sexta-feira, 23 de março de 2012

Mundo velho sem porteira - e com Sabrina

Planejar viagem é comigo mesma. Eu planejo as que vou fazer um dia, as que provavelmente nem vou fazer, as que estão por vir logo e as que serão pra daqui muitos anos. Planejo inclusive as viagens de amigos e parentes - e às vezes eu acho que faço isso sem eles pedirem, por um prazer pessoal de ser enxerida. Uma enxerida turística.

Daí que eu sonho muito, às vezes em voz alta, e acho que acabei contaminando a Sabrina. Sabrina tem apenas 7 anos, mas ela sonha grande e profundamente. Hoje, no carro, nosso papo diário discorreu sobre viagens. Sasá quer férias. Deve estar estressada.

Eu perguntei pra ela sobre A Grande Viagem do Meio do Ano (que a gente promete faz tempo, desde que ela entrou na 'escola séria' e não pode mais faltar quando bem quiser, no meio de setembro, pra não perder terreno). Estamos batalhando esse break em julho faz tempo porque, desde que Olívia deu o ar de sua imensa graça aqui, as viagens longas e empolgadonas e custosas e com vôos de mais de 3 horas ficaram na geladeira. Mas, agora, estamos prontos pra embarcar Lica, essa malinha de viagem.

Daí que pretendemos nos aventurar pelo Velho Mundo esse ano. Sabrina está encantada com a ideia de conhecer Paris (coisa que ela sabe que ela já fez, mas a memória de 14 meses não ajudou a fixar, então... bora de novo). Perguntei o que ela queria ver em Paris.

- A Torre Eiffel! E subir nela. E ficar lá em cima um tempão.

Concordei que vai ser o máximo, que a gente pode ir sim. E o que mais?

- E quero comer todo o macarron que eu puder!

Perdida no sotaque eu disse 'mas por que comer tanto macarrão na França, ué?'.

- MACARROOOON! Não macarrão, macarrão eu como aqui em casa!

Planejamos ir nos parques correr e pular, decidimos ir no museu de ciências e, depois que eu contei que há uma Disney ali perto, ela decretou que um dia todo será lá. Tudo bem.

O papo seguiu sobre os lugares pra ir nesse mundão velho e eu sugeri que, um dia, ela vá conhecer o Japão com o Dono da Casa - destino de desejo de ambos, mas longe do meu coração por enquanto porque 28 horas de viagem ninguém merece. E a Olívia nem sabe onde fica Osasco, que dirá Tóquio. Sasá mais uma vez delirou.

- Oba, eu vou com o papai e nós vamos comprar aquele gato que ergue uma pata só.

Ah, mas eu disse que um dia também quero viajar só eu e ela, pra gente bater mais papos e ficar juntinhas. Perguntei pra onde seria.

- Canadá!, disse a figura.

- Uau, Canadá, que demais! Lá tem as paisagens mais lindas, Sá, montanhas, florestas, bosques, lagos e umas cidades legais demais. Eu quero ir contigo sim. Mas o que é que você escutou sobre o Canadá, o que você acha que tem de bacana lá?

- Os canadenses.

Pronto. Um dia a Sabrina não vai ser só uma viajante inveterada, uma doida por culturas e cenários diferentes e uma psicopata dos mapas como eu. Ela vai ser funcionária da ONU. Certeza.

terça-feira, 13 de março de 2012

Mas só se...

Eu conheço um monte de gente que anda pela casa dos 30 e está com aquela senhora dúvida sobre ter ou não filhos. Seus problemas acabaram, minha gente querida que ainda curte baladinha mas já vê nascer cabelos brancos nos flancos da cabeça e têm dúvidas se quer ou não morrer solitário e esquecido!

Posso dar minha visão do caso. É fácil. Só tenha filhos...

- se você não liga de usar banheiro público todos os dias da sua vida. Sim, porque o lindo banheiro da sua suíte, mesmo tão privativo e aconchegante, será diariamente invadido por gente de pouca estatura que não bate, não liga pra sua privacidade e não pode esperar pra saber 'onde tá o meu coisinho, manhê?';

- se você não tem nojo de quase nada. Porque é certo que, dia ou outro, será preciso beber daquele copo visguento onde o diabinho babou horas intermináveis (porque o copo precisa ser esvaziado porque o segurança não permite a entrada de bebida ou coisa que o valha);

- se você adora mostrar suas partes corporais privadas em público, quando os 'de menor' puxam a blusa da mamãe pelo decote até a altura do umbigo ou levantam a saia da supracitada mamãe em busca de esconderijo secreto;

- se você não liga de ser excluída de todo e qualquer evento social mais descolado e jovial 'porque, né, a gente sabe que você nunca vai porque tem a criança...' (a palavra 'criança', aqui, deve ser pronunciada como se fosse 'lepra');

- se você aceita bem umas rugas de preocupação a mais a cada febre sem sentido, virose misteriosa ou queda na qual aquela cabecinha molinha e miúda acertou a quina da mesa com a força de uma bigorna em queda livre;

