eu sei, todo mundo vai dizer "ah, tá, mas mesmo que tudo isso chegasse aqui, chegaria custando os tubos". Mas assim não, eu quero que chegue sendo tão bom e legal quanto já é e custando exatamente a conversão. Eu sei... eu consumo até que pouco, mas eu peço demais.

Eu quero bom, bonito e barato, sim. Pega eu.


domingo, 7 de agosto de 2011

O que é que eu vou dizer por aí...

... quando as pessoas descobrirem que eu às vezes vou dormir tão estafada que pulo o banho?

E que eu também já recolhi a chupeta das crianças do chão e, na falta de coisa melhor, lavei no suco e meti de volta na boca delas.

Eu não esterilizei absolutamente todas as mamadeiras que as meninas já tomaram. A maioria, devo dizer, eu apenas lavei bonitinho e botei pra rodar.

Eu não fiz todas as sopinhas com 100 gramas de carne, um tubérculo, um legume de cor forte, uma verdura escura e um tipo de grão. Às vezes, por causa do estoque falho, eu fiz apenas a sopa que dava pra fazer.

Eu já vesti o mesmo body de ontem na criança simplesmente porque não deu pra lavar toda a roupa - e ó, abandonei o tal sabão de coco aos 15 do primeiro tempo...

Eu já deixei entrar em piscinas de hotelzão, já deixei brincar na areia de playgrounds duvidosos, já deixei se esfregar na escadaria do museu.

Eu tive que largar chorando no berço mais de uma vez porque só tinha duas mãos.

Eu disse palavras nada otimistas na calada da noite, quando o cansaço me venceu.

Eu já chorei na frente das crianças mesmo com medo que isso pudesse deixá-las assustadas.

Eu fiquei triste uma ou outra vez quando todos os meus amigos partiram em viagem, baladas ou jantares a dois e eu fiquei aqui, trocando fraldas, servindo leite e jantando comida fria.

Eu já falei palavrão na frente das minhas mocinhas...

Eu liberei que a mais velha bebesse guaraná com um ano e meio - quando, numa festa junina, ela viu a lata e se atracou implorando pra beber.

Ah, eu liberei também uma porção de brigadeiros logo depois disso, numa festinha infantil, e tivemos que arcar com a primeira dor de barriga.

Eu amamentei menos, muito menos do que gostaria.

Eu escolhi a alopatia em vez da homeopatia.

E depois de colocar minha primogênita na escola aos 15 meses, eu fiz das tripas coração pra cuidar o mesmo tanto da caçula em casa - mas cheguei ao limite da "multitarefice" mais cedo dessa vez e amanhã seguimos para a mesma escolinha começar a adaptação da Olívia. Aos 10 meses e meio.

E agora eu acho que vou me apegar no que dizia aquela banda que um dia foi boa: "nem sempre se pode ser Deus".


Ainda assim, eu espero que você me perdoe, amor...

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

As que não devem ser nomeadas

Existem, é óbvio, várias coisas que eu acho legais demais sobre a maternidade. Uma delas, que acontece até mesmo antes do bebê chegar, é que a mãe ganha um status diferenciado na sociedade. A maioria que passa pelo nosso barrigão quer nos parabenizar e afagar - às vezes até demais, e a mãe se sente uma estátua sacra de templo, periodicamente bolinada em meio às preces. Bom, esse brilho extra, essa importância de vetor da perpetuação da Humanidade e essa especialidade toda são bem legais. Bem mais legais, eu diria, que o outro lado da moeda, quando a gente vira "um bicho escroto que está dando cria pra ajudar a piorar esse maldito planeta".

É exatamente assim que muitos fazem uma mãe se sentir. No âmbito profissional, principalmente. Depois dos parabéns pelo bebê, acabou simpatia, viu? É neguinho de nariz torto porque aquela ali saiu de licença maternidade e a gente ficou com os abacaxis dela; gente de ovo virado porque a mãe recente voltou à labuta, mas telefona sofregamente pra saber do filhote; é a turma fofocandinho porque a fulana não anda lá muito bem penteada e as olheiras fazem-na parecer um panda. A coitada lutando noite adentro pra nanar o bebê não importa; "quis ter, agora 'guenta".

É, bom, a gente 'guenta mesmo. Eu aguentei. Vez por outra, ao aguentar, acabei dividindo isso e aquilo sobre a vida de mãe - só pra notar que a maioria não estava com saco praquele papo. Como freelancer, também aconteceu de não poder pegar o trabalho porque a menininha estava febril ou em fase complicada. Ninguém queria saber. E eu parei de comentar.

Ainda assim, porém, eu não podia levar a minha filha pro alto do vulcão e sacrificá-la em prol de um trabalho temporário espectacular. Não podia e não queria. E mesmo sem comentar nada em detalhes, tive que negar fogo outras vezes pela vida pessoal. Um dia desses aí, sala de reunião lotada de homens, expliquei que não poderia fazer a matéria porque envolvia uma viagem de uma semana. Assim, sem detalhes. Perguntaram por que, diabos, e então tive que soltar, uai, que eu tinha uma filha e cuidava dela sozinha, não podendo sumir do mapa por sete dias.

