segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Bocaditos

Tendo sempre muitas crianças em minha volta - e tendo sido uma criança, ué - posso dizer com certeza que uma das coisas que elas mais gostam é se espalhar na cozinha. Não tem nada mais divertido que mexer em ingredientes de verdade (principalmente os melequentos) e, literalmente, botar a mão na massa. Na massa de bolo, de preferência. Porque 9 entre 10 vezes que um baixote pede pra brincar de chef, ele quer é fazer bolo.

Sabrina, por exemplo, é ás na produção deles à essa altura. Tem até seu próprio arsenal - e cuida muito bem de seus mini-batedores, mini-forminhas, mini-espátulas e daquele avental enorme. Falou em fazer bolo, ela larga até o Peixonauta falando sozinho.

Criança adora mesmo o feitio de guloseimas - e, oras, quem vai culpá-los, afinal é uma brincadeira que envolve bagunça, sujeira, barulho de aparatos elétricos cortantes e forno quente. E depois ainda dá pra comer a brincadeira! Eu aprendi com eles a me divertir não só com o resultado, mas com o processo. E olha que eu tenho uma mão podre pra bolo.

A maioria sempre saiu meio esquisita, meio soladinha, meio sapecada, meio torta... Mas o sabor sempre foi aceitável. Pra evitar o desapontamento, aprendi também a seguir receita militarmente. Não aumento ou diminuo nada em meia grama, não substituo, não invento. Se a receita dá certo, na próxima vez faço de modo mais CDF ainda, pra não errar. E não erro mais. Tanto.

A única coisa que me permiti arriscar foi trocar as formas. Há algum tempo, faço as massas de bolo e, pra divertir a molecadinha, em vez de colocar todo o grude em uma aborrecida forma circular ou quadradona, separo em porções. Em bolinhos. Muffins, como eles dizem lá. Cupcakes eu não diria, que daí precisaria confeitar coloridamente e... bom, eu costumo achar toda cobertura de cupcake uma bela droga.

Uso a forma de muffins em lugar da padrão e nada sai errado. Muito pelo contrário. Descobri que assim, além de ficar tudo mais bonitinhos e encantar a petizada, ainda inibe a glutonice. Sim, porque, de faca em punho, eu sou capaz de destruir meio bolo em um chá da tarde. Com o bolinho avulso, um me basta. Não que estejam aqui vigiando quanto eu como, porque nem eu mesma vigio. Mas um basta mesmo. Pelo menos até o próximo café.

Se dia desses quiser testar seus habilidades e promover um salto de empatia com a criançada, garanto que a maioria das receitas permite a troca da forma grande pelas pequeninas. E eis abaixo uma sugestão de bolo. Normalmente a massa, depois de misturada, deve ir em uma forma tipo americana, aquela retangular típica de pão de forma. Mas, separados em bocaditos, as horas de alegria e deliciamento se perpetuam. Tenta aí:

Bolo de Limão com Papoula

Ingredientes: 2 xícaras de farinha peneirada; 1 xícara de açúcar; 1 colher (chá) de fermento em pó; 1 pitada de sal; 1/4 de xícara de leite; 4 ovos; 1 colher (chá) de essência de baunilha; 200 g de manteiga; 1/3 de xícara de sementes de papoula; 1 colher (sopa) de casca de limão ralada.
Ingredientes da calda: 1/2 xícara de açúcar; 1/3 de xícara de suco de limão.

Preparo: Em uma tigela grande, misture a farinha, o açúcar, o fermento e o sal. Reserve. Na batedeira, bata rapidamente o leite, os ovos e a baunilha. Acrescente a manteiga em temperatura ambiente e os ingredientes secos aos poucos batendo até misturar bem. Acrescente as sementes de papoula e as cascas de limão, mexa mais um pouco e coloque nas forminhas (de preferência, já forradas com forminhas de papel; senão, deve-se untar com manteiga). Leve para assar em forno moderado (180oC) por cerca de 25 minutos. Misture os ingredientes da calda em uma panela e leve ao fogo baixo, mexendo somente até derreter o açúcar. Quando retirar os bolinhos do forno, pincele a superfície com a calda. Deixe amornar e sirva. Rende cerca de 14 muffins.

Um P.S. meio longo: encontrar as sementes de papoula está muito difícil hoje em dia. E o motivo não podia ser mais estúpido. A fiscalização brasileira não permite mais a importação do produto alegando que ela poderia ser usada como alucinógeno. Non sense: as sementes culinárias não são germinadas e por isso jamais poderiam dar vida a uma plantação de ópio-que-passarinho-não-bebe. Sem elas o bolo ainda fica bem gostoso, mas sem o "twist". Agradeça à cretinice da vigilância nacional.


