segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Vai, fala na cara!

Abaixo os murros de punho fechado na parede, as cutucadas com vassoura no teto, os pulos insanos no chão pra ver se o fulano do andar inferior se toca e abaixa o volume dos gritos futebolísticos. O melhor, com vizinho incômodo, é falar na cara. Sério mesmo.

Minha experiência me diz que toda a fanfarra para “demonstrar descontentamento” não dá em nada. No máximo, deve resultar em uma risadinha de canto de boca do humano barulhento. Mas até parece que a maioria das pessoas vai ouvir os batuques de aviso e pensar “ui, acho que exagerei, melhor cessar com os sons tão bruscos que obviamente estão atormentando meu nobre vizinho”. Mais fácil o Nicolas Cage fazer um filme bom.

Mas há, sim, um jeito infalível de mostrar seu repúdio aos vizinhos, digamos, sonoramente expansivos. Vai lá e reclama. Isso aí, deixa a vergonha de lado! Vergonha, na minha opinião, devia ter a moça vizinha ao meu antigo apartamento, que mal acordava de manhã e já estava com o CD do Roxette a toda...

Numa boa: falar na cara não tem contra indicações. Basta não chegar berrando, botando o dedo da cara ou chamando de inútil, o resultado só tende a ser bom. Um antigo vizinho aqui de baixo, por exemplo, tinha a mania super ananaíra de tocar violão na sacada. Era meio chato quando ele ficava fazendo isso a) até 3 da manhã; b) com partitura do Legião; c) com toda sua turma de 25 amigos incentivando a atividade.

Aí eu passei a fase de xingar internamente, a fase de bater o calcanhar no piso, a fase de planejar ataques ninjas à sacada dele com um balde de piche, milho e pombos. Passei, então, à fase civilizada. Era cerca de 1h15, Dono da Casa em viagem de trabalho, Sabrina morrendo de chorar por estar com sono, mas sem meios de dormir com a serenata de Raul Seixas. Pois foi fácil decidir.

Pijama bonitinho no corpo, chinelo de tia no pé, Sabrina no colo, desci as escadas e sentei o polegar no botão da campainha. André, o menino, atendeu. André levou uns dois segundos pensando “se ela disser que o bebê é meu, nego até a morte”. Aí realizou quem eu era. Com muito jeito, eu disse “boa noite” pra ele e completei: “André, a Sabrina precisa muito dormir, mas não consegue com a música, aí ela quis vir aqui pra te dizer isso”. Ele riu. Depois parou de rir e nunca mais tocou na sacada, tão alto e com 25 amigos.

Falar na cara é sempre melhor do que se indignar sozinho. O punho dói menos devido à economia de murros na parede – e a cara de pastel dos barulhentos é digna de foto.

12 comentários:

Anônimo disse...

Nossa Fla, queria eu ter esse sangue frio. Ano passado a vizinha de anos que morava na casa atras da minha se mudou. Depois de 2 meses a casa foi alugada ou vendida. Depois de uma reforma chata e barulhenta, mas ate suportavel os vizinhos novos apareceram. Meo Deos! Nao me leve a mal, eu AMO crianca, mas mal educada e birrenta eh dose de aguentar. Fiquei semanas acordando as seis da manha, porque a menina de uns tres anos gritava a torto, e a direito, esquerdo, todas as direcoes possiveis. Ja o irmao dela parecia mudo. Mas O MELHOR eh que ela se chama Paula. Entao alem dela ficar chorando e esperniando de "madrugada" eu ainda ficava ouvindo me nome sendo berrado na mesma altura pela mae e avo dela. DELICIA! Eu, que sempre evito a todo custo qualquer tipo de confronto fiquei na fase dos xingamentos internos. Ja meu vizinho nao aguentou e numa manha quando, sei la porque, nos acordaram com um putz-putz que ultrapassava o nivel de decibel saudavel, encarnou o argentino e fez um senhor panelaco. Eu amei! E admirei a coragem dele, alem de entender que ele eh musico trabalha a noite e mais do que ninguem merecia dormir aquele horario. Nao sou a vizinha mais silenciosa e tenho doh da Tereza que divide a parede comigo e tem de aguentar minhas cantorias. Mas deu 10h da noite calei a boca. Para a felicidade geral da nacao!

João disse...

Poderia ter chamado a familia. Nunca chama a Familia. Que fizemos para ter tanto desrespeito?

Unknown disse...

Já estive dos dois lados dessa história tive um vizinho que me acordava todo domingo cedo com o samba enredo da Gaviões, mas minha mãe não me deixava reclamar, tudo pela boa convivência, e em compensação já tive duas vizinhas uma que reclamava da gente andar de manhã em casa outra que além dessa reclamação resolveu cutucar o teto com a vassoura porque estavamos eu, minha irmã e minha prima conversando e andando até a cozinha durante uma partida de buraco às 7 da noite, minha prima tão doida quanto eu me ajudou a levantar a mesa enorme da sala e ficar batendo com ela no chão e com tanta força que até meu lustre tremeu, nunca mais reclamaram da gente e nem é que trotavamos dentro do apê, o problema é que a sala não tinha parede externa, era só uma janela enorme que sempre que se andava na sala ela tremia e fazia barulho.

Nanael Soubaim disse...

O figurino foi perfeito, a argumentação minhoquística certamente contribuiu, mas o contexto me leva a crêr que ele parou de incomodar mais por perplexidade que por sensibilidade.
Mamma Flávia, che saudades do teu humor mau humorado. Um abraço flanelado, minha flor playmobilica.

Mymi disse...

Alguns dos meus vizinhos não ligam pra uma reclamação cara-a-cara. Eles continuam até quando der vontade.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Dri disse...

Sério? De pijamas com Sabrina no colo, com cara de sono e choro?

Adorei!

Lala disse...

Adorei tudo. O Blog e a sugestão. Agora quero conselho. Você acha que eu devo avisar meu vizinho de cima que tomo ciência de todas as suas mijadas? Sugiro a ele que faça xixi mirando a paredinha, porque caso contrário parece Niagara Falls nos meus ouvidos?
Beijo querida, e na Sabrina também, por ter sido submetida à serenata do vizinho badauê.

Flá disse...

Hahaha! Ah, Lala... Eu sugiro sempre o cara-a-cara, mas um cara-a-pipi acho melhor pular, né? Muuuito informação. :-D

Paula Baltazar disse...

Puxa, ainda estou na fase de xingar internamente, mas sinto que na próxima festa em "dia útil" dos meus vizinhos com os clássicos-não-tão-clássicos-assim dos anos 90, irei dar uma palavrinha com eles...
Ninguém merece ouvir Aerosmith até altas horas e ainda encarar o despertador às 6h.

Monique disse...

HAHAHAHAHAHA! Adorei o comentário do João! E não tenho coragem pra falar as coisas na cara. Vira e mexe eu quero deixar um bilhete malcriado na geladeira de casa quanto aos (inexistentes) cuidados com a higiene do banheiro (república - blé) mas sempre perco a coragem pra 'não criar clima ruim'. =/

Patty Maionese disse...

Eu ainda não vivi nenhuma situação tão séria quanto a sua (Legião no violão e muito sério), então só fico reclamando pra mim mesma.

E nessas horas e melhor fazer isso mesmo, ser educado e direto. Não sei se eu conseguiria.