O retorno? "Você nunca ouviu a palavra 'babá', não?". Assim, direto de esquerda. Bom, eu conhecia a palavra 'babá' e nunca considerei um palavrão, mas o fato era que eu não tinha, não queria ter e não achava necessidade. Perder alguns trabalhos por isso estava no meu programa. Não no dos caras, porém.

E naquele dia ainda ouvi muitas baboseiras mais, como por exemplo "mas eu tenho filho e a minha mulher deixa com a babá pra trabalhar" (vejam que a mulher deixa com a babá; ele, não; ele deixa com a mulher, já que ela quem teve "a coisa" e, portanto, deve se encarregar disso). E naquele mesmo dia, deixando o prédio com vidros espelhados e povoado pela misoginia, decidi que nunca mais eu sequer tocaria no nome das minhas filhas pra recusar um trabalho.

Inventei cirurgia de separação do córtex cerebral, trabalhos fictícios em outra dimensão, reformas da casa do cachorro que eu não possuo; aleguei de tudo, menos algo que citasse minha vida em família e, sobretudo, as crianças. A sociedade brasileira é afável com a meninada - desde que ela não atravanque o progresso.

Às vezes sinto que deixei "eles vencerem", mas sacudo a poeira e fica assim. Melhor deixar pra lá do que tentar fazer uns e outros entenderem que o trabalho deveria ser só 33% da nossa vida - completos por mais 33% da família e mais 33% do nosso tempo pessoal pra hobbies, projetos secretos e uns minutos na banheira. Não sou eu quem vai ensinar pra ninguém que filhos criados por mães e pais presentes, que fizeram suas escolhas assim de bom grado, podem ser mais seguros, tranquilos e felizes.

Cada um acha como acha. E o que eu acho, hoje em dia, eu guardo bem longe das pastas de trabalho.

domingo, 3 de julho de 2011

É cada pergunta que me aparece...

"Mãe, como é que funciona esse pauzinho do carro (câmbio) que você muda toda hora?".

"Mãe, do que que é feito o ar?".

"Mãe, se você morrer e o papai morrer, com quem eu vou morar?".

"Mãe, como a galinha faz o ovo dentro dela?".

"Mãe, a Sibéria é um lugar que dá pra gente visitar?".

"Mãe, por que mataram o Jesus se ele era bonzinho?".

"Mãe, o que você acha que é mais legal de eu ser quando crescer: cozinheira, pintora de quadros, professora, cuidadora de animais ou fisioterapeuta?".

"Mãe, como é que nasce o girino?"

"Mãe, o que é 'cadastral'?".

Sério, às vezes eu preferia responder pra Sabrina de onde vêm os bebês. Seria mais fácil do que explicar o que é "cadastral".

terça-feira, 21 de junho de 2011

Dependência de empregada

A semana passada rolou em cima de um assunto que eu achei curioso. Falavam por todos os lados das novas regras trabalhistas para empregados domésticos - que agora terão direitos que outros trabalhadores já tinham, como férias, décimo terceiro etc.. Pasmei um pouco porque eu achava que, uma vez registrada, a empregada tinha tudo isso. Tinha nada. E ainda houve "patroa" entrando em pânico dizendo "aimeudeus, e se ficar mais caro pra eu ter a mocinha aqui todo santo dia???". Paga mais, uai. Força, vai... Inspira, expira, inspira... São só regras que já deveriam existir há muito, muito tempo.

Em geral o serviço prestado por essas moças (em geral são mulheres mesmo, que homem parece não topar com balde e rodo nem como profissão) envolve um esforço físico brutal, cuidados com cama, mesa e banheiro, cuidados com a criançada, funções de secretária e outras coisitas mais. Botasse um diretor de multinacional pra fazer a coisa toda com o mesmo salário de CEO, ele sairia correndo e gritando. Mas as moças fazem tudo. E tinham nem direito a FGTS.

Vai a gente, gente de escritório, ficar sem FGTS... E olha que a vida profissional de uma pessoa no escritório muitas vezes pode avançar até os 70 anos. O desgaste físico sofrido pelas empregadas deveria dar a elas aposentadoria mais antecipada que pra jogador de futebol. Eu bateria um bolão até os 40, mas não teria força pra encerar chão até essa idade.

Aí que todo mundo há de concordar com tudo isso, claro. Até que a coisa aperta pro lado da "patroa". Xiii... quando aperta pro lado da "patroa" ela fica desconcertada. Fica com dúvidas, ela fica nervosa, ela fica manhosa, ela ameaça mandar a moça embora porque vai custar demais... Mas não manda, viu. Porque tem gente com dependência de empregada.

Eu tenho amigas queridas e algumas conhecidas que sofrem disso aí. É questão de costume, acho. Acharam uma boa alma pra arrumar camas e passar roupa, lavar panelas e bater tapetes, cuidar dos pimpolhos e até cozinhar um feijão dos deuses. Facílimo acostumar com isso! A vida fica mais ajeitada e organizada quando a empregada dá conta de tudo e mais um pouco. Mas não pode abusar, hein? Senão, quando acaba, vem a abstinência de empregada.

Uma das minhas amigas mais queridas me dizia outro dia que a rotina dela anda tão louca, mas tão louca, mas tão louca que ela nem pode pensar na possibilidade de alguém da família ficar doente. Se isso acontecer, danou-se. Principalmente se a empregada ficar doente. Aimeudeus, se a empregada ficar doente, f* tudo!