Esses são os primos de mirtilo. Um dia posto a receita desse - que a Sabrina adora porque o mirtilo estoura no cozimento e "fica uma melequinha gostosa"

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Que a Força esteja com a mãe dele

Meu video preferido dos últimos tempos, ainda que seja uma propaganda de automóveis - porque, falar pra vocês, eu sou dessas que caem em QUALQUER gracinha marketeira feita com crianças humanas e filhotes de animais. Ainda mais quando mistura isso com Lord Vader. Coisa de gênio (e gênio com filhos, provavelmente).

domingo, 13 de fevereiro de 2011

O que ela faria?

Amargando um belo período de repouso pós-doença, Sabrina tem tempo pra sentar do lado, ver filme, descansar. E papear, coisa que eu mais adoro. Anteontem, por exemplo, nos fartamos de rir com "Esqueceram de Mim" no DVD com suco e pipocas. Daí, né, vem a prosa:

- Sá, o que você faria se ficasse que nem o Kevin, sozinha em casa?

- Eu teria um trabalhão pra cuidar da Olívia...

- Não, Sá, sem a Olívia. Se a mamãe e o papai saíssem com a Olívia e te esquecessem aqui, que nem no filme?

- Bom... eu ia ver TV, pular na sua cama e... comer salgadinho!

- Sei, sei. E ia viver de salgadinho tanto tempo?

- Não... Eu também podia ir na geladeira e descongelar um ovo frito pra comer! E se passasse muito tempo, eu podia ligar pra vovó pra ela vir me salvar. Ou sair e ir na casa da Marina (amiga e vizinha de prédio). Aí eu esperava lá até vocês dois finalmente lembrarem que me esqueceram aqui.

Como se vê, o plano está todo traçado. Como será o "descongelamento de um ovo frito" eu desconheço. Mas "Sabrina Alone" daria um filme e tanto, certeza.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O fino véu entre céticos e crentes

De nariz empinado, eu sempre me disse a maior ceticona. É sério e rijo: eu não acredito em reencarnação, eu não acredito em ETs, eu não acredito em visitas de almas do além, eu não acredito em duentes. Eu não acredito no monstro de Lock Ness, mas bem que eu queria que fosse verdade. E eu queria acreditar em fadas porque, óim, são tãão bonitinhas! Mas só acredito nas fadinhas da Disney mesmo. Só que daí, né... bom, o ceticismo, eu acho, sempre resvala em alguma parede, em algum momento, pra todo mundo.

Demorou, mas eu descobri o meu momento. E quando ele acontece, eu me pego acendendo vela, caindo de joelhos, chorando e soluçando e pedindo à Maria, a mãe de todas, que zele por nós, por favor, por favorzinho! Faço qualquer negócio.

Esse meu momento é quando minhas filhas adoecem. Tenho tanto medo de perder essas meninas pra uma doença grave que, a um sinal de febre, começam os tremeliques. Fico nervosa. Fico arfando. Fico atazanada e perco a noção. Não deixo de me recompor, porque afinal elas precisam é de um adulto de cérebro operante, não de uma louca em pânico, mas fico assim, baratinada. E aí eu me pego com... com... com "um outro lado", vamos dizer assim.

Não tenho medo de confessar, eu ainda não acredito em Deus. Não na versão oficial de Deus, pelo menos, aquela sobre um homem de roupão branco, sentado na nuvem, anotando pontos positivos e negativos num caderno e botando pra quebrar nos não-crentes de Sua pessoa. Minha versão de Deus é humana. Deus vive dentro de nós, é apenas uma voz interior que sabe separar certo de errado, que têm uma consciência coletiva e pode sim, com a força dos braços e da mente unidas, operar reviravoltas nunca dantes imaginadas. Nós somos deuses, se a gente agir de acordo.

Acredito que Deus é aqui e é agora. E a forma que encontrei pra me comunicar com esse momento, quando bate um desesperozinho, foi falar com Maria e confiar nisso. Maria foi a mãe de Jesus e, ao que consta à História, sofreu pra um cacete. Como mulher, como mãe e como cidadã, não teve momento pior, teve? Pois se ainda assim ela segurou, peço que me ajude a segurar também - ainda que por motivo muuito menor. Acho na verdade que Maria vive em mim apenas - sou eu falando com meu interior, com a minha auto-confiança, com meu equilíbrio, e não exatamente com uma mulher que viveu há 2 mil anos. Que seja. É o meu momento.

É um pouco chato quando junto as mãos e converso e acendo uma vela pra ver a luz e vem um dizer "ué, mas não é você a supercética?". Sinto um tom de ironia quase cruel? Fazer o quê? Eu continuo não acreditando que a gente morre e entra na fila de espera pra nascer de novo, mas acredito na vibe. Sabe a vibe? Pois é, a vibe.