- se você não faz questão de ter uma conversa com sua cara-metade que tenha início, meio e fim;

- se você faz questão de continuar sendo o filho dos seus pais - porque no exato instante que netos nascem, eles dão fim ao posto de pai e mãe e viram apenas o vovô e a vovó (e você, no caso, passará a ser somente a entidade dispensável que acompanha o 'tesourinho da bobozinha!');

- se você acha normal observar rostos transtornados quando adentra a cabine do avião com um bebê nos braços - e todos te fazem sentir como alguém que está embarcando com uma jaguatirica devoradora de humanos e com alto-falantes embutidos;

- se você gosta de assistir o mesmo desenho animado no DVD por 849 vezes seguidas - cantando junto;

- se você concorda em, no fim do dia, se parecer mais com a Cuca do que com a Angelina Jolie.


Mas aviso também que você não deve de modo algum ter filhos se...

- você não pretende conhecer o maior amor que há nesse mundo, não tem intenção de surtar de alegria e contentamento por ter a chance de ver outro ser humano crescer dia a dia e nem quer viver com a constante sensação de ser amado e estar completo e feliz.

Ajudei pacas, dizaí.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Eu, elas e as nossas irmãs

Foi lá pelos 5 anos que eu me lembro de ver a Raquel pela primeira vez. Com certeza eu a vi antes, passeando na praça de carrinho pelas mãos das nossas mães, mas memória tem limite. Bom, eu conheci a Raquel assim, no bairro e desde sempre, e só lá pelos 15 anos vieram a Caren e a Fabiane. Vou contar: naqueles idos de 1990, éramos as quatro Cavaleiras do Apocalipse, dominando a cidade, zunindo pelas ruas, ganhando experiência. Só nas nossas mentes, claro.

Na realidade, nós éramos quatro exemplares da nerdice. A Raquel ainda era mais descolada, bonitona, altona, loirona como só as famosas eram (e aqui cabe a explicação que, no meu tempo, só havia o termo 'famosa', não 'popular', que só desembarcou no ABC Paulista com o advento do "Barrados no Baile"). A Caren também era loirona e altona, mas menos descolada, ligeiramente tímida, muito romântica e poética e musical desde o bercinho dela. Fabiane era nada loira e pouco alta, mas compensava numa personalidade que dominava a sala inteirinha em exatos 4 segundos. E eu era aquilo lá, uma coisa mei estranha que, sabe-se lá por que, agradava a bem pouca gente. Mas agradava minhas garotas. Era tudo o que me bastava.

Eu e as meninas vivíamos umas nas casas das outras. Literalmente. Eram fins de semana e mais fins de semana que eu ficava sem ver sequer a fuça dos meus pais porque me bandeava pras bicamas e colchões extras da Rá, da Cá e da Fabi. Elas também lá em casa. Meus pais, seguramente, já faziam compra de mês pensando em alimentar mais três bocas em fase de crescimento.

Um crescimento que era mais físico que mental, eu diria. Olhando pras adolescentes de hoje, eu não vejo à mim e às minhas amigas. Nós queríamos ser safas, mas éramos, isso sim, umas bocós. De marca. De marca Pakalolo - mas só quando o dinheiro dava.

A gente fofocava interminavelmente sobre os meninos, sobre as chatinhas da escola, sobre bobagens da TV, escrevíamos cartas umas pras outras, guardávamos em caixas de sapato, traçávamos planos de conhecer a distante Europa, fofocávamos mais sobre os meninos. E endeusávamos nossas irmãs. Não que elas ou nós tivéssemos conhecimento disso, lógico, porque, 'no papel', todas odiávamos as nossas irmãs. Eram todas mais velhas. Credo.

A irmã da Raquel era a destemida, sempre a bordo de um Passat branco meio marretado mas muito interessante aos nossos olhos de gente que ia a pé. A irmã da Caren era a internacional, sabida, intercambista, nosso sonho de consumo em experiência de vida. A irmã da Fabi era a inteligente, uma crânio de dar raiva e ainda amiga de todo mundo que importava naquela cidade e na cidade vizinha (o A e o B do ABC). E a minha irmã era... bicho, em 1990, a minha irmã já era casada e tinha uma filha. Como competir com aquilo? Minha irmã, e as outras, eram gente grande. Não tinha pra nós.

Mesmo não admitindo, a gente tinha um olho na nossa vida colegial muito louca da pesada e outro olho naquelas garotas espertas e cheias das manhas - e das roupas bonitas. Sim, porque as irmãs mais velhas têm esse dom: elas têm as roupas da moda, elas ganham seu dinheiro, elas arranjam namorados que dirigem, elas berram com as nossas mães de um jeito que dá vergonha, mas que a gente adoraria ter coragem de berrar.

As nossas irmãs mais velhas achavam a gente bem pirralha, eu acho. Porque elas estavam ali, ganhando a vida ou prestando vestibular ou se formando ou conhecendo a Ásia, a Oceania e todo o exército amarelo e a gente estava... bom, sentadas na calçada bebendo (escondidas) batida de amendoim ou datilografando trabalho sobre embriologia. E a gente nem tinha internet pra perder horas online e fazer de conta que éramos bem lançadas!