Muita calma, gente. A empregada às vezes fica doente. E às vezes não fica, mas fica o filho dela ou o marido, e ela precisa cuidar. Ou ela perde o trem. Ou não tem trem. Ou ela precisa de um descanso e tira férias. É a vida, ué! A vida dela! O mundo não vai acabar, eu prometo.

Tem gente que, quando a empregada não está, sabe nem onde encontrar a faca de pão (ou o caminho da lavanderia). Outros entram em delirium tremens por não saber o que fazer com o próprio filho. E há quem telefone em desespero pra agências especializadas caçando uma folguista. O mundo não vai acabar, eu prometo.

Eu sei que a vida de todo mundo ficou esquematizadíssima e, quando sai algo do prumo, dá aquele pânico. Eu sei que é fácil pra mim falar, porque eu trabalho em casa e... oh wait: na verdade, pra quem trabalha em casa e precisa cuidar das crianças e olhar o arroz e entrevistar uma pessoa e atender a porta e a empregada que vem uma vez por semana falta... ah, que se dane, vira tudo uma zorra mas a gente sobrevive, viu? Come um quadrado de chocolate meio amargo, entorna um copo de tubaína e segue o jogo.

Acho que usar os serviços da moça é válido e útil, assim como respeitar os direitos dela é imperativo. Mas a relação não precisa virar essa dependência de amor adolescente. Um conhecido ficou horrorizado comigo outro dia porque eu disse que ter ajuda uma, duas vezes por semana vá lá, mas que eu achava exagero necessitar de empregada todo dia, das 8h às 18h, rebocar a moça consigo pra almoçar fora aos sábados e quiçá levar junto como apoio nas férias. Ele disse que era impossível ele e a esposa cuidarem da casa e das duas crianças sozinhos. Eu digo que nada é impossível e que, sei lá, cada um com seu cada um, mas então eu acho que essa empregada dele deveria ganhar R$ 8 mil por mês.

Bom ter ajuda e tals, mas fazer sua vida depender da existência de outra pessoa e ainda ratear pra pagar o que ela merece? Menos, vai. Um dia ela pode até arrumar outro emprego melhor e se mandar pra sempre, sabe? Calma, eu sei, é uma realidade dura. Calma, calma, eu não quis dizer isso... Inspira, expira, inspira...

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Quem nunca quis?

... ter o poder de um dos X-Men (eu queria ser Magneto misturada com Mística, pra poder arrombar o banco e dar nem tchuns pras câmeras! Falei primeiro!)?

... fazer parte da doce, unida e deslocada família da Jo, tão bem descrita por Louisa May Alcott em "Little Women"?

... fazer parte da famiglia Corleone, pra poder mandar "apagar" uns dois ou três por aí?

... ser chapa do Luke Skywalker?

... ser chapa do Harry Potter - ainda que ser chapa do Harry Potter seja mais problema que solução?

... morar na garrafa da Jeannie, aquela que não era nenhum gênio, mas era uma querida?

... sacudir lindamente o nariz e ver a casa toda arrumada, como a Feiticeira? Ou ao menos ter um nariz lindo como o da Feiticeira?!

... viajar com todos os heróis bem nerds criados pelo ídolo Julio Verne?

... comer um ratatouille preparado por um rato?

... tocar musiquinha no Casiotone e ver o disco voador abrir as portas?

... dar um abraço no Woody e uma beijoca no Buzz?

... dar 348 beijocas no Ferris? Ou tomar uma coca com ele, se você for menino?

... ganhar um quadrinho pintado pela incomparável Helen Beatrix Potter?

... tirar uma foto de máquina com a Amelie?

... passar umas tardes de papo com o penúltimo samurai?

... ser revisor de "A Origem das Espécies"?

... ser bom o bastante pra apresentar um "Saturday Night Live"?

... ser bom o bastante pra achar o assassino no "C.S.I."?

... tocar guitarra ou bateria com The Wonders?

... ser vizinho da Monica e da Rachel... ou do Chandler e do Joey, que seja?

... tirar Anita Ekberg da fonte na base do tapa?

... ler "O Segredo", não se sentir caindo num engodo e ficar mesmo rico, bonito e feliz até dizer chega?

... mandar o senhor Darcy parar de ser nojento e mandar a Lizzie Bennet parar de ser insuportável e get a room?

... ter um assento na excêntrica kombi da pequena candidata a Miss Sunshine?

... entrar naquelas páginas e trazer Anne Frank de volta...?

... ter uma chance realmente procedente de dizer "are you talking to ME?" ou "I'll be back" ou "pede pra sair!"?

... fazer um blog ou um livro, deixar a coisa famosa e reconhecida e depois ver nascer filme de sua história, que nem a Julie Powell e a Julia Child fizeram? Eu sempre quis.


Nhaaaa! Eu queroooo!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

A gente amadurece, o que é que se há de comer?

