segunda-feira, 21 de março de 2011

Procura-se um médico de família

Procura-se um médico sábio, que entenda de tudo quanto é doença e esteja sempre à postos.

Procura-se um médico já com alguma experiência, mas não um matusalém que já se encheu o saco de humanos e não tem mais paciência de ouvir uma reclamação de dor.

Procura-se um médico que faça consultas de mais de 5 minutos - porque eu gosto de profissionais que levam 5 minutos apenas nos cumprimentando, perguntando da família, do trabalho e do lazer. Porque, eu acho, tudo isso influi na nossa saúde e assim ele tem um embasamento de fato.

Procura-se um médico que, por outro lado, não tenha um consultório abarrotado onde você chega às 14h conforme combinado previamente, mas a patricinha que marcou encaixe às 12h e apareceu 14h15 passa na sua frente. Enfim, procura-se um médico que marque um consulta por cada meia hora, sei lá, e respeite a fila. Ou marque a cada uma hora, que seja. Médico não devia ser drive-thru, oras.

Procura-se um médico que examine com atenção, afinco, concentração. Procura-se um médico que use mais do que um palito de madeira molambento como método de análise - e que não saiba só dizer "ah, é uma inflamação, toma aqui esse antibiótico por 7 dias e some da minha frente". Mesmo que não diga a parte final.

Procura-se um médico que peça exames com critério, que administre pílulas com parcimônia e, principalmente, que não nos trate como imbecis. Que fale, explique, desenhe se for o caso, mas diga certinho o que há de errado, porque aconteceu, como consertar e um modo para que não ocorra de novo.

Procura-se um médico que atenda pelo plano, mas não fique desgostoso pela ninharia que recebe dessas merdas dessas empresas de seguro e nos atenda porcamente por causa isso. Ou procura-se um médico que, rebelde, não atenda os planos então - mas cobre o justo, dê recibo e faça por merecer.

Procura-se um médico que atenda o telefone nas emergências (e não com voz de ódio, preferencialmente). E se não puder atender, porque médico também é filho de Deus e a gente respeita isso, que retorne a ligação. Retorne breve, não cinco dias úteis depois que a criança já sarou, tá?

Procura-se um médico gentil, amável, tranquilo e consciente, que não faça apostas e nos deixe de cabelo em pé para depois o exame mostrar que não era nada tão grave. E, se for grave, que seja ainda mais doce para seguir em frente conosco.

Procura-se um médico esperto e inteligente, que use de técnicas modernas e também veja o poder que tem o chá da vovó em certas horas. Um médico que não saiba só do que é seu, mas possa também cruzar informações e descobrir quem é a alergia, de onde ela vem e para quem trabalha - e que não receite a mesma pomada inócua 50 vezes.

Procura-se um médico sabido, não sabichão; sério, não sisudo; eficaz, não fascinado pelas viagens-prêmio dos laboratórios e que joga qualquer raticida na nossa goela.

Ao procurar, me dizem que eu quero o impossível. Que isso antigamente se chamava "médico de família", que conhecia as pessoas, visitava em casa e resolvia de indigestão a unha encravada. Que isso não existe mais e que o negócio agora é ficar feliz por não ter uma perna amputada sem necessidade. Mas eu não me acostumo com pouco. Ainda sonho com um bom doutor que queira ajudar porque se importe e porque prometeu fazer isso. É vocação mesmo, tratar da saúde alheia. Eu espero que eles todos ouçam esse chamado, então.

10 comentários:

Guilherme disse...

Você precisa ter um médico NA família.

Eu tenho duas, e quando não é da especialidade delas elas indicam ex-colegas de turma que nos tratam dessa forma pela referência.

De repente tá aí uma futura vocação pra Sabrina ou Olívia se você tiver sorte. Ao menos na aposentadoria terá uma doutora particular na família.

=)

Sócia da Light disse...

Hahaha! Ok, Guilherme, até que parece uma boa sugestão... E tomara que Sá e Oli não puxem a mim então, porque aí só vão querer ser comissárias de bordo, astronautas... Do meu lado só dá cabeça nas nuvens. ;-]

Nanael Soubaim disse...

Lamento, Mamma, mas em quase nove anos de Vigilância Sanitária eu vi poucos médicos, nenhum "de família", a maioria é só balconista de drogaria com diploma de medicina. Mas com certeza há algum escondido, lá no fundo da sala, com medo de ser chamado de trouxa pelos outros.

Marcelo disse...

Tive um médico que atendia esses critérios, lá na minha já longe infância, Dr. Rogério, pediatra.

Hoje em dia, tá difícil. Até achei uma dermatologista bacana, mas de resto, otorrino, oftalmo, clínico geral, todos me dão chá de cadeira e atendem numa pressa dos infernos!

Só mesmo o dentista continua com alguma atenção, mas pelo que me cobra, ai dele se não der!

Chicória disse...

Ai, Flávia, tenho certeza de que muitos assinariam embaixo este manifesto...
É tão ruim estar doente, frágil, dependendo de um médico e este nos atender de forma fria ou então displicente ou pior ainda, grosseira, sem o mínimo de respeito (e além das que já passei na mão de mau profissionais também já ouvi outras histórias de arrepiar os cabelos) que fico imaginando que no vestibular pra Medicina deveria ter uma prova de EMPATIA que valesse ponto, porque olha, tá fazendo muita falta.

Dri_ disse...

E quando caímos nas garras de uma pediatra dos infernos, que vê doença em tudo quanto é célula? E me pede um exame, não explica o porque e o pra que dele, aí descubro que NENHUM laboratório em BH faz, que o tal exame diria se a expectativa de vida do meu filho seria de 30 anos e a medicação gira em torno de 5 mil reais... nessas descobertas todas ela NÃO ATENDE aos meus telefonemas...
Com a graça de Deus e Nossa Senhora, tudo foi psicose da louca (um dos sintomas dessa doença são gripes muito fortes, bronquites, pneumonias. O meu filho NUNCA precisou tomar qualquer antibiótico...)

Denise disse...

Se quiser, eu empresto o meu primo médico bruxo pra vc. De verdade. Ele atende na Vila Mariana, marca no máximo uma consulta por hora e dá o número do celular para os pacientes. E atende quando o paciente liga, claro.

E cá entre nós, nada de acostumar com consulta de 5 minutos. Se a alegação dos médicos para isso é o pagamento ruim, arre, várias cidades pagam excelentes salários para médicos, mas não conseguem preencher as vagas porque nenhum deles se interessa. Ou seja, eles querem mesmo é continuar atendendo como drive thru e garantindo sua boa grana desse jeito.

moniquinha disse...

Olha,estou com a Denise.
Trabalho com médicos e digo que a cada ano fica pior,são pouquíssimos os que realmente gostam da profissão,tem amor,dedicação e compaixão.
E tem mais,por aqui há um médico tudo de bom,não atende convênio, pq gosta é de dar plantão,sáb/dom no SUS mesmo,é chefe,mas trata os pacientes com um carinho que eu perdoo todas suas chatices..rsrs
Adri,
isso que vc passou é falta de competência,os novos
doutores,não conseguem pensar em doenças simples,querem algo grandioso e aterrorizar os pais.uó isso.

Anônimo disse...

Puxa vida... devo estar chegando tarde neste seu blog, mas por um acaso vc costumava "dizer ni" no passado?

Se sim, eu amava os textos de vcs... que bom que achei seu blog, assim posso continuar lendo ótimos textos.

Um abraço.

Tatiana T.

Anônimo disse...

por 20 mil por mês e atendendo apenas 6 pacientes por turno eu me disponho a respeitar os pré requisitos.