Nossas irmãs nos ensinaram coisas que elas nem imaginam, eu tenho certeza que as meninas concordariam comigo. Elas abriram caminhos nunca dantes navegados pra gente poder ser um bando de folgadas que, aos 16, já saiam à noite usando shorts com meia-calça se achando gente. Não fossem elas brigarem por horários, por privacidade e pelo direito de usar gel com glitter e saia curta, a gente não teria tido qualquer chance.

Hoje eu vejo pouco a Caren e a Fabiane, infelizmente. E, pior ainda, não vejo mais a Raquel. As irmãs delas, então, eu vejo é nada - mas sei de notícias, sei que continuam rolos-compressores de sabedoria e mão-na-massa e que vivem felizes suas vidas de adultas. As adultas que sempre foram nas nossas mentes e que a gente nunca vai conseguir imitar por completo.

segunda-feira, 5 de março de 2012

1 livro + 1 série - 1 vergonha

Posso nem dizer que fico avexada de falar sobre esses gostos porque, ah, a vida é muito curta pra vergonhas.

1 livro
Eu fiquei sabendo que havia um filme, achei bonitinho. Mas soube que era baseado em um livro, o que me interessou mais. Porque o Matt Damon é um lindo e tals, mas é sempre bom conhecer a história pela boca de quem contou primeiro.

"Compramos um Zoológico" grudou como bala toffee na minha cabeça. Foi o título catchy, eu confesso: quem, por favor, compra um zoológico? Eu nem sabia que zoológicos estavam à venda - achei que era coisa de prefeitura ter zoológico. Coisa pública. Não é não. Bom, eu não sei como funciona no Brasil, mas agora sei tudo sobre comprar e administrar um zôo na Inglaterra.

Sim, porque o filme com o Matt Damon, me contaram, passa nos Estados Unidos. Eu acho que Hollywood compra direitos das histórias dos outros e, na preguiça de gravar além-mar com atores que falam inglês mais bonito, transformam tudo em "coisa nossa". Enfim, o verdadeiro Benjamin Mee, autor de "Compramos um Zoológico", é um inglês figura que faz de tudo. Formado em jornalismo e psicologia, é perito em trabalhos manuais, escreveu um livro sobre o humor dos animais, vendeu um apê em Londres e foi viver na França com a esposa e os dois filhos, Ella e Milo.

Daí um dia a irmã maluca desse maluco enviou a ele um prospecto falando sobre a venda de um zoológico particular em Dartmoor, lá na área mais chuvarenta da Inglaterra. A mãe maluca do maluco estava disposta a vender sua casona e mudar, junto com dois dos filhos malucos, pro zoológico. Ben topa e vai na fé - mesmo com jaulas de tigres inseguras, leões precisando de dentista, lobos desembestados, um porco-espinho furioso, um clima maldito, uma esposa com câncer, contas altíssimas.

A história do livro me pegou, eu confesso. A ousadia dessa gente de virar a mesa e começar de novo em um negócio familiar completamente fora de propósito me pegou. Eu curto essas loucuras. Eu li e quis comprar um zoológico e sair da mesmice e ir viver uma coisa diferente. Eu consertaria cercas e reformaria o restaurante e cuidaria da anta e dos pavôes com a família Mee. Tenho nem vergonha de dizer.

1 série
No princípio, era apenas "The Big Bang Theory", um seriado fdp de engraçado que me fazia ficar com um sorriso estampado por horas só de lembrar daqueles diálogos. E aí num dia, ao dar mamadeira pra Olívia e não poder soltá-la pra alcançar o controle remoto, fui obrigada a ver aquela série que vinha depois da minha. Uma tal de "2 Broke Girls".

Achei que mais uma série era demais no meu currículo, queria nem começar a acompanhar mais nada (mas vale informar que caí nessa e em "Alcatraz" também porque, né, "Lost" não foi suficiente pra me deixar aborrecida). Mas comecei.

Acontece que eram duas meninas, as protagonistas. Já gostei. E não é que era engraçadinha a premissa da socialite falida virar colega de emprego e de quarto de uma garçonete demente e boca-suja de Williamsburg? Ah, os diálogos eram bons. Nossa, as referências eram hilárias. Pronto, elas me ganharam.

Muito se fala de não haver, depois de "Friends", nenhuma série para trintões. Bom, eu não concordo. Simplesmente porque nós, trintões de hoje, somos imaturos demais, acho. E a gente se contenta com séries pra gente de 20 e poucos que sejam genuinamente divertidas. Essa é. "2 Broke Girls" é engraçada por ser a mescla da garota que a gente é com a que a gente queria ser. Ou porque é como as amigas de verdade se tratam em qualquer cenário financeiro. Ou só é engraçada porque é mesmo. Ora, não me pressione. Eu já disse que não tenho mais tempo pra vergonhas.

Max e Caroline


Os Mee