Teve um dia que eu cheguei da festa às 5h30 da madrugada. Tirei as botas, tirei as meias... e tirei quase todo o resto, porque até a roupa de baixo tinha aquela caatinga de cigarro barato. Vesti uma camiseta velha e fui atacar a geladeira, claro - porque em balada o estômago só recebe bebida safada, água aos litros e quem sabe um pastel frito num óleo que parece ter sido usado em motor de caminhão.

O "especial" daquela noite foi um pão já idoso recheado com carne chinesa pedida pelo delivery cinco dias antes e guaraná sem gás. De arremate, um teco de chocolate diet que alguém tinha esquecido lá em casa. Olhando hoje, eu acho que meu estômago de 20 e poucos anos era revestido de chumbo.

Naqueles tempos, comer não era uma prioridade, muito menos um prazer. Daí que a gente - eu e muitos, que eu sei - comíamos o que pintava. De preferência, o que fosse mais em conta também. E tivesse um bom grau de gordura, açúcar, sal, gás ou qualquer desses lances.

É só com os anos passando e passando que a gente se move na direção de uma alimentação toda "ada" - balanceada, equilibrada, qualificada e nada pesada. Seguimos como bons adultos no caminho das fibras, das verduras de verde mais escuto, dos legumes no vapor, da proteína magra, linda e gostosa como uma Gisele Bundchen deitada no meio do prato.

Ali na fronteira entre os 20-30, eu confesso que me debati um pouco com isso. Achava gostoso comer pizza fria no café da manhã, mas depois me dava um mal-estar... Queria muito matar um terceiro prato de feijoada, mas se eu botasse mais uma costelinha pra dentro, Adão em pessoa vinha me perseguir no pesadelo. As comidas punk já não eram minhas colegas. E aí eu notei que depois de dias comendo coisas em tons de vermelho, amarelo, laranja e marrom, me dava uma vontaaade de devorar uma salada!

Isso aí, salada. Quando a gente começa a ter VONTADE de salada, é sinal que a idade avançou. Porque salada é aquilo que a nossa mãe empurra pela nossa goela enquanto espreme nossas bochechas e segura nossos braços com os joelhos. Salada é comida de gente grande.

Pois não só eu passei a sentir vontade de uma boa salada como me agarrei com peixes de todo tipo, legumes estranhinhos, grão-de-bico. Grão-de-bico! Quando alguém entra na onda do grão-de-bico, pode fazer reserva no asilo.

Bom, hoje eu traço feliz tudo isso e mais a lasanha de berinjela, mais leve que a de carne, o pão integral e não o branco, queijo cottage, suco de maracujá sem açúcar em vez de coca. Não me entendam mal, eu ainda sou chegadíssima no pastel da feira, na pizza de sexta à noite e numa batata frita de saco. Eles só não são mais minha prioridade. A prioridade é comer melhor e prestando atenção. Mas se alguém aí me vir com couve-de-bruxelas no prato, pode encomendar o caixão.


Eu ri na cara dela, mas enfim fiquei amiga da pirâmide.
Já pode me chamar de Cleópatra

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Que feicibuqui, o que...

Eu era uma pobre porém honesta jornalista em ascensão (isso no tempo que jornalista ascendia...). Daí vieram as minhas melhores amigas e disseram aquele "vamos fazer um blog?". Eu nem sabia soletrar blog. Mas eu disse que sim. E a gente fez.

E depois eu percebi que a gente até que tinha feito bem, porque muitos vieram, leram e se amarraram. Gostavam do nosso tom, das nossas mentes, do nosso jeitinho suburbano de ser e viver. A coisa cresceu, rendeu, ganhou fama, poder e riqueza - muito mais da primeira do que da terceira, diga-se. Mas quem ligava pra isso? A gente tinha fãs! Fãs, bicho! Eu, com fã?? Aquela menina que na sexta série era acossada pelos populares por usar óculos de aro azul e rabo-de-cavalo COM tiara?

Pois foi. E eu curti pacas. Mas confesso que lá pelo quarto, quinto ano da coisa, ter um monte de gente sabendo minha comida predileta e a cara da minha filha no ultrassom cansou um pouco. Eu era assim, fazer o quê, abria a porta, a janela e o coração. E muitos entraram - inclusive uns malucos de carteirinha que queriam saber onde eu morava... Filme do Wes Craven, aquilo.

Quando acabou, eu peguei meio que um traumazinho de internet. Não, não da internet toda, só daqueles sites que me pediam nome, RG e estado civil. E mais ainda daqueles que pediam "adicione fotos!", "entre nessa comunidade!", "tenha 1 milhão e 800 mil amigos que você nunca viu ao vivo!". Eu entrei na rede social, mas com medo.

Fiz um Orkut lá, não queria ficar tão por fora. Fiz também um álbum virtual de fotos, pros amigos de longe verem como crescia minha filhota. E depois parei um pouco de fazer coisas sem sair da cadeira. Todo mundo me deixou quieta. E, quieta, eu fiz um blog e contei pra uns poucos. Mas aí tem isso de Twitter, Face... face o quê, mesmo?

Eu não sabia se Facebook era de ler, de comer ou de passar no rosto. Nem queria saber, também. Ouvia dizer coisas como "minha fazenda no Facebook tem 11 ovelhas!" e entendia nadinha. Só achava bem estranho porque, ué, aquela pessoa morava num quarto-e-sala e tinha ovelhas? Onde, no armário debaixo da pia?