Quando a gente foca, seja no que for, as ações acompanham. Essa é a vibe. Posso firmar o pensamento aqui e acreditar que, sim, ajudou minha amiga que mora lá longe só porque ela soube que tinha alguém compartilhando a dor com ela. Posso desejar muito um acontecimento e, por obra minha mesmo e da gana mental, vê-lo concretizado. E posso, sim, tentar usar uma boa vibe pra acreditar que as minhas meninas vão melhorar do que as aflige.

Ser muito cética, enfim, não me impede de ter esse momento de fraqueza e, nele, ficar meio espiritual. Porque quase nada, eu aprendi, precisa ter uma resposta só.


Nem que seja só pra ver na escuridão...

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Por quanto andam te comprando?

Tá, a pergunta pode parecer meio grossa. E é mesmo. Não que eu esteja dizendo que você se vende, assim, no sentido vil da palavra. Mas a verdade é que a única que se vendeu e ainda se deu bem com isso foi a Julia Roberts em "Uma Linda Mulher". Calma, eu não estou chamando ninguém aí de mulé da vida, não é nada disso.

Mas é que o trabalho é isso aí, no fim, uma troca de determinada atividade por uma soma em dinheiro. A atividade pode ser intelectual, braçal, não importa: tudo é uma questão matemática simples de horas trabalhadas versus bufunfa recebida. Claro e lógico. Só que hoje parece que não basta mais! "Pode acrescentar na conta a sua alma também?", dizem calados os patrões.

Ninguém que eu conheça e está com a vida profissional na ativa trabalha menos de 8 horas. Há, 8 horas?! Seria algo como entrar às 9h e sair às 17h, é isso?! Inexiste. Só conheço quem trabalhe 9, 10, 11, 12... até umas 14 horas por dia. Alguns param para um almoço de hora, hora e meia - mas considerando que usam esse break ou para fazer negócios, ou para falar mal do trabalho, nem conta, conta?

Alguém de RH podia me explicar como é que isso ficou assim. Primeiro, era o trabalho em si. Passou muito tempo, virou o trabalho em si, mais o trabalho extra, mais uma coisa ou outra para levar pra casa em dia útil, depois no fim de semana, daí vieram viagens de business, eventos, jantares e aqueles dias de... como é o nome daquilo, quando levam um bando de gerentes pra fazer tirolesa e rapel com a desculpa de desenvolver trabalho de equipe? Bom, não sei o nome. Deveria chamar "trote".

E é hora de trabalho que não acaba mais! Se você termina o seu e apanha a bolsa às 18h30 em qualquer escritório, dá a impressão que será metralhada pelos olhares de reprovação. E não só olhares dos chefes, mas dos colegas também! Devíamos estar mais unidos em prol de "oi, eu não sou só uma foto horrenda no crachá, eu tenho vida".

Devíamos pensar melhor em muitas coisas. Por exemplo, que nossos filhos mereciam que um pai levasse na escola e outro buscasse; que houvesse tempo verdadeiro para o almoço e um café decente, sem pedir sopa porque é mais rápido engolir; que quando houvesse uma emergência, tivéssemos a compreensão da empresa para uns dias de ausência; que não se torcesse nariz para consultas médicas, mudança de casa, esperar o novo armário da cozinha... Porque, né, como receber o homem da Casas Bahia em horário comercial se no horário comercial a gente está com a bola de ferro no pé?

Eu desconfio que, sim, as horas trabalhadas cairiam de 14 para umas 7. Mas desconfio também que, daí, as pessoas trabalhariam realmente focadas naquilo, com a bunda na cadeira de corpo presente - e não olhando vidrados pra tela luminosa enquanto pensam no filho doente, em casa, sendo tratado por alguém que não é sua mãe. Desconfio que seríamos mais produtivos mesmo em menos horas, enfim. E mais felizes também, porque é um saco ficar se sentindo culpado por faltar e acabar se arrastando para a firma mesmo com febre de 39 e possibilidade de infectar todo um departamento.

O pior é que, se a gente bota a conta no papel... xiii! A conta nunca parece fechar bem. Querem a alma, mas não querem pagar por ela - e não que seja bom vendê-la mas, sei lá, se for esse o caso, pelo menos que façam uma avaliação justa numa alma humana em bom estado, com pouco uso, potência em alta...

Agora, quem quer fazer uma conta de fato, esqueça o "Horas X Grana" e conta aqui: cada ano tem 52 fins de semana. Mesmo os mais jovenzinhos poderão checar aí, com lápis e papel, que até o fim da vida temos cerca de... no meu caso, chuto uns 2.600 fins de semana. Mixaria, hein, pra ficar desperdiçando com trabalho?