terça-feira, 10 de maio de 2011

Uma idade inconveniente

Ela tem só seis anos. Não tem 16 pra saber como ter um papo da hora, não tem 26 pra saber se expressar com clareza, não tem 36 para filosofar com consciência, não tem 46 pra tergiversar sobre o tempo, não tem 56 pra comentar sobre política, economia e a novela. Ela tem só seis anos - e fala as barbaridades dela, uai. Taí uma coisa que eu compreendo sobre as crianças.

A Sabrina é uma menina boazinha. Não é por ser minha filha, não, mas ela é mesmo um doce de criança. Emburra quando recebe o "não", mas atura sem birra; não se joga em chão de shopping center nem atira comida do prato em restaurante; é comportada, agradável, engraçada... Ok, vai ver é porque é minha filha mesmo e só eu vejo tudo isso junto.

Os demais acabam vendo outras coisas. Acabam vendo quando ela interrompe 19 vezes a conversa dos adultos. Vêem também a manipulação do "se a mamãe não deixa, deixa eu perguntar pro papai". Vêem ainda que ela quer chamar a atenção sempre que pode, com truques de mágica, piadas insanas e toda sorte de estratégias.

É uma idade muito, muito inconveniente, esses seis anos. Eu sei, porque eu era assim! Ia com a minha mãe na manicure e, enquanto ele dizimava cutículas, eu abria e checava e fechava cada mísero vidrinho de esmalte presente no recinto. A manicure com certeza queria me abater a golpes de alicate.

Ia na casa da minha tia e mexia em absolutamente todos os bibelôs caríssimos dela. Ia ao mercado e sumia por entre as gôndolas. Ia fazer compras e passava metade do tempo pedindo pra beber água e a outra metade pedindo pra ir ao banheiro.

Eu dizia tudo que vinha à mente também. Contava pros parentes coisas como "todo sábado minha mãe dorme até às 11h" (quando na verdade isso só deve ter acontecido umas três vezes em todos os anos de vida da minha mãe). Cornetava coisas ao leo - e tinha aquela mania linda de criança de atender o telefone e lascar "minha mãe não pode atender porque tá fazendo xixi".

A Sabrina é como toda criança dessa idade, testando os limites, procurando espaço, desejando fazer parte, implorando por consideração... Normal, hein? Conheço gente adulta que faz o mesmo e nem tem a desculpa da pouca idade! E nem é fofo!

Quando ela dá um forinha, eu faço uma cara de "oi, assunto errado" - coisa que ela nunca entende e acaba gerando o embaraçoso "que foi, mãe, por que essa cara?". O que funciona melhor é deixar quieto e depois, a sós, voltar delicadamente no assunto e dar um dica de postura. Tem que ser com a manha e fofinhamente, senão ela fica avexada com efeito retardado. E isso é péssimo, porque ninguém quer saber que vacilou em público - mesmo aos seis anos, pode ter certeza.

Mas eu ainda acho esse jeito de criança a coisa mais desculpável do planeta. Chateia um pouco saber que outros não entendem e podem achar seu filho meio irritante. Mas cada um de nós só deve precisar de uns minutos pra lembrar de si mesmo aos seis e recordar o rol de impertinências que cometeu.

Conta aí uns seus. Eu desculpo se você também desculpar!

17 comentários:

Paula Baltazar disse...

Ah, eu acho que a Sabrina é a criança de 6 anos menos irritante que eu conheço e que já conheci!
Ela faz as coisas que as crianças fazem, mas é tão obediente e fofa que a gente acaba nem percebendo. ;-)

Eu e meu irmão com essa idade, tínhamos a mania horrível de responder com a educada frase: "não quero, não, na minha casa tem" quando alguém oferecia algo. :-p

Mariana disse...

Eu te entendo demais, porque tenho um espécime da mesma idade em casa. Já passei por cada embaraço no elavador que até Deus duvida!

Patricia disse...

Quando eu tinha meus 6 anos, eu ficava muda na frente de estranhos, quietinha e sentadinha. Isso porque minha mãe, antes de sair de casa ou de chegar visita, passava um sermão enorme. E se eu falasse um "a" inconveniente, ela me olhava torto e eu morria de medo.
E isso é terrível! Eu cresci muito insegura por causa disso.
Eu acho que essa fase inconveniente passa naturalmente, não é preciso ficar 'moldando' tanto assim a criança. Tudo se resolve com uma conversa de boa. Isso no mundo das crianças que receberam uma educação legal, claro.

Hahahahaha, essa da Paula-criança é o máximo. Achei muito esnobe :p

Sócia da Light disse...

Paulinha, vocês eram mesmo esnobentos, desculpa falar. Mas a Sabrina já fez igual! Rss!

Mari, o negócio é sorrir e acenar, viu. Vai acontecer mesmo, o negócio é se divertir. :-]

Pati, eu acho que tem um bom meio-termo: nem avacalhar a criança pelo comportamento nem deixar falar tudo que quiser. Porque senão também vira uma moda, viu, essa de ser inconveniente. E, além do mais, eles só fazem assim porque não conhecem certas ondas sociais. Cabe a nós, mamis e papis, sermos os guias. Mas com carinho, nada de ralo porque disse pra professora que ela estava com o cabelo desgrenhado (sim, a Sabrina já fez isso também). :-D

Dri_ disse...

E aqui aprendi o que devo dizer ao meu cunhado que já nasceu com 30 anos. Não que ele aprenderá quando tiver filhos (porque acho que não os terá, afinal eles não nascerão com 30 anos), mas lembrá-lo que mesmo não parecendo, ele também já teve 4 anos, como o meu Pequeno.

Anônimo disse...