Ah, eram ovelhas de mentira. E plantações de mentira. E cidadezinhas de mentira também com amigos de mentira visitando-as. MUITO esquisito. Eu sou dessas que ainda gosta de ir na casa do fulano, levar um bolo e tomar um café na xícara, não entendo muito de bate-papo online onde a gente se presenteia com caprinos e pinheiros.

Bom, mas a coisa estava lá e eu adorava é tirar um sarrinho. Questionava os amigos, por exemplo, como era terminar uma amizade via Facebook. Eu, quando quebro o coco com alguém, bato logo o telefone na fuça! (Por isso, inclusive, mantenho um telefone com fio aqui, já que é estúpido bater o telefone na cara de alguém apertando apenas um botão... não tem o mesmo punch). No Facebook a gente faz como, clica pra eliminar? E a pessoa desaparece da sua vida pra sempre? Quem nos dera, hein?

Mas os amigos nunca ligavam pros meus sarrinhos - e, pior, me esculhambavam por não estar nessa onda da conectividade. Diziam que era absurdo, que eu estava perdendo MUITAS oportunidades. Ã-hã. O povo acha mesmo que se encontra trabalho pelo Facebook? Na boa, as pessoas só vão ali fuçar na vida alheia pra saber se aquela bitch do colegial ainda é bonita ou pra saber se um ex-namorado já casou. Só! Não se iludam.

Mas não adiantava, eles me cobravam muito, por exemplo, estar no Twitter - porém, se eu quisesse ser seguida por estranhos andaria sozinha no centro de São Paulo à noite, obrigada. Diziam ser o máximo. Eu declinei. Cobravam também, loucamente, um Facebook. "O que, você não tem Faceboooooook???" Parecia que eu não tinha fígado ou hipotálamo.

Mas que preguiça de me cadastrar de novo nesse mundo, meudeus, que preguiça! De novo contar pra todo mundo que o Clash é minha banda favorita, que eu leio A Sangue Frio anualmente e que pago um pau pro Jamie Oliver? Isso não acontece com todo mundo?!

Long story short, vamos dizer que, nessa semana, um curto-circuito deve ter acontecido no meu cérebro jovem porém muito rodado. Eu entrei para a seita de Zuckerberg. Uma garota jóia me convenceu com um golpe baixíssimo: "assim muito mais gente vai ler seus blogs". Maldição. Eu odeio quando essa galerinha antenada me pega no ponto fraco.

Eu quero ser lida, essa é a verdade. A fama veio, a fama foi e eu nunca liguei pra fama. Mas eu sempre adorei ser lida. Desde quando era uma jornalistinha inocente que escutou "blog" e achou que era um chiclete novo. Agora eu continuo jornalista, sigo escrevendo e amando meus leitores. E se muitos mais podem chegar via Facebook, que seja. "Me adicionem", gente! O que quer que isso signifique.


F de "Fláááviaaa, venha para o nosso laaaado"

terça-feira, 24 de maio de 2011

Abaixo o nepotismo

Sabrina vem planejando sua futura profissão e costuma sempre terminar em dúvida sobre ser musicista (tocadora de flauta, mais precisamente) ou dona de um restaurante. Como ela gosta muito de cozinhar e já aprendeu a quebrar os ovos sem furar a gema, está mais inclinada pelo cargo de chef mesmo - até porque, do jeito que ela toca flauta, levaria um couro dos moços lá na Praça da Sé...

O restaurante ainda não tem nome nem tema definido, mas ela já avisou que me quer ajudando. Daí eu perguntei:

- E a Olívia, Sá, ela vai trabalhar contigo no restaurante também?

- Claro, mãe.

- O que a Olívia vai fazer?

- Lavar o chão.

Meio indignada e meio gargalhando, eu quis saber se, caramba, não tem nada melhor pra sua própria irmã fazer, não?

- Ela pode ser garçonete, então, sei lá...

- Mas Sabrina, tá louco, é sua irmãzinha!!

- Tá bom, mãe! Ela faz o risoto. E chega, hein?

Ok, descolamos pra Oli pelo menos a estação do risoto. Melhor que lavar o chão, vai? E agora eu torço pra Sabrina desviar pra carreira pública. Com ela no comando, parente nunca vai ter vez.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

"Ai, caramba, roubaram o meu..."

Vocês aí podem me dizer se sofrem do mesmo tipo de espasmo que eu e me fazer sentir melhor. Acontece que toda santa vez que vou ao mercado, assim que a moça termina de passar os itens e me entrega a nota com o valor, eu sofro um baque cerebral que diz "droga, ela passou um monte de coisa com preço errado!". Sim, porque a conta sempre me parece altíssima - e o que têm ali, umas três sacolinhas com meia dúzia de troços? Pois acho que a moça nunca errou na conta. É só o meu espasmo "fui roubada".

Acontece também com todas as contas que chegam pelo correio. Já pensei em chamar a Eletropaulo pra que eles comprovem que tem "gato" na minha ligação elétrica. Já pensei em chamar a Comgás pra mostrar que, droga!, alguém está desviando meu suprimento por um cano secreto. Já jurei por todos os santos que não, eu não uso aquele tanto de telefone! Alguém está vindo aqui em casa quando eu estou fora e usando meu aparelho... Sério.

