terça-feira, 21 de junho de 2011

Dependência de empregada

A semana passada rolou em cima de um assunto que eu achei curioso. Falavam por todos os lados das novas regras trabalhistas para empregados domésticos - que agora terão direitos que outros trabalhadores já tinham, como férias, décimo terceiro etc.. Pasmei um pouco porque eu achava que, uma vez registrada, a empregada tinha tudo isso. Tinha nada. E ainda houve "patroa" entrando em pânico dizendo "aimeudeus, e se ficar mais caro pra eu ter a mocinha aqui todo santo dia???". Paga mais, uai. Força, vai... Inspira, expira, inspira... São só regras que já deveriam existir há muito, muito tempo.

Em geral o serviço prestado por essas moças (em geral são mulheres mesmo, que homem parece não topar com balde e rodo nem como profissão) envolve um esforço físico brutal, cuidados com cama, mesa e banheiro, cuidados com a criançada, funções de secretária e outras coisitas mais. Botasse um diretor de multinacional pra fazer a coisa toda com o mesmo salário de CEO, ele sairia correndo e gritando. Mas as moças fazem tudo. E tinham nem direito a FGTS.

Vai a gente, gente de escritório, ficar sem FGTS... E olha que a vida profissional de uma pessoa no escritório muitas vezes pode avançar até os 70 anos. O desgaste físico sofrido pelas empregadas deveria dar a elas aposentadoria mais antecipada que pra jogador de futebol. Eu bateria um bolão até os 40, mas não teria força pra encerar chão até essa idade.

Aí que todo mundo há de concordar com tudo isso, claro. Até que a coisa aperta pro lado da "patroa". Xiii... quando aperta pro lado da "patroa" ela fica desconcertada. Fica com dúvidas, ela fica nervosa, ela fica manhosa, ela ameaça mandar a moça embora porque vai custar demais... Mas não manda, viu. Porque tem gente com dependência de empregada.

Eu tenho amigas queridas e algumas conhecidas que sofrem disso aí. É questão de costume, acho. Acharam uma boa alma pra arrumar camas e passar roupa, lavar panelas e bater tapetes, cuidar dos pimpolhos e até cozinhar um feijão dos deuses. Facílimo acostumar com isso! A vida fica mais ajeitada e organizada quando a empregada dá conta de tudo e mais um pouco. Mas não pode abusar, hein? Senão, quando acaba, vem a abstinência de empregada.

Uma das minhas amigas mais queridas me dizia outro dia que a rotina dela anda tão louca, mas tão louca, mas tão louca que ela nem pode pensar na possibilidade de alguém da família ficar doente. Se isso acontecer, danou-se. Principalmente se a empregada ficar doente. Aimeudeus, se a empregada ficar doente, f* tudo!

Muita calma, gente. A empregada às vezes fica doente. E às vezes não fica, mas fica o filho dela ou o marido, e ela precisa cuidar. Ou ela perde o trem. Ou não tem trem. Ou ela precisa de um descanso e tira férias. É a vida, ué! A vida dela! O mundo não vai acabar, eu prometo.

Tem gente que, quando a empregada não está, sabe nem onde encontrar a faca de pão (ou o caminho da lavanderia). Outros entram em delirium tremens por não saber o que fazer com o próprio filho. E há quem telefone em desespero pra agências especializadas caçando uma folguista. O mundo não vai acabar, eu prometo.

Eu sei que a vida de todo mundo ficou esquematizadíssima e, quando sai algo do prumo, dá aquele pânico. Eu sei que é fácil pra mim falar, porque eu trabalho em casa e... oh wait: na verdade, pra quem trabalha em casa e precisa cuidar das crianças e olhar o arroz e entrevistar uma pessoa e atender a porta e a empregada que vem uma vez por semana falta... ah, que se dane, vira tudo uma zorra mas a gente sobrevive, viu? Come um quadrado de chocolate meio amargo, entorna um copo de tubaína e segue o jogo.