Aqui achavamos que o campeao era o Filisbino, qualquer estranho sabia que o pai tinha mais de 14 anos de diferenca da minha idade e o povo o olhava como se fosse um pedofilo. mas ai nasceu Vicky...Eu nao sei nem como comecar.
Mas vou logo dizendo que a Paula 6 anos era de matar hahahahaha

Mica Mancada

Suellen disse...

Eu, com exatamente seis anos, contei pra minha coleguinha da pré-escola que o coelhinho da páscoa não existia, que minha mãe tinha garantido que era lorota. Então ela ficou acordada na véspera esperando os pais colocarem os ovos na beirada da cama, e deu um susto neles, dizendo "bem que a Suellen falou!".
E na segunda-feira a mãe dela foi tomar explicações da minha, por ter estragado a "magia" rsrs

Meja disse...

Crianças são pessoinhas muito, muito bacanas. Perde quem não entende tudo isso.
Bom, quando eu tinha uns seis ou sete anos, meu pai estava lavando o carro, tinha uma vizinha perto conversando com e ele. Cheguei e não pensei duas vezes, mandei a pergunta: "pai, o que é camisa de vênus"?
Ele quase desmaiou! Eu tinha acabado de ver uma matéria sobre Aids e ficou a tal camisa martelando na cabeça. Coisa de criança!

Marcelo disse...

Essa do telefone, eu já fiz, e pior! Disse que minha mãe não ia atender porque tava fazendo cocô...

Lene disse...

Oi, Flávia! Eu costumava acompanhar você e as meninas na época do Garotas que Dizem Ni. Faz pouco tempo que encontrei o seu novo blog e passei a acompanhar tb. Adorei, pois eu gosto muito da sua forma de escrever, sempre leve, divertida, como se fosse uma conversa entre pessoas que se conhecem há tempos. Tenho um blog também, coisa bem pessoal, para expurgar os meus demônios: http://tobege.wordpress.com

Anônimo disse...

Quando pequena eu era exacerbadamente tímida e insegura, e por isso falava pouco. Era mó quetinha, mas também não livrei minha mãe de alguns constrangimentos, como falar pra vizinha que a comida dela era infinitamente mais gostosa que a da minha mãe (cozinhar nunca foi um talento da nossa família, mas minha mãe ficou muito magoada com a afirmação e eu fiquei mal) e perguntar a uma conhecida barriguda (de gordura) de quantos meses ela tava grávida (mas aí a culpa foi da minha vó, que me confundiu).
Com a história da suellen eu lembrei também que desde que me entendo por gente nunca acreditei no papai noel (minha mãe não sabe quem me contou a verdade). Eu tinha uma amiguinha muito mimada e fresca, e nos nossos 5 anos acabei com a ilusão dela falando a verdade. Ainda lembro dela chorando, esperneando e batendo os pés no chão, gritando que eu era uma mentirosa, que o papai noel existia sim... rsrs
Beijos, Sara.

Beolina disse...

Segundo relatos de minha mãe, qualquer homem que se aproximasse dela ou qualquer mulher que se aproximasse do meu pai ouvia de mim um "você sabia que meu pai é casado? é, com a minha mãe. e ela trabalha no hospital e é chefe de um monte de gente lá, você fica muito doente?" ou "você sabia que minha mãe é casada? e meu pai é bem grande e bem forte. mais forte que você." bastava eu não conhecer a pessoa pra soltar essas. Ciumenta, eu?

Sócia da Light disse...

Oi, Lene!! Que bom você ter me achado de volta então! Vem sempre, viu? Eu vou lá "ficar bege" também. Rss!

E se quiser ir mais além, essa que vos escreve (e como escreve, que puxa...) tem também um blog sobre turismo agora: www.lugarnajanelinha.blogspot.com.

Um beijo!

PS Suellen e Sara: porra, que tramela solta vocês têm! Eu, quando descobri sobre o Noel, guardei segredo porque não sabia se meus irmãos (900 anos mais velhos que eu!) sabiam. Há! :-]

PS Beolina: isso é que é demarcar território desde cedo, benzadeus! :-D

Anônimo disse...

Hahahah, lia o texto e parecia eu falando da Sarah.

Essas Sassás...

Beijos Flá!

Adri Norris.

Grace Simpson disse...

Eu era mto inconveniente, e estes dias minha mãe tava contando pra todo mundo de quando eu estragava as surpresas! Uma vez minha mãe comprou um relógio lindo pra dar de presente pro meu vô, na hr em que ela entregou a caixa na mão dele, antes dele abrir eu soltei: É um relógio!! rs rs rs E eu sempre fazia isto, e minha mãe prometia palmadas que nunca vinham!!

Mariana Zanini disse...

Flá, concordo muito quando você diz que é preciso explicar, mas sem reprimir. Eu sou exemplo de como uma criança MEGA inconveniente pode se transformar numa garota (aparentemente) normal e (quase) educada. :-D

Entre as várias que eu já soltei, a mais clássica foi esta: minha irmã tava de namorico no portão, quando eu, com uns 6 anos, cheguei do lado dela e do namoradinho e fiquei quieta, só olhando. Quando ela perguntou o que eu estava fazendo ali e me mandou pra dentro de casa, eu respondi, numa cara de pau imensa: "Nada, não, só vim aqui soltar um peidinho". :-D

Paula, não ofereço mais nada pra você, sua esnobenta!

RobertaUe disse...

Meu pai conta que quando meu irmão e eu éramos pequenos e chegava algum vendedor na janela de casa minha mãe dizia para nós, nanicos: "Fala que eu não estou!". A gente dizia para o vendedor: "Mamãe pediu para dizer que ela não está!". Mal o vendedor virava as costas, a gente já gritava: "Mamãe ele já foi embora!". Kkkkkkkk!