O cartão de crédito, então, nem se fala. Basta abrir o envelope pra dar aquele gelo na espinha, a tremedeira nos membros e o espasmo "fui roubada". Impossível aquele valor final, impossível! Eu nem fui na C&A esse mês que absur... ah, bom, foi do mês passado, quando comprei calças pras meninas...

Sempre acontece, mesmo eu sabendo que meu cartão jaz tranquilo e magnético na minha carteira. Sempre acho que ele foi surrupiado e que o bandido que fez isso foi lá no shopping e saiu à toda comprando itens incríveis e bacanas na Livraria Cultura... ah, não, fui eu mesma.

O estado de negação causado pela grana curta está me deixando paranóica. Ou vai ver tem coisa aí mesmo... Impossível eu ter gasto tanto em frutas e legumes! Acho que vou chamar os tiras. O japonês do sacolão só pode ter cobrado a mais. E talvez tenha roubado meu cartão de crédito também! Se bobear, foi ele que fez o "gato" elétrico aqui em casa... Na de vocês também?


Só pode estar adulterado... Sério!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Eu, ela e la vie en rose

Ela tinha 8 anos quando eu nasci. Ela tinha 21 anos quando deu no pé pra casar e, portanto, noves fora escorrega o cinco, nós dividimos quarto por 13 anos. Eu só posso dizer sobre os seis, sete anos finais; ela com certeza diria que foram todos os 13 anos um grandecíssimo inferno.

A minha irmã sempre foi dessas pessoas do sexo feminino completamente doidas por criança. Ela adora mimar, brincar, zoar, pintar unha, fazer casinha, cozinhar bolinho. Bom, ela sempre foi assim com toda criança, mas não tanto comigo. Comigo ela desenhou umas flores e talvez tenha cerzido um traje de Susi aqui, outro ali. Eu sempre fui meio que o porrezinho que chegou pra atazanar a vida boa dela. Pudera.

Enfiaram a mim, ainda bebê, no quarto da pobre. A pobre já gostava de maquiagem, Melissa de fivela e das Panteras e eu ainda babava. A menina queria sossego pra ouvir a trilha sonora de Grease, eu invadia o recinto com pés sujos de terra e insistia pra que ela jogasse ludo comigo.

Ela cresceu, arrumou namorado, ficou de papinho no portão. Eu me escondia atrás da cortina do nosso quarto e ficava rindo baixinho dela abraçada com os rapazes (pro total avexamento dela). Acho que até contei alguma coisa sobre isso pra alguém... Ah, sim, foi mais ou menos "pai, a Silvia tá beijando um menino lá na rua e já são 22h05...".

Piorou demais, demais quando ela, já quase adulta, era obrigada a "me olhar" quando meus pais saíam. Ela nem me olhava, isso eu digo. Não que precisasse, que eu nunca fui de atear fogo em cortina, mas... Olha, eu bem que assisti uns filmes absurdos e depois tive pesadelo porque ela devia estar "me olhando" e não estava.

Ela odiava isso, "me olhar". Eu acho até que ela ME odiava. Fazendo a autocrítica, não era de todo desumano me odiar. Ela queria um quarto de princesa com colcha de matelassê com babados, cortina combinada e aqueles cabides de parede em forma de menininha Bem-Me-Quer de chapelão. Eu queria edredom nos tons do arco-íris e todo o espaço pra mim. O recinto foi meio que dividido ao meio quanto aos estilos - e tem coisa mais antidecorativa que isso?

Ela só queria respeito ao armário dela, conforme os 11.874 discursos reivindicatórios que fez pra mamãe - e enquanto isso eu estava lá no quarto, fuçando as gavetas arrumadinhas dela na caça de uma meia limpa e sem furos.

Ela queria ler até tarde com a luz acesa que Thomas Edison nos deu. Eu também, mas meu gibi do Tio Patinhas acabava muito mais rápido que o último volume do Sidney Sheldon dela, e aí eu queria muito que ela apagasse logo aquele holofote dos infernos. E a gente tinha altos interlúdios por isso. Com palavrões acoplados. Bom, digamos que eu aprendi a dormir com luz acesa.

Eu imagino o que ela diria sobre aqueles dias insanos, mas quero aqui levantar a bandeira branca: hoje eu sinto saudades. Dividir o quarto com a minha irmã é uma das coisas que me fez como eu sou hoje. Nem melhor nem pior, apenas mais respeitosa com quem divide o espaço conosco. E ainda com ojeriza de matelassê e babados.

Não tenho saudades das brigas, dos tapas, dos xingamentos nem das delações pros pais. Mas tenho saudades dela ali tão perto, ao alcance de um crock na cabeça ou de um palpite não solicitado. Ou de uma companhia pra fazer desenho, de alguém pra dizer se a saia estava bonita, de uma palavra de humor cheio de cinismo...

Penso um dia botar a Olívia dormir no quarto com a Sabrina, só pra ver o fuá que vai dar. Isso as fará mais fortes como fez a mim e à Silvia. E depois elas sempre poderão lembrar com saudades. Ou pensar como eu e a Si pensamos hoje: "onde aquela mulher estava com a droga da cabeça?".