Acho que usar os serviços da moça é válido e útil, assim como respeitar os direitos dela é imperativo. Mas a relação não precisa virar essa dependência de amor adolescente. Um conhecido ficou horrorizado comigo outro dia porque eu disse que ter ajuda uma, duas vezes por semana vá lá, mas que eu achava exagero necessitar de empregada todo dia, das 8h às 18h, rebocar a moça consigo pra almoçar fora aos sábados e quiçá levar junto como apoio nas férias. Ele disse que era impossível ele e a esposa cuidarem da casa e das duas crianças sozinhos. Eu digo que nada é impossível e que, sei lá, cada um com seu cada um, mas então eu acho que essa empregada dele deveria ganhar R$ 8 mil por mês.

Bom ter ajuda e tals, mas fazer sua vida depender da existência de outra pessoa e ainda ratear pra pagar o que ela merece? Menos, vai. Um dia ela pode até arrumar outro emprego melhor e se mandar pra sempre, sabe? Calma, eu sei, é uma realidade dura. Calma, calma, eu não quis dizer isso... Inspira, expira, inspira...

9 comentários:

Marcelo disse...

É pura obrigação dos pais darem conta dos filhos que põem no mundo. Sempre achei absurdo esse costume classe moyenne de precisar de cuidadores 24h pros rebentos. Valha-me Deus, tem gente que não tem competência nem pra cuidar de samambaia tendo criança. Você não precisa passar num teste pra ser pai (outra do Calvin), mas deveria.

Nanael Soubaim disse...

A nossa tem todos os direitos e esquerdos garantidos. Sem ela até nos viramos, eu ao menos estou acostumado com pedreira, mas a Nilva é uma mão na roda; e come conosco à mesa.
Se nós, funcionários públicos assalariados, podemos garantir esses direitos, então qualquer classe média que não tenha "r" no meio consegue.

Anônimo disse...

É dependência mesmo, nossa senhora. Eu conheço uma família bem assim com a babá. Uma vez viajaram a mãe, o pai e a avó do menino de 2 anos. Aí você pensa que TRÊS pessoas conseguem dar conta de uma criança, né? Mas a babá foi junto e conta uma outra pessoa que estava lá também que a coitada só descansou nas horas de dormir, que até as idas ao banheiro foram alvos de olhares indignados, porque "COMO ASSIM VOU TER QUE FICAR COM MEU FILHO/NETO SEM AJUDA POR CINCO MINUTOS?".

Ana

Anônimo disse...

Eu sei que se um dia eu voltar eu nao vou ter empregada, fiquei anos cuidando de 4 creoncas sozinha, lavando, cozinhando, passando mas confesso q hj em dia eu faco muito mas muito menos, eu cozinho quando quero, eu nao passo nada, eu lavo e eu arrumo menos q eu arrumava antes. Ta bom assim. Agora quem tem , precisa entender que eh como outro emprego qualquer. Meu ex-amado-sogro ja fazia tudo isso 25 anos no tunel do tempo, eu ate achando que elas tinham direito a tudo isso tbm. Afe !
Mica Mancada

Dri_ disse...

"Empregada só dá despesa!"

Frase ouvida por mim, quando avisei à ex-patroa madame que precisava comprar o vale-transprte da arrumadeira e da cozinheira (colaboradoras há 15 anos, a cozinheira ainda tinha o INSS, mas a arrumadeira (que era babá e foi promovida)só o salário).

Quando as moças se rebelaram e saíram, a madame ainda se disse traída...

Dri_ disse...

Flávia,

você ainda deve um texto sobre a moça de branco, lembra?

Pati disse...

Pois é... Acabo de ter um bebê aqui no Canadá. A realidade por aqui é oura, não há nem babá nem empregadas. E todo mundo sobrevive (eu inclusive!). Tem alguma coisa torta nessa dependência toda, né não?

moniquinha disse...

Ai,que nojo de ouvir as lamúrias
de um povo que diz não viver sem uma empregada e tratá-las pior que bicho(não que bicho não deva ser bem tratado)..aff

Me acabo,mas dou conta de 3 filhos,casa,comida/roupa e nas horas vagas,ainda trabalho!!
bando de gente folgada!!

Spaf disse...

Empregada pra limpar a casa, pra quem não tem tempo de fazer isso até acho válido, mas esse negócio de babá 24h é palahaçada.
Povo só quer botar os filhos no mundo, mas não quer criar depois...