quinta-feira, 17 de março de 2011

Só tomando uma

Aí a gente pega trânsito por uma hora cheinha pra chegar no consultório médico e apanhar a guia de exame que a doutora disse que deixaria na portaria do prédio. Aí o envelope, claro, não está - porque, né, o Brasil deve ter algum componente em sua água que faz todos nós ignorarmos o que ficou comprometido.

Aí a gente apanha o elevador com a filhinha no colo (porque a pobre Olívia acaba virando minha mochilinha pra esses passeios from hell), e em seguida o transporte vertical é lotado de gente. Colado à nós, um senhor italianado mei surdo. Em meio a vários "o senhor quer que aperte o seu andar?" e "aperta o sétimo andar por favore, meu filho!", ele puxa conosco o papo mais absurdo em décadas:

- É menina?
- É menina, sim senhor.
- Hã? Menina ou menino?
- MENINA!
- Menino?
- ME-NI-NAAA!
- Você só tem essa?
- Não, tenho uma mais velha.
- Hã? Só tem essa?
- Não, TENHO UMA MAIS VELHA!
- Ah. Quer um menino agora então, né?
- Na verdade eu não sei se vou ter mais filhos, mas eu não escolho sexo, não.
- Hã?
- ...
- Bom, se você quiser um menino, é só tomar suco de limão num dia, suco de laranja no outro, suco de limão no outro e assim por diante. Isso faz a acidez aumentar no útero e vem menino!
- Ah, obrigada pela dica então.
- Hã?

Bom, aí entra na conversa uma fulana ao lado e me solta:

- Hohoho... Que legal! E pra minha filha, que só tem dois "ragátzos", o que o senhor acha que ela deve tomar?

Aí a Flávia responde "Que tal tomar vergonha e parar de ter crianças a valer esperando aparecer aquela de 'sexo certo', hein?".

Mentira, a Flávia não respondeu nada. Só pensou. Mas aí chegou o sétimo andar e Don Corleone desceu, ainda sorrindo, acenando pra mim e dizendo "é tiro e queda, viu!".

PS.: Escalei os andares a toa, porque não havia doutora, secretária ou mesmo, e mais importante, envelope no consultório. Ao chegar em casa, mais uma hora de tráfego depois, cogitei tomar uma tequila - com um twist de laranja ou limão, pra mim tanto faz.

8 comentários:

Marcelo disse...

Não me ocorre nada que dizer senão repetir o meu finado avô, "É cada uma que parece duas..."

Shayenne disse...

Eu acho que não ia aguentar ouvir isso e ficar séria! Mas podemos atribuir um pouco da culpa ao elevador: as pessoas estão num ambiente pequeno, quente e fechado [o que faz o cérebro delas fritarem], acham que precisam falar algo porque tem outras pessoas no recinto e acabam perdendo a oportunidade de exercer o direito de ficarem caladas.

...E a conversa teria ficado bem mais interessante e engraçada se você realmente tivesse falado o que pensou! =D


Beijo.

Chicória disse...

É, só levando na brincadeira mesmo... Às vezes a idade traz sabedoria, mas às vezes também...

Dri_ disse...

Engraçado como certas pessoas desfazem da própria imagem, não?

Não honrar a própria palavra e num compromisso a princípio tão simples, queima o filme viu...

Pior é quando dão uma desculpa super esfarrada... a secretária esqueceu, eu tava tão ocupada... ódio!

Nanael Soubaim disse...

Para gente surda, uso os termos mais curtos possíveis. Para quem quer dar palpites na minha vida, uso de civilidade e silêncio. Para quem falta com o compromisso, uso a concorrência.

Ivana Martins disse...

É cada peça rara que a gente vê, né? HAHAHA :*

moniquinha disse...

Putz!!!!

bizarro!!,a gente passa por cada situação qdo estamos c/ bebês,né não?Daria até um livro!rsrs

Qto à médica...tsc tsc..vai a gente esquecer algo....grrr

Fabio disse...

Ahaha...ótima!