Te ligo logo mais pra importunar, tá? Pode apostar suas meias rosinhas muito limpas

terça-feira, 10 de maio de 2011

Uma idade inconveniente

Ela tem só seis anos. Não tem 16 pra saber como ter um papo da hora, não tem 26 pra saber se expressar com clareza, não tem 36 para filosofar com consciência, não tem 46 pra tergiversar sobre o tempo, não tem 56 pra comentar sobre política, economia e a novela. Ela tem só seis anos - e fala as barbaridades dela, uai. Taí uma coisa que eu compreendo sobre as crianças.

A Sabrina é uma menina boazinha. Não é por ser minha filha, não, mas ela é mesmo um doce de criança. Emburra quando recebe o "não", mas atura sem birra; não se joga em chão de shopping center nem atira comida do prato em restaurante; é comportada, agradável, engraçada... Ok, vai ver é porque é minha filha mesmo e só eu vejo tudo isso junto.

Os demais acabam vendo outras coisas. Acabam vendo quando ela interrompe 19 vezes a conversa dos adultos. Vêem também a manipulação do "se a mamãe não deixa, deixa eu perguntar pro papai". Vêem ainda que ela quer chamar a atenção sempre que pode, com truques de mágica, piadas insanas e toda sorte de estratégias.

É uma idade muito, muito inconveniente, esses seis anos. Eu sei, porque eu era assim! Ia com a minha mãe na manicure e, enquanto ele dizimava cutículas, eu abria e checava e fechava cada mísero vidrinho de esmalte presente no recinto. A manicure com certeza queria me abater a golpes de alicate.

Ia na casa da minha tia e mexia em absolutamente todos os bibelôs caríssimos dela. Ia ao mercado e sumia por entre as gôndolas. Ia fazer compras e passava metade do tempo pedindo pra beber água e a outra metade pedindo pra ir ao banheiro.

Eu dizia tudo que vinha à mente também. Contava pros parentes coisas como "todo sábado minha mãe dorme até às 11h" (quando na verdade isso só deve ter acontecido umas três vezes em todos os anos de vida da minha mãe). Cornetava coisas ao leo - e tinha aquela mania linda de criança de atender o telefone e lascar "minha mãe não pode atender porque tá fazendo xixi".

A Sabrina é como toda criança dessa idade, testando os limites, procurando espaço, desejando fazer parte, implorando por consideração... Normal, hein? Conheço gente adulta que faz o mesmo e nem tem a desculpa da pouca idade! E nem é fofo!

Quando ela dá um forinha, eu faço uma cara de "oi, assunto errado" - coisa que ela nunca entende e acaba gerando o embaraçoso "que foi, mãe, por que essa cara?". O que funciona melhor é deixar quieto e depois, a sós, voltar delicadamente no assunto e dar um dica de postura. Tem que ser com a manha e fofinhamente, senão ela fica avexada com efeito retardado. E isso é péssimo, porque ninguém quer saber que vacilou em público - mesmo aos seis anos, pode ter certeza.

Mas eu ainda acho esse jeito de criança a coisa mais desculpável do planeta. Chateia um pouco saber que outros não entendem e podem achar seu filho meio irritante. Mas cada um de nós só deve precisar de uns minutos pra lembrar de si mesmo aos seis e recordar o rol de impertinências que cometeu.

Conta aí uns seus. Eu desculpo se você também desculpar!

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Eu ouvi dizer por aí...

... muitas coisas. Meus amigos falam muito, sabe como é. E cada qual me conta coisas de arrepiar os cabelos - e também de se rasgar de tanto rir. Mas olha, não espalha, tá?

- Teve a aeromoça que me contou sobre o tempo em que trabalhava numa companhia aérea japonesa no trajeto São Paulo-Los Angeles. Ela me disse que eles contratavam em igual número comissárias brasileiras e japonesas, o que achei meio curioso. É que, ela me explicou, a companhia gostava de mesclar os modos corretíssimos das japonesas com o jogo de cintura brazuca. Fazia sentido, disse minha amiga: uma vez, ela chegou na cozinha do avião e a comissária japonesa da primeiríssima classe estava abrindo uma champanha carissíssima. Com um saca-rola...

- Essa mesma amiga me jurou de pés juntos, certa feita, que era verdade uma história contada pelas amigas dela que trabalhavam na semi-finada Varig. Disseram as meninas que uma moça foi viajar e despachou, tristemente, seu pequeno poodle naquelas caixinhas próprias. No destino, o pessoal do setor de carga da companhia percebeu que o cachorrinho estava morto. Não tiveram dúvida: trocaram o cãozinho branco padrão por outro da mesma marca e tamanho. Quando recebeu a caixa, a moça se pôs de grito! Bom, é que ela tinha despachado o cachorrinho morto mesmo, pra enterrar quando chegasse em casa.

- Um grande amigo meu, muito fofo e asseado, é desses rapazes que já se aventurou na vida. Uma vez ele rumou pro Reino Unido a fim de passar uns anos estudando e trabalhando. Viaja daqui, viaja de lá, ele arrumou emprego em um restaurante na Escócia como garçom. Logo nos primeiros dias, quando estava a limpar mesas depois que os clientes saíam, foi repreendido pelo dono da bodega. O vinho que sobrava nos copos não devia ser jogado na pia, pô! Era só jogar no barril correto, que depois seria tudo vendido como o fabuloso "vinho da casa"! Delícia, hein?

- Um cara que eu conheço - ok, esse é meu irmão - teve como primeiro emprego o trabalho de fazer sandubas em uma lanchonete de parque de diversões. O dono era outro desses caras superlimpinhos. A colega de trabalho do meu irmão, que cortava os frios, era instruída a limpar o balcão com Veja e um pano imundo e depois cortava lindas fatias de mussarela ali em cima. Meu irmão diz que até hoje se arrepia de comer em lanchonete.

- Visitando uma montadora de veículos do ABC Paulista com o propósito de fazer uma reportagem, um amigo meu garante de pés juntos que viu um funcionário "fixar" uma porta de veículo que não tinha passado na inspeção final. Ele usava uma daquelas marretas plásticas e muita força no muque. A famosa "porrada técnica".

- Eu conheço uma menina que conhece uma menina que já morou na mansão Playboy. Ela jura que Hugh Hefner realmente... bom... como dizer... "pega" mesmo todas aquelas loiras que são suas namoradas. Cada coisa que a gente fica sabendo, né não?


Vai um vinho da casa? Pra mim também não, obrigada

quarta-feira, 20 de abril de 2011

A conversa

Quando a gente tem filhos, sabe que um dia vai precisar ter aquela conversa. AQUELA lá. É difícil, porque a gente imagina mil possibilidades de como o assunto vai surgir, mas nunca está preparado mesmo, mesmo.

Então as coisas seguem seu curso e, ué, chega o dia da tal conversa. Complicado, viu? Dizer o quê praqueles olhos que te olham fundo querendo uma resposta urgente - ou mais de uma?

A gente roda um pouco, dá umas voltas, faz umas comparações e ilações e utiliza as metáforas mais estapafúrdias... Mas tem o momento crítico, aquele do "porquê, pra quê, como assim, mamãe?". Não tem escapada. Vai ser preciso dizer logo e de uma vez, como arrancar o band-aid genérico que leva embora a casquinha e deixa aquela cola preta.

Faz umas semanas que a Sabrina veio querer saber. E agora eu digo: a conversa e todos os questionamentos que a envolvem não tinha nada a ver com sexo, partes privadas do corpo, meninos e meninas ou qualquer coisa assim que o caríssimo leitor possa ter imaginado. Sabrina queria saber por que o amigo dela deu-lhe um soco bem na barriga. Eu sabia que um dia ia precisar ter com ela a conversa sobre a violência dos humanos, mas demorei uns instantes pra saber bem o que dizer.

O menino não era só um menino, era um dos melhores amigos. E não deu-lhe o supracitado socão porque ela fez qualquer coisa pra desnorteá-lo; ele bateu porque ela pediu que ele tirasse a lancheira do banco pra ela sentar no único lugar disponível. Assim, de graça, do nada. Disse que ele era mais forte e "tum". E ele não pediu desculpa. Foi o suficiente pra Sabrina contestar por que algumas pessoas batem.

Daí a gente começa explicando que, pra começo, é um moleque besta que deve ter aprendido em casa que bater é algo aceitável - mas que não é, não. A gente fala sobre o espaço do outro, sobre a raiva que dá um troço desses, mas que a gente não revida porque senão o mundo nunca vai ficar melhor. A gente fala sobre se defender de todas as outras formas possíveis e legalmente aceitas - e, no fim, a gente diz que sente muito por coisas assim acontecerem, se oferece pra falar com a mãe do menino e dá um abraço bem forte e apertado seguido por um copo de leite morno.

Eu preferia 1.764 vezes começar a explicar pra Sá de onde vêm os bebês do que ter que explicar por que algumas pessoas acham certo usar de força bruta e outros artifícios medievais pra se impor. Até porque, eu não sei se eu sei isso!

Mas se a violência parece não ter dia pra acabar na nossa vida - e o conceito daquele filme "A Vila" ainda não existe, pra gente se inscrever -, o jeito é dar aquelas voltas e ajudá-la a tentar compreender, se defender e reagir numa boa medida. Não é do meu feitio dizer "na próxima, vai lá e dá na cara dele de volta". Nunca foi, nunca será. Prefiro conversar e, juntas, pensarmos em algo que vá surtir efeito - um efeito que faça ela se sentir melhor, justiçada e com a esperança de que não vai mais acontecer.

Decidimos telefonar pra ele e EXIGIR o pedido de desculpas. Ele não quis pedir. Então a Sabrina pediu pra falar com a mãe dele - e aí o moleque riu-se todo, disse que a mãe dele "não faz nada". Bom, aí a Sabrina pediu então pra falar com o pai dele. Disse melhor: "então você pode chamar o seu pai, que a minha mãe disse que quer falar com ele?". Ele gaguejou um bocadinho e pediu desculpas. Despediram-se com beijos e tal.

Vão ter novos episódios - esse não é um filme, é um seriado. Eu sei disso, ela sabe disso... Nós estamos preparadas para voltar ao tópico e pra tomar nossas atitudes. Somos da paz - mas não mexa com o nosso poder de conversar até sentir que tudo se